Futuro do diálogo na Venezuela é incerto

Após vai e vem de reuniões com chanceleres da Unasul

20/05/2014
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Um acordo entre o governo venezuelano e a oposição ainda parece distante. Os três chanceleres da Unasul (União de Nações Sul-americanas) e o núncio apostólico do Vaticano que acompanham o processo de diálogo entre opositores e o governo de Nicolás Maduro deixaram Caracas, no início da semana, sem um cenário claro sobre o futuro da conversa. Considerado “congelado” pela oposição, o diálogo tem como objetivo dar um fim à onda de violência que resultou em 42 mortes desde fevereiro.

Com a missão de destravar o processo, os chanceleres Luiz Alberto Figueiredo, do Brasil, María Ángela Holguín, da Colômbia, e Ricardo Patiño, do Equador, e o núncio Aldo Giordano participaram de diversas reuniões, alternadas: de um lado, a aliança opositora MUD (Mesa de Unidade Democrática), e do outro, o governo.

No fim, emitiram um informe deixando clara a “disposição de continuar trabalhando” com o governo e com a MUD para a busca de soluções. O texto diz que as partes “apresentaram idéias e deverão agora refletir sobre os próximos avanços neste diálogo” e que espera que a data da próxima reunião entre as partes seja determinada “à brevidade possível”.
 
A oposição diz que precisa de “respostas” do governo sobre alguns temas para continuar no diálogo, enquanto Maduro aponta que o bloco opositor está sendo pressionado a abandonar o barco. “Não é que o rompemos (...) mas vamos voltar a nos reunir quando vejamos no governo atos e ações que mostrem seu compromisso”, disse ontem o secretário executivo da MUD, Ramón Guillermo Aveledo, à emissora Globovisión.
 
Entre as demandas opositoras, está a libertação do ex-chefe de polícia, Iván Simonovis, condenado por assassinatos cometidos nas manifestações de abril de 2002, que culminaram no golpe de Estado contra Hugo Chávez; a absolvição judicial de manifestantes detidos e que a Comissão da Verdade que investigará a violência relacionada aos protestos seja imparcial e não dirigida pelo presidente do Legislativo, Diosdado Cabello.
 
Já o governo afirmou que não aceita chantagens e que não fará pactos com a oposição. Patiño, porém, deixou claro após as reuniões que a comissão abriu “pontes de comunicação outra vez”. “Avançamos em vários pontos da agenda”, escreveu em seu Twitter, salientando que “sustentar um processo de diálogo não é fácil”, mas que há disposição.
 
Maduro ainda disse que aposta no diálogo, mas que continuará “com ou sem a MUD”. Apesar de a coalizão ser peça fundamental para resolver a crise política, o governo também realiza desde março reuniões com o setor empresarial e produtivo. Nas conversas, as partes fizeram sugestões e chegaram a acordos para reverter problemas como o desabastecimento, uma das queixas centrais dos protestos.
 
Travado

Um dos exemplos de como o diálogo está travado foi quando, durante uma reunião de Maduro com prefeitos e governadores opositores para discutir planos de segurança pública, o responsável pelo município de El Hatillo, David Smolansky, pediu a liberação de manifestantes e dos políticos detidos por suposto vínculo com a violência em protestos.
 
Irritado, Maduro rebateu, dizendo que lamentava o fato de o prefeito tentar “aproveitar politicamente uma oportunidade”. Segundo o presidente, quem está detido foi “porque violou a lei e tentou derrubar” o governo, lembrando os casos de destruição e de como pessoas foram “queimadas vivas”, além do caso de policiais mortos por franco-atiradores.
 
Violência
 
Desde fevereiro, as manifestações já deixaram mais de 800 feridos, além dos 42 mortos. Segundo o Ministério Público, 160 denúncias de violações aos direitos humanos por parte de forças de segurança estão sendo investigadas. A organização Foro Penal Venezuelano, por sua vez, reporta mais de três mil detidos, dos quais a maioria foi liberada com medidas cautelares.
 
Apesar da diminuição das mortes nas últimas semanas em relação ao início dos protestos, focos de violência ainda derivam em cenas alarmantes. Um vídeo difundido na última semana mostra uma mulher sendo retirada de uma van que acabou incendiada no estado venezuelano de Lara. Desesperado pelo incêndio, o dono do veículo que funcionava como transporte escolar, lamenta: “Como vão me queimar a mulher assim? Isso é selvageria”.
 
“Seu único crime foi estar passando por onde tinha um grupo de extrema-direita. Queimaram-na viva, e fotógrafos internacionais que estavam aí a salvaram, se não a senhora teria sido incinerada”, disse Maduro, informando que já pediu ao ministro de Interior para repor a van e para auxiliar a mulher no tratamento das queimaduras. Ele citou também o caso de um motorista de ônibus queimado enquanto trabalhava.
 
- Luciana Taddeo | Caracas
 
21/05/2014
 
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