Balanço do Fórum Social Mundial 2021

Mais certezas do que dúvidas em um fórum virtual de sucesso

O próximo passo: o próximo FSM a ser realizado, se a pandemia permitir, em 2022, no México.

08/02/2021
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Rumo a um FSM presencial e virtual em 2022 no México

 

No último domingo de janeiro terminou uma verdadeira maratona de nove dias com quase 800 atividades propostas por 1.300 organizações que animaram o Fórum Social Mundial virtual (FSM) 2021. Cerca de 10.000 pessoas de 144 países participaram desta edição. O próximo passo: o próximo FSM a ser realizado, se a pandemia permitir, em 2022, no México.

 

"O que acabamos de viver é ais um elo nesta longa cadeia de 20 anos do Fórum Social Mundial. Uma etapa de confirmação e fortalecimento", explica Rita Freire, jornalista e comunicadora, responsável pela Ciranda.net –plataforma de informação altermundialista criada em 2001– e membro do Grupo de Facilitação que lançou este fórum virtual. Rita não esconde sua surpresa e entusiasmo pela dimensão dessa convocatória que excedeu todos os cálculos, mesmo os mais otimistas.

 

Ponto de partida e dilemas

 

Rita olha para trás e busca um ponto de partida que permita fazer o balanço: o Fórum Social das Resistências de Porto Alegre, de janeiro de 2020. "Lá nos impusemos grandes desafios. Chegamos ao consenso de que para continuar tínhamos que garantir um FSM reativado, vigoroso, com capacidade real de convocatória, de incidência e compromisso coerente com as lutas sociais", lembra.

 

A pandemia forçou uma mudança no roteiro, mas não aos objetivos exigentes propostos. A questão chave era se esta edição fortaleceria o FSM, lembra. E, hoje, a resposta é positiva: "Desde o primeiro dia, 23 de janeiro, quando aconteceu a marcha virtual de abertura, percebemos que o que estávamos vivendo era realmente surpreendente. Com trocas de experiências, vídeos, reflexões de pessoas dos cantos mais distantes do mundo, em línguas que às vezes não entendíamos, bem como ricas contribuições de movimentos e organizações sociais".

 

Foi confirmado que "o virtual pode ser um aliado dos processos vivos e reais. Embora seja preciso reconhecer que o digital não é um meio viável para muitas pessoas, especialmente em países que não têm meios para se conectar à Internet".

 

Por enquanto, enfrentamos uma segunda contradição de difícil resolução. "Para comunicar-nos, usamos celulares cujos componentes usam matérias-primas que vêm de países como a República Democrática do Congo, onde a apropriação desses recursos naturais motiva guerras e confrontos.

 

Outra contradição adicional: ainda devemos confiar em mídias que são monopólio, como Facebook, Zoom ou YouTube. Não temos nossas próprias ferramentas gratuitas que sejam fortes e soberanas".

 

Podemos usar o virtual, sem esquecer que não é necessariamente maravilhoso, nem justo e que, em muitos casos, reflete um privilégio decorrente de um sistema inaceitável de exploração", reflete. E lembra que o próprio nascimento do Fórum, em 2001, em Porto Alegre, foi alcançado graças ao chamado lançado ao mundo via internet. E, então, começaram a ser criadas e fortalecidas redes midiáticas e sociais essenciais para o movimento altermundialista.

 

Convergências para disputar poder

 

Rita Freire afirma ter sido um sucesso organizar o FSM atual com base em eixos temáticos precisos. As atividades organizadas exigiram "diálogos prévios entre organizações, consensos, convergências que reforçaram um importante exercício para os atores sociais, sem desconhecer as diferenças e os eventuais conflitos que devem ser resolvidos internamente. Há meses este fórum tem sido um amplo processo participativo".

 

Muitas das discussões no atual FSM refletiram sobre as alternativas para o planeta pós-pandemia, tanto no âmbito ambiental, no econômico, no informativo, na construção e no fortalecimento da democracia, nas lutas feministas, migratórias, dos povos indígenas e das minorias étnicas, destaca.

 

O essencial é, com toda razão, compreender esse diálogo constante entre atores sociais não apenas como uma simples retórica intelectual, mas na perspectiva "de reforçar as convergências, imaginar ações e mobilizações futuras comuns; em suma, projetar propostas globais que permitam disputar o poder com aqueles que o detém", enfatiza.

 

Muitas dessas possíveis propostas discutidas no FSM reforçam essa esperança futura, diz ela. E lista alguns exemplos ilustrativos: saber que os trabalhadores do Google estão avançando na ideia de construir um único sindicato global; que as comunidades indígenas do México desenvolvem formas alternativas de Internet; que a mídia livre busca fortalecer-se; que existem organizações que estão propondo uma grande campanha para tornar ilegal a pobreza e antecipar propostas concretas em âmbito nacional para avançar nessa direção. Sem esquecer também os debates sobre o papel essencial dos Estados em situações como a atual, a importância dos serviços públicos, o fardo sufocante da dívida para nossos povos -e as opções para combatê-la-, as formas originais de mídia e de luta cultural para combater a visão de mundo e de sociedade impostas pelos monopólios.

 

Próximos passos

 

 

O processo continua e o futuro do FSM sinaliza uma parada no México no próximo ano se a pandemia permitir. "Nada substitui os abraços. Não podemos dançar juntos online", diz a comunicadora brasileira, convencido de que se deve combinar o presencial e o virtual. O México poderia ser como um centro, um coração do evento conectado ao resto do mundo. Uma fórmula multicêntrica, policêntrica.

 

Um Fórum Social Mundial configurado como sujeito global, onde a força dos movimentos e das organizações se expressa em um impacto real. Em outras palavras, para Rita, que também faz parte do Conselho Internacional do FSM, "o FSM deve construir uma metodologia de tomada de decisão não-hegemonista, profundamente democrática; que, essencialmente, respeite as divergências que existam em seu seio, sem ser paralisado por elas. Deve-se reconhecer que o debate sobre a necessária evolução do método de ser e de fazer é o caminho para a construção das convergências na diversidade”.

 

Se a discussão interna é viva e intensa, um dos temas que a motiva refere-se à própria essência do FSM, como espaço para encontro-reflexão-debate ou enquanto ator social.

 

E Rita Freire não tem medo da resposta, fazendo referência à posição tomada pelo Coletivo de organizações brasileiras no Conselho Internacional: "Não vemos contradição em que o FSM seja um espaço de reunião, debate e de articulação de ações e, ao mesmo tempo, seja um ator no cenário internacional. Sentimos que o processo aberto há 20 anos tem buscado cumprir esse papel nessas duas décadas". E exemplifica: "são incontáveis redes e articulações surgidas nos espaços do FSM e inúmeras as propostas elaboradas e implementadas desde seu nascimento, em 2001, muitas delas, inclusive, contribuindo para a elaboração de políticas públicas implementadas por governos de diversos continentes".

 

O FSM já atuou como um ator global, enfatiza, "publicando declarações, liderando ações globais, defendendo ideias e valores, embora haja controvérsias sobre isso. Como afirmam as organizações brasileiras no Conselho Internacional, tem sido um processo dinâmico, que se multiplicou em fóruns temáticos, regionais e nacionais, assembleias sociais, de mulheres e de diferentes convergências; um espaço de diversidade, da riqueza e da amplitude dos movimentos sociais, como aconteceu no FSM 2018, em Salvador, Bahia; e nos diálogos que marcaram as várias reuniões ampliadas de 2020.... No entanto, pode fazer mais", disse a responsável pela Ciranda.net.

 

No horizonte, o sonho -não impossível- de uma sociedade civil planetária mobilizada, questionadora do sistema hegemônico e construtora de alternativas pós-pandêmicas e pós-sistêmicas viáveis, cimento de um mundo mais justo e equitativo, conclui.

 

 

Tradução: Rose Lima

 

https://www.alainet.org/pt/articulo/210866

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