Livre-comércio dependente, lutas sociais e a formação de um campo antineoliberal na América Latina

20/08/2013
  • Español
  • English
  • Français
  • Deutsch
  • Português
  • Opinión
-A +A
Existem duas características fundamentais para uma análise de realidade concreta
latinoamericana no século XX: sua composição apenas por formações sociais dependentes e o
compartilhamento continental com a maior potência imperialista de nossa época.
Estas características comuns apresentam uma América Latina heterogênea, baseada em
diferentes padrões de dependência, o que implica diferentes estruturas de classes e, portanto,
diferentes inserções no sistema internacional, a começar pelas relações com o imperialismo
estadunidense.
 
Nos últimos vinte anos, observamos uma pluralidade de lutas sociais na região,
impulsionadas por movimentos sociais que protagonizaram o embate contra as políticas neoliberais
aplicadas a partir do fim da década de 1980. Estas lutas levaram às eleições de alguns governos que
buscam maior autonomia em relação aos Estados Unidos e que, sob determinados aspectos,
apresentam sérios conflitos político-econômicos com os governos estadunidenses.
Este enfrentamento se dá em um período no qual os Estados Unidos, após o fracasso da
instauração de uma nova ordem pós-Guerra Fria, visavam recompor, em novos termos, as bases de
sua hegemonia. Em relação à América Latina, este esforço se traduziu na tentativa de constituir uma
área de livre-comércio que se estendesse do Alaska à Terra do Fogo, aprofundando e garantindo
juridicamente as diretrizes da política neoliberal.
 
O objetivo deste trabalho é examinar a proposta da ALCA, a resistência (em ampla medida
popular) sofrida e o novo contexto advindo da derrota desta alternativa imperialista e de uma nova
correlação de forças a partir das eleições de governos progressistas na região.
Este exame será realizado em três etapas que correspondem ao desenrolar de um processo
histórico, cujo desfecho ainda se encontra em aberto. Inicialmente, nos propusemos a debater a
relação entre dependência e neoliberalismo na América Latina, recorrendo em especial à vertente
formulada por Ruy Mauro Marini. Em seguida, abordaremos a tentativa de criação da ALCA, e as
11resistências que lhe foram contrapostas. Por fim, tentaremos apreender as linhas gerais do novo
contexto político latinoamericano, centrando o foco em três tendências: a imperialista neoliberal,
liderada pelos Estados Unidos e as frações burguesas aliadas nas distintas formações sociais
latinoamericanas; a neodesenvolvimentista, liderada pelos governos do MERCOSUL, com forte
participação de suas burguesias internas; e a referenciada no chamado “Socialismo do Século XXI”,
liderada pela Venezuela.
 
Não levamos em consideração o falecimento de Hugo Chávez, ocorrido em março de 2013,
bem como a sucessão presidencial venezuelana. Assim, o trabalho não examina as possibilidades de
alteração do cenário aqui apresentado, inclusive em razão da perda da principal liderança do projeto
bolivariano.
 
Este trabalho, portanto, não pretende ser a análise final de um período histórico que,
insistimos, ainda está em curso. Trata-se de, por meio de um esforço de sistematização a partir da
perspectiva das lutas sociais, contribuir para o debate acerca deste processo.
 
https://www.alainet.org/pt/articulo/78583

Clasificado en

Subscrever America Latina en Movimiento - RSS