Porto Alegre, recupera tua dignidade

30/07/2020
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Na excelente live (https://bit.ly/3k4K0Lw) organizada na terça 21 de julho pelo professor Jonas Reis, junto com o ex gobernador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, fomos tomados pela saudade. Tarso conseguiu nos entusiasmar ao relembrar com detalhes tudo o que foi feito em benefício da população e da cidade de Porto Alegre pelas Administrações Populares do PT, dirigidas com muita coragem, grandeza e honestidade por ele, Olívio Dutra, Raul Pont e João Verle. 

 

Foram 16 anos nos quais a cidade foi um orgulho para seus habitantes, para o Brasil e para o mundo. Porto Alegre levou ao mundo o Orçamento Participativo (OP) e o Fórum Social Mundial, enquanto construía para seus habitantes saneamento básico, transporte público, educação, ciência, tecnologia e muita cultura. Nesses anos, a dignidade das pessoas, mais do que respeitada, foi valorizada e promovida. Um Outro Mundo é Possível e Porto Alegre mostrava que era verdade. 

 

No entanto, ainda não tinhamos aprendido aquela outra lição infantil do comunismo: a da ingenuidade. A advertência do Chê, que repetíamos, sobre não confiarmos sequer um pouquinho no imperialismo, não tinha sido entendida em profundidade por nós. O capitalismo faz a guerra permanente para preservar seu poder e nós não soubemos levar adiante uma revolução permanente para construir o poder popular na cidade. 

 

Mensagem ou coincidência, o Comandante Chávez que vinha dirigindo a Revolução Bolivariana desde 1999, escolheu Porto Alegre para falar pela primeira vez ao mundo de socialismo. Isso ocorreu poucas semanas depois que a prefeitura de Porto Alegre tinha passado às mãos da direita. Foi no dia 30 de janeiro de 2005, no encerramento do V Forum Social Mundial e nessa ocasião Chávez deixou, entre outras, estas mensagens: a) “o capitalismo deve ser transcendido pela via do socialismo”; b) é possível fazê-lo “pela via do socialismo em democracia”; c) a revolução é o único caminho, “nao há outro”; d) é preciso “dar poder aos pobres para que eles derrotem sua pobreza”, isto é, é preciso construir poder popular.

 

Tendo essas ideias como referência e refletindo sobre o resgate propiciado pelo Tarso e pelo Prof Jonas sobre a cidade que precisamos reconquistar, destaco uma observação feita pelo companheiro Tarso quando criticou a visão da esquerda que orienta seus movimentos exclusivamente pela lógica da ocupação de espaços na institucionalidade embora ele nao tenha esclarecido e/ou reconhecido até que ponto as Administrações Populares do PT também caíram nessa lógica.

 

Ao fugir das velhas práticas antidemocráticas, acabamos por esquecer que governo e poder não são sinônimos. Por isso, enquanto ocupávamos espaços de forma legítima, como consequência de nossas indiscutíveis boas gestões públicas, esquecíamos de construir poder popular. A prova disso foi que, uma vez derrotados nas eleições para a prefeitura, passamos da efervescente participação popular no Orçamentto Participativo (OP) à sua eliminação pela direita de forma “lenta, gradual e segura”. Se o poder popular estivesse minimamente estruturado, o desmonte do OP e das políticas públicas teria enfrentado maior resistência.

 

Após 16 anos de conquistas populares, estas nos foram arrancadas. As esperadas batalhas por Porto Alegre não aconteceram. Isto explica tudo o que aconteceu na cidade até agora? Evidentemente que não. Mas nessa fase agressiva do decadente capitalismo mundial, recuperar e conquistar novos espaços vai depender da nossa capacidade de construirmos novos e qualificados poderes populares que reafirmem a identidade das comunidades, sua dignidade e vontade de lutar para que sua cidade seja parte de um Brasil mais justo, independente e soberano, governado pelos brasileiros que de fato amam sua pátria e não por exploradores sem alma, capazes de se vender e se ajoelhar frente aos Estados Unidos e seus agentes.

 

A Manuela, o Miguel e todos os que no campo democrático e popular procuram se comunicar com o povo, como vem fazendo o professor Jonas Reis, podem e devem a todo momento ter essa questão presente. Levar uma mensagem otimista de esperança que eleve o patamar de consciência das pessoas, construindo "junto com" a verdadeira política, aquela que de baixo para cima constrói os espaços liberados do poder popular.

 

- Anisio Pires é venezuelano, Sociólogo (UFRGS/Brasil), professor da Universidade Bolivariana da Venezuela (UBV)

 

 

https://www.alainet.org/pt/articulo/208198
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