A vez do projeto

29/04/2014
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Sempre que antecede um período eleitoral, despertam ex­pectativas na população em geral sobre aquilo que os candidatos irão propor para o país ou para os estados que pretendem governar. É o tempo que os partidos dispõem para tecerem as alianças entre si e para ficarem próximos daqueles que serão eleitos, isto porque, na realidade, principalmente para presidente da República, o período da montagem dos ministérios e o exercício do mandato, pertence ao vencedor. Por ter conquistado a maioria dos votos, emancipa-se do partido e passa a pertencer ao governo.
 
Deve-se tal comportamento ao entendimento de que o cargo pertence ao indivíduo e não ao partido ao qual o candidato eleito está registrado. Mas então para que servem os partidos? Teriam eles apenas a função de prepararem o caminho para os eleitos chegarem ao poder e se emanciparem da vida privada para mergulharem no espaço infinito da vida pública? Deve devir daí a estúpida ideia de que “eu não sou presidente, eu estou presidente”. Ora, ninguém vota em alguém para “estar”, mas para ser enquanto durar. De qualquer maneira, nos cabe compreender por que os partidos e os políticos são e estão tão desprestigiados em nosso tempo?
 
Provavelmente há diferentes interpretações para o mesmo fenômeno, mas no fundo, os partidos se diferenciam entre aqueles que são conservadores e os que são revolucionários e, nisso reside a natureza dos atrasos e dos avanços no processo político estratégico em qualquer lugar do mundo.
 
Do ponto de vista estratégico, os partidos revolucionários, com os quais já não convivemos, preparam-se para revolucionar as estruturas e, para tanto, necessitam convencer a maioria das pessoas de uma sociedade para que acredite, contribua e participe da geração e condução dos conflitos que leve à ruptura com a ordem estabelecida. Logo, o programa de governo não é senão o próprio programa partidário simplificado e sustentado pelas necessidades e desejos da população, que se assume como sujeito do processo que o partido dirige.
 
Do outro lado, os partidos conservadores aprenderam ao longo do tempo que é mais fácil propor algumas intervenções, do que programar e provocar soluções mais profundas. Neste sentido é que de uma eleição para outra, de acordo com as pesquisas antecipadas para saber o que mais implica na vida das pessoas, os candidatos sentam-se e como se estivessem diante de um cardápio em um restaurante, escolhem aquilo que mais agrada à população, que como o garçom, espera para depois servir. No caso, servir: de apoio, massa para os comícios e votos no dia da eleição.
 
O papel das forças conscientes que ainda temos, partidárias ou não, em meio a estas conjunturas de vazias expectativas, é recolocar em debate o projeto estratégico de nação, não no sentido de disputar votos, mas de conscientizar que as verdadeiras transformações não surgem da cabeça de nenhum iluminado e nem da força de um indivíduo só.
 
É importante compreender que fazer política não é nem uma refeição, nem um período para estar no governo. Fazer política é se fazer maioria atuante em tempo integral. É desconsiderar os mandatos cíclicos e construir processos que levem à superação do conservadorismo e da ordem injusta.
 
As grandes nações não se constroem sobre prioridades escolhidas para as campanhas eleitorais, nem a verdadeira democracia se resume no instante solitário do ato de votar. As grandes nações constroem-se com a participação permanente de seus cidadãos, que deixam de acreditar em promessas e passam a investir a própria força participativa na construção do próprio destino.
 
30/04/2014
 
https://www.alainet.org/pt/articulo/85195

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