Maduro substitui principal ministro econômico da era Chávez

18/06/2014
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Jorge Giordani, nome importante na construção da política econômica do falecido presidente Hugo Chávez, já não faz parte do gabinete do presidente Nicolás Maduro. Ministro de Planificação, ele foi substituído pelo então responsável pela pasta de Educação Universitária e ex-ministro de Indústria, Ricardo Menéndez.

A saída gerou repercussão, não somente por Giordani ter estado com Hugo Chávez em quase todo seu mandato, ou por ser um dos ideólogos de sua política de maior controle estatal sobre a economia, mas por um texto, publicado no site Rebelión, no qual faz duras críticas sobre o rumo do atual governo.

Ao anunciar a mudança, na noite desta terça (17/06), Maduro agradeceu todos os anos no qual Giordani esteve ao lado de Chávez, e afirmou que é “um homem entregue com honestidade absoluta”. O presidente afirmou que ele certamente se incorporaria a novas tarefas da denominada “revolução”, e também anunciou mudanças nos ministérios de Alimentação, Transporte Aéreo e Aquático e Educação Universitária.

Apesar de Maduro ter pedido que os substituídos assumam a mudança com “humildade” e “tranquilidade”, o texto atribuído a Giordani mostra divergências internas. Nele, diz que “é doloroso e alarmante ver una Presidência que não transmite liderança, e que parece querer afirmá-la na repetição, sem a devida coerência” de considerações como as formuladas por Chávez, “e no outorgamento de recursos massivos a todos os que solicitam sem um programa fiscal enquadrado em um planejamento socialista que dê consistência às atividades solicitantes”.
 
Sobre o comportamento de instituições como a PDVSA (Petróleos da Venezuela) e o Banco Central do país, Giordani fala que “começaram a aparecer sinais de independência”, ao mesmo tempo em que eram tomadas decisões de gasto público alheio a controle orçamentário, o que agravou a situação financeira do país “submetido a uma campanha desestabilizadora” internamente, e de isolamento externamente.

O ex-ministro afirma ter tido preocupações como a de frear a corrupção com um novo controle de fundos estatais, e a introdução de mecanismos de administração do gasto público. Apesar de admitir que Maduro adotou a medida de criar um comitê que aprovasse o uso de divisas a preços privilegiados para importações básicas, diz que quanto ao gasto público real, “iniciou-se uma nova onda de grandes gastos (...) decididos sem estudo prévio, de fato improvisado”.

O texto classifica a política sobre agentes privados como “confusa” e afirma que as pressões dos mesmos “parecem abrir caminho à reinstalação de mecanismos financeiros capitalistas”. “Sob a luz destes fatos surge uma clara sensação de vazio de poder na Presidência da República, e concentração em outros centros de poder, destruindo a tarefa de instituições como o ministério de Finanças e o Banco Central, e dando como fato consumado a independência da PDVSA do poder central”, expressa.

O autor questiona ainda a ingerência de “assessores franceses” e “improvisação de quadros sem experiência e designações pouco adequadas para a administração de grandes fundos do Estado”. “O que não posso fazer é ser partícipe de outras circunstâncias e decisões nas quais não se atuou de acordo com minha consciência e minhas mais profundas convicções”, escreve, ao fim do texto.
 
Crise econômica

O afastamento do ministro se dá em meio a uma crise econômica, na qual a Venezuela enfrenta um desabastecimento intermitente de produtos básicos e uma inflação anualizada que supera 60%. Em entrevista à emissora Globovisión, o economista Pedro Palma disse que Giordani vinha perdendo protagonismo nos acontecimentos econômicos do país, que seriam na verdade administrados pelo vice-presidente da Área Econômica e presidente da PDVSA, Rafael Ramírez, o ministro de Finanças Marco Torres, e o presidente do BCV, Nelson Merentes.

“Acho que o governo neste momento está muito preocupado com essa série de distorções e de profundos desequilíbrios que vieram se acumulando ao longo destes últimos anos, em matéria fiscal, monetária, cambial, de atividade real, petroleira, inflacionária, e agora estão se perguntando o que têm que fazer para corrigir esta série de problemas tão profundo que temos e não encontram uma resposta simples”, disse Palma.

Desde uma onda de protestos opositores, desatados principalmente em fevereiro e março, o governo se aproximou do empresariado, anunciou pagamento de parte das dividas pendentes ao setor privado considerado prioritário e deu início a uma nova ofensiva econômica para identificar potenciais e problemas na produção do país.
 
- Luciana Taddeo | Caracas
 
18/06/2014
 
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