Dia Internacional da Saúde:

Desafios em plena pandemia mundial do coronavírus

08/04/2020
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  1. Introdução: a origem da celebração da OMS

 

Este ano, neste dia 7 de abril, “comemoramos” o Dia Internacional da Saúde, a data foi instituída em 1948 pela OMS (Organização Mundial da Saúde), que tem como objetivo principal conscientizar a população a respeito da qualidade de vida e das diferentes questões que dizem respeito e afetam a saúde da população mundial. Pelo que se sabe esta data não se refere a nenhum fenômeno ou fato em especial, mas marca dia de fundação da OMS. Da mesma forma a OMS, completa 72 anos, como organização, já que desde a Primeira Guerra Mundial, foi criado como um comitê de higiene, que foi o embrião da OMS. Nestes anos a entidade enfrentou vários desafios, como a luta contra a tuberculose, o tétano, a poliomielite, o HIV, o tabagismo e mais recentemente o ebola e agora o desafio de buscar orientar os governos em práticas de isolamento social e se antecipar, a epidemia para impedir a expansão rápida do novo coronavírus e construir logística de atendimento saúde para evitar a morte e o sofrimento das pessoas infectadas bem como o colapso sistema de saúde em cada País. Mas o maior desafio é de em plena pandemia buscar a cura e vacinas para a doença.

 

No dia a dia, pelo menos, nós que somos leigos no assunto, temos pouco conhecimento, mas a OMS, desde seu princípio tem adotado temas anuais para refletir problemas relacionados à saúde que afetam a população no mundo. Em 2015 por exemplo teve como tema a preocupação com a alimentação, “do campo à mesa, obtendo alimentos seguros apontando o debate da segurança alimentar. E em 2019, no ano em que a China alerta ao mundo a infecção em massa na cidade de Wuhan teve como mote a “Saúde universal: para todos e todas, em todos os lugares”. Mas já em 1946, Quando, a Organização Mundial da Saúde ainda era uma comissão da ONU para a saúde, aprovou um conceito de saúde que ampliava a visão do mundo a respeito do que seria estar saudável. “A saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença ou enfermidades”.

 

Este conceito sofre alterações e influencias, progressista, em especial do relatório da 8ª conferencia nacional em saúde realizada e Brasília entre os dias 17 a 21 de março de 1986, que define saúde como um direito. Em seu sentido mais abrangente, a saúde é a resultante das condições de alimentação, habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer, Liberdade, acesso e posse da terra e acesso a serviços de saúde, é, assim antes de tudo o resultado das formas de organização social da produção as quais podem gerar grandes desigualdades nos níveis de vida”.” o direito a saúde significa a garantia pelo Estado de condições dignas de vida e acesso universal e igualitário às ações e serviços de promoção proteção e recuperação de saúde em todos os níveis e a todos os habitantes”. (Relatório da 8ª conferencia nacional em saúde)

 

Em tempos de pandemia do novo coronavírus o mundo tem muitos desafios para enfrentar no campo da saúde, além de enfrentar o problema atual pra impedir a expansão em todo o mundo do vírus que está desafiando a ciência, o capital, governos e em especial a sociedade urbanizada, que tem se transformado em campo fértil para a propagação do vírus e a doença covid-19 causada pelo novo coronavírus.

 

A história a humanidade sempre foi marcada por muitas epidemias. Povos, reinos e populações foram totalmente dizimadas. Foram muito mais destruidores de grandes guerras, terremotos ou tsunamis. Antes da ciência, em especial na Idade Média, e até hoje em alguns lugares, religiões e profetas (falsos) tentam imputar a Deus as epidemia, como um aviso de Deus “sobre um comportamento social pervertido, ou como castigo, a pecados coletivos, o passando a ideia de um pecado. "A resposta era expulsar os pecaminosos do convívio, tirando-os da cidade", purificando o convívio social.

 

  1. Fatores que influenciam a disseminação do vírus

 

Agora estamos enfrentando uma pandemia a nível internacional em praticamente todos os 193 países que estão enfrentando suas consequencias. A questão agora, neste momento, é que o vírus se espalha muito rapidamente, infectando milhares de pessoas ao mesmo tempo. Alguns fatores podemos elencar como facilitadores para essa expansão rápida, mas pelo que se sabe em todas as epidemias a orientação sempre foi o isolamento social como forma de interromper a propagação e o alastramento da doença causada pelo vírus. Mas neste momento histórico, temos situações que favorecem a expansão do vírus.

 

Em primeiro, como fator principal, são as grandes concentrações urbanas. No último século houve uma expansão do meio urbano de forma muito acelerada, uma grande parte da população mundial vivem em aglomerada em meios urbanos, em grandes cidades, algumas grandes metrópoles, concentram grande parte da população mundial. Somado a isso ainda, são as condições de vida da população nas grandes cidades que facilitam o alastramento e a infecção de massa da população pelo novo coronavírus como também de outras epidemias e doenças. Grande parte desta população que vivem nas metrópoles, vivem em condições de favelas submetidos a as mais estremas condições de vida, convivem com a falta de infraestruturas urbanas como: fornecimento de água potável, de energia elétrica, de saneamento básico, recolhimento, de esgoto, precarização dos meios de transportes coletivos, escolas pra crianças e atendimento à saúde.

 

 A população urbana mundial está cada vez mais empobrecido, vivendo em situação social e econômica, abaixo da linha de pobreza, situação de miséria quase que absoluta, nessas condições, as populações urbanas periféricas, ficam muito mais vulnerável a esse tipo de epidemia, além de outros problemas urbanos como violência, o desemprego.

 

Uma segunda causa, é a questão ambiental; em nome do desenvolvimento do capital matas, reservas ambientais foram totalmente destruídas, rios contaminados, matas ciliares que protegiam rios e nascentes foram totalmente destruídos, as cidades sem cinturão florestal, como faixa de transição entre o campo e a cidade, propicia para a propagação e expansão rápida de doenças, pragas e vírus em consequência disso as populações que vivem no campo em especial as vilas, povoados e comunidades rurais também ficam bastantes vulneráveis.

 

 A terceira causa é a fragilidade é vulnerabilidade do ser humano, do corpo humano, sujeito a hipertensão, obesidade, stress entre outras, baixa imunidade, em consequência da alimentação oferecida para a população a bases de hormônios e agrotóxicos. Este processo se verificou com mais gravidade a partir da Segunda Guerra mundial, na metade do último século, quando se impõe para agricultura, com objetivo de aumentar a produtividade na produção agrícola e aumentar a renda capitalista no campo, um pacote tecnológico baseado na adubação química, agrotóxicos, sementes hibridas e geneticamente modificadas (transgênicas) e alta mecanização.

 

 A população urbana passou a se alimentar com alimentação produzida à base de agrotóxico e produtos industrializados, com isso tem fragilizado o corpo humano, perdendo a resistência e a cada geração, mais vulnerável a doenças, em especial as novas doenças e a infecção por vírus, viroses e bactérias. Portanto a saída é isolamento para evitar a propagação deste novo vírus, o novo coronavírus. Mas como a grande maioria da população, vivem nas grandes metrópoles. O grande desafio, em tempos de Pandemia, é de como manter isolada em casa esta população que na maioria delas depende do trabalho informal, que depende logicamente da circulação das pessoas e vivem da renda diária para a sobrevivência, sem esquecer de uma parte dessa população que vivem em situação de morador de rua.

 

  1. Desafios para superar a pandemia

 

A saúde no mundo hoje além do desafio conjuntural de superar a pandemia do novo coronavírus, apresentam novos desafios estratégicos apontados pela fragilidade no enfrentamento da atual pandemia, e como a população mundial está refém das postura de governos e vulneráveis a pandemias de proporção global.

 

O primeiro desafio, é estrutural, o neoliberalismo, nos anos 1980, trator, em nome do “desenvolvimento e da globalização da economia” de privatizar toda a estrutura pública de saúde, transformou serviços públicos de saúde, em mercadorias, a serviço do capital. Em nome do mercado desmantelado dos sistemas públicos de saúde em todo o mundo. Planos privados de saúde substituíram a saúde pública, hospitais particulares e conglomerados de empresas e corporações passam a explorar, hospitais, emergência, laboratórios, pesquisa, tecnologia e logística de saúde, substituindo ou fragilizando as redes públicas de atendimento. A saúde passou a ser mercadoria, a disposição do mercado. Quem pode pagar pelo atendimento, quem não pode ficar à mercê do sistema público precarizado.

 

Neste momento em que o sistema de saúde e entra em colapso, a maioria dos países não tem um serviço público de saúde estruturado para responder a proliferação de vírus e doenças. O colapso do sistema de saúde no mundo é inerente, a forma como o capital transformou a saúde em mercadoria, mais importante do que curar as pessoas, passou a ser o lucro que as empresas capitalistas obtém, em especial com a doença das pessoas. Estão pouco preocupados com a saúde, apostam mais na doença e mais animados os lucros que a doença permite o capital extrair desse processo. O grande desafio no mundo hoje é de reconstruir sistemas públicos e gratuito de saúde que sejam responsável, desde a atenção básica em saúde ao desenvolvimento de pesquisas, de tecnologias, estruturas que podem responder no dia a dia, ao caos que apresenta hoje, a saúde, na maioria dos países, no mundo. Mas em especial para responder a esses momentos de emergência. Esta pandemia vai passar, as consequências maiores ou menores depende de atitudes dos governos. Defender a vida das pessoas em primeiro lugar ou do capital. Mas certamente o mundo vai ver, cada vez mais recorrente processos de epidemias e doenças se alastram rapidamente no mundo inteiro como pandemia.

 

 O segundo desafio, está voltado a produção agrícola e o hábito alimentar no mundo, é urgente e imediato que o mundo possa superar este modelo de produção de alimento, baseado na produção da alta produtividade, a base sementes transgênicas e agrotóxicos controlado pelas grandes corporações capitalistas que impõe um consumo de alimento padronizado para o mundo inteiro, a serviço do lucro e do mercado, alimentos vendido nas bolsas de valores como commodities, substituindo mercados, produção e hábitos (cultura) alimentares locais e regionais, para uma produção, consumo e cultura alimentar mais saudável, baseado na agroecologia e em uma relação, mais amistosa: entre o camponês que produz o alimento, as população que consome e o meio ambiente. Esse respeito entre esses fatores, poderá reestruturar a saúde das pessoas e fortalecer o sistema imunológico, evitando assim o caos da saúde pública e das doenças. Portanto tendo como base, um novo hábito (reconstrução de cultura alimentar e culinárias regionais) alimentar. Nós podemos fazer com que o corpo humano possa readquirir mas é resistência, cuidando mais da saúde e menos das doenças.

 

 O terceiro desafio está voltado para estratégia de unificar procedimentos, dados e pesquisa sobre doenças e formas de combatê-los em todo o mundo. Os países não podem mais ficar refém do capital, das grandes empresas e conglomerados que exploram o setor de saúde. O mundo tem que construir de formato universal, em que, o conhecimento adquirido em qualquer parte do mundo, não pode ser patentes, em que as empresas dominam a tecnologia e colocam à venda no mercado.

 

Pernambuco, 7 de abril de 2020

 

- Jaime Amorim, da Coord. Nac do MST e da Comissão internacional da VIA CAMPESINA

 

https://www.alainet.org/pt/articulo/205760
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