América Latina e Caribe na estratégia “Made in China 2025”

A maioria das importações que a China faz da América Latina é de commodities, mantendo-se uma relação centro-periferia.

06/11/2018
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Imagen: researchleap.com
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“Made in China 2015” é um plano mestre anunciado pelo Conselho de estado chinês em 2015[1], cujo objetivo é consolidar a economia asiática como uma superpotência global, através da inovação tecnológica nas atividades manufatureiras como eixo central. Esta política industrial não só tem objetivos específicos para 2025, mas até o 2049[2], no centenário da fundação da República Popular da China e do maoísmo, como contexto.

 

Esta estratégia implica o projeto político-econômico "Belt and Road”[3], também conhecido como "Nova Rota da Seda", uma vez que reconstrói as antigas rotas de comércio entre as civilizações da Ásia, em particular, ligando a China com a África e com a Europa no século XIX, incorporando uma rota marítima paralela. Belt and Road visa gerar 55% do PIB mundial[4], com implicações econômicas sobre 75% das reservas energéticas e 70% da população mundial, para o ano de 2049.

 

Desta forma, o presidente chinês Xi Ping, considerado o líder político chinês mais influente depois de Mao Zendong, com seu credo do ressurgimento da Grande Nação Chinesa, une as diversas economias do globo, sob os cinco pilares da Coexistência Pacífica[5]: respeito mútuo à soberania e à integridade territorial; acordo mútuo de não-agressão; acordo mútuo de não-intervenção nos assuntos internos; igualdade e benefício mútuo; coexistência pacífica. É perfeitamente o contrário do que acontece na relação entre os EUA e a América Latina. Embora este discurso pareça sedutor para as economias emergentes, temos de saber qual será o custo social e econômico a ser pago para entrar no trem Made in China 2025.

 

Neste sentido, os investimentos económicos e em infraestrutura feitos pela China, em diferentes países do globo, como parte de suas estratégias industriais, põe à prova a supremacia das principais economias e corporações globais hoje, além de colocar a China como líder em inovação, com a capacidade de influenciar padrões/normas globais e cadeias de suprimentos. Neste contexto, quais são as implicações para a América Latina e para o Caribe (ALC) para alcançar os objetivos do Made in China 2025?

 

 

Nos últimos anos, a China manifestou interesse econômico e geopolítico em vários países da ALC. Exemplo disso é a força comercial que o espiral (loop) ALC-China teve através do crescimento das exportações e importações. No entanto, a China vê os países sul-americanos como fornecedores de matérias-primas e, em alguns casos, como uma fonte de financiamento para investimentos em infraestrutura, [6] enquanto a Bacia do Caribe, ao receber pacotes para o desenvolvimento social, considera a China um dragão benéfico[7]. Para a China, o comércio com o Caribe é minúsculo se comparado com o resto do mundo; no entanto, seu interesse nesta região é principalmente geopolítico, ao substituir Taiwan das fontes de matéria prima a longo prazo e instalar-se na Bacia, incomodando Cuba, enquanto os EUA limitam-se a militarizar as relações com a região.

 

Atualmente, embora existam muitos países da ALC considerados no projeto Belt and Road, o Panamá foi o único a assinar um memorando de participação nesse âmbito. A este respeito, no segundo Fórum da China com os Estados Latino-Americanos e Caribenhos (ECLAC), realizada em janeiro deste ano [8], funcionários chineses referiram-se à América Latina como uma "extensão natural" de Belt and Road, acrescentando que a região é um “participante indispensável” em sua construção.

 

 

Com o acima exposto, é evidente que a região da ALC tem vínculos comerciais estreitos com o mecanismo central da economia global do século XXI. No entanto, o faz da maneira errada, uma vez que não há uma diversificação nos bens e serviços negociados.

 

Conforme mostrado no gráfico 2, a maioria das importações que a China faz da América Latina é de commodities, mantendo-se uma relação centro-periferia.

 

Também é evidente que o déficit comercial do México com a China representa a maior parte do déficit comercial de toda a América Latina com o gigante asiático. Os países da Bacia do Caribe, incluindo a Mesoamérica, têm um déficit explicado essencialmente pelo tamanho do déficit mexicano.

 

A incorporação da região ALC é iminente, como a engrenagem na máquina Made in China 2025, ao representar o papel de importante fornecedor de matérias-primas, bem como um potencial consumidor de produtos manufaturados. É essencial que os governos dos dois sub-blocos da ALC, próximos a incorporar-se ao projeto industrial chinês, considerem a integridade e a diversificação comercial, seus alcances.

 

 

A situação em 2017 é que a média do déficit comercial dos países da Bacia do Caribe com a China soma 93,4% do total dos fluxos de comerciais com eles. O mais grave é a San Vicente, que não exporta nada para a China e o menos grave é Trinidad e Tobago, que tem um déficit de 54% do total negociado. Eles exportam petróleo. Isso indica que a Bacia do Caribe e a América Central não oferecem bens e serviços para a China, mas limitam-se a comprar. Nesse cenário, o México compra insumos para a indústria montadora, para fabricar para o mercado estadunidense. Seu déficit com a China soma 84% do que comercializa com eles.

 

 

Na América do Sul, a situação é diferente. A China investe, sobretudo, em mineração, e compra grandes produções agrícolas. Desta forma, o déficit sul-americano médio é de 20,7% do total negociado, havendo países superavitários, como os mineiros do Pacífico e do Brasil e deficitários como o Paraguai. A Bolívia, o Equador, a Argentina e o Uruguai.

 

O tamanho do déficit comercial mexicano com a China é equivalente a 88% do déficit latino-americano com a China, devido ao seu imenso tamanho. São 71.881 milhões dólares de um déficit total agregado dos 22 países de 81,028 milhões de dólares. Pelo tamanho do déficit, o México compra Made in China de forma esmagadora, sem vender quase nada em troca. Aparentemente, a China compra matérias-primas e vende produtos industriais, seguindo o velho padrão o dependentismo latino-americano do século XIX.

 

- Oscar Ugarteche é Investigador titular II Ec-UNAM, SNI / Conacyt, Coordenador do obeja.org

- Larry Vargas é membro de obela.org

 

Tradução espanhol-português: Rose Lima

 

URL deste artigo em espanhol: https://www.alainet.org/es/articulo/196163

 

Notas:

 

[1] http://english.gov.cn/state_council/ministries/2017/10/12/content_281475904600274.htm

[2] https://www.merics.org/sites/default/files/2017-09/MPOC_No.2_MadeinChina2025.pdf

[3] Para mais informação, consultar a página oficial de Belt and Road, do governo da China em: https://www.yidaiyilu.gov.cn/

[4] https://www.alainet.org/es/articulo/192143

[5] http://cr.chineseembassy.org/esp/xwdt/t1173044.htm

[6] https://revista.drclas.harvard.edu/book/made-china-2025

[7] https://www.tandfonline.com/doi/full/10.1080/00358533.2010.484144?scroll=top&needAccess=true

[8] http://www.chinacelacforum.org/esp/ltdt_2/t1527539.htm

 

https://www.alainet.org/pt/articulo/196368
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