O prêmio da desvantagem colonial no Equador

13/10/2017
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Na premiação Anual de Minas e Dinheiro das Américas (Annual Outstanding Achievement Awards of Mines and Money Americas 2017) o Equador, este pequeno país em termos territoriais, todavia grande em riquezas naturais foi galardoado como uma grande nação mineradora. A premiação ocorreu em Toronto, Canadá. O país foi premiado como “explorador” do ano é outorgado àquele que se mostra mais atraente para investimentos relacionados a extração mineral.

A premiação, que foi notícia em muitos sites, também foi bastante criticada pelos equatorianos e pelos latino americanos que, de um modo geral, sofrem há séculos com o extrativismo predatório. Na internet não faltam notícias de comunidades no Equador que foram desapropriadas em nome do chamado “desenvolvimento” para políticos e empresários.

O que apareceu como uma premiação motivadora de orgulho, na realidade apareceu aos equatorianos como lástima. Qual a vantagem de se considerado um país com grande desenvolvimento mineral quando as exploradoras levam a maior parte dos lucros aos seus países de destino? quando o governo mantém vantajosos plano de interesses fiscais para que estas mesmas empresas continuem explorando sem limites? Uma das empresas Sogold1 que está no país desde 2012 e que explora ouro na área de Cascabel, nas proximidades de Imbabura, região norte, falou por meio do seu representante que o Equador é o melhor país do mundo para realizar explorações. Obviamente que ele não mencionou os 70% de impostos que foram eliminados e que desencorajavam os investimentos estrangeiros no país. Por meio do projeto de Lei Orgânica de Incentivos Tributários2 para vários setores produtivos aprovado por Gabriela Rivadeneira, Presidente da Assembleia em 2016 em caráter de urgência alterando a lei tributária interna como justificativa de garantir os direitos fundamentais da população.

Cabe ressaltar que após a exploração a natureza não se recupera e aqueles que estudaram minimamente o funcionamento do capitalismo sabem da impossibilidade de sua conciliação, enquanto sistema económico baseado no lucro, e o meio ambiente e sua diversidade. Logo, não existe racionalidade no capitalismo, o que pode ocorrer é uma extração “responsável” caso as comunidades afetadas diretamente em conjunto com a população equatoriana que vivem em ares urbanas e que são afetadas pela degradação ambiental, isto seria uma saída liberal ao modo Milton Friedman. Porém como afirma sabiamente Marques (2015), estes e muitos outros liberais que tentam convencer as empresas adotarem medidas mais “sustentáveis” nos seus processos produtivos prestam algum bem a sociedade, por outro lado, não nos enganemos o mercado continua em “autoexpansão” que é o cerne deste sistema.

Como afirmou Alberto Acosta em entrevista ao site “Pichincha Universal3” - Equador não é um país mineiro, os países ricos em recursos são países pobres, levamos mais de 500 anos exportando natureza, desde uma origem colonial que ainda se reproduz.

A América Latina é muito conhecida por suas riquezas naturais, entretanto, pouco faz uso destas benesses para transformar matéria prima sua estrutura colonial na possibilidade de rescrever sua história. Nos limitamos a sermos países extrativistas dos grandes agentes capitalistas pautados na corrupção da vida. Uma burguesia medíocre limítrofe que se curva ao mundo imperial que nos sobrepuja. Equador ganhou o prêmio de melhor país em desenvolvimento mineral e acabou por reforçar o “gene” dos países colonizados que cumprem somente função histórica de exportar sua natureza.

Elaine Santos
Socióloga, Doutoranda em Sociologia na Universidade de Coimbra.

https://www.alainet.org/pt/articulo/188600
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