Disputa de hegemonia e produção de subjetividades

Impeachment como eixo de lutas

13/04/2016
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Introdução

 

A disputas de hegemonia, na definição dos rumos adotados por uma nação, pode ser analisada sob diferentes abordagens teóricas. Cada uma delas tem suas vantagens e desvantagens. Todas, porém, tratam da correlação de forças entre atores na defesa ou combate de objetivos que se relacionam a diferentes projetos de sociedade. Um aspecto central dessa análise consiste em determinar os principais atores a serem considerados, sua identidade em relação às contradições e estruturas econômicas, políticas, culturais e sociais, seu protagonismo com respeito aos acontecimentos e conflitos analisados e sua posição quanto aos objetivos e projetos de sociedade em disputa.

 

Considerando a conjuntura atual, tratei de alguns desses atores em O Quebra-cabeça do Golpe, evidenciando a existência de um arranjo de forças internas e externas, integradas na promoção do impeachment. Entre seus objetivos está o desmonte de direitos sociais e trabalhistas, a entrega do pré-sal a grupos internacionais — com a aprovação do PL 4567/2016 de autoria do senador José Sera, que elimina a exclusividade da Petrobras na exploração dessas jazidas — e a privatização de empresas públicas. Cabe salientar que a própria privatização da Petrobras e dos Correios, defendida pelo Movimento Brasil Livre, não está descartada pelo Plano Temer, pois este propõe "executar uma política de desenvolvimento centrada na iniciativa privada, por meio de transferências de ativos que se fizerem necessárias". Sobre isso, Kim Kataguiri, líder do Movimento Brasil Livre, afirma que "se o Temer for privatizar empresas públicas, [...] como a privatização da Petrobras e dos Correios, nós o apoiaremos."

 

Esse golpe contra a sociedade brasileira, que pretende abolir direitos dos trabalhadores, facultar a entrega do pré-sal a consórcios estrangeiros e privatizar ativos públicos, é retroalimentado, como analisei em As Provas de um Crime, por outro leque de atores que opera uma teia de violações legais, conectando vazamentos de operações judiciais, como a Lava Jato, com o poder de formação da opinião pública exercido por mídias de massa, particularmente pelo Grupo Globo, que se destaca em seu recorrente "acesso com exclusividade" a documentos sob sigilo judicial ou segredo de justiça. Exercendo esse poder, tais veículos difundem e retroalimentam uma interpretação hegemônica — sobre acusações, fatos, supostos fatos, normas e valores — que é favorável ao golpe.

 

O que pretendo desenvolver no presente texto é a reflexão sobre o modo como as forças econômicas, políticas e comunicativas que se uniram pelo impeachment, construíram um poderoso eixo de lutas que integra o combate à corrupção e a saída da crise econômica à deposição do atual governo, à extinção do PT e à execução do referido conjunto de medidas, que tramita no Congresso Nacional, agrupadas no Plano Temer.

 

Mais que isso, pretendo explicitar o modo como interpretantes emocionais, lógicos e (re)ativos são mobilizados para o engajamento de setores da sociedade na defesa do impeachment. E, por outra parte, apontar alguns aspectos sobre como desmontar esse eixo de lutas.

 

Escrevendo no calor dos acontecimentos e com o foco na análise de suas conexões, algumas passagens que seguem são compartilhadas como estão, embora a sua decantação e sua crítica rigorosa, em perspectiva histórica, seguramente permitirão no futuro reformulá-las em melhor maneira.

 

Curitiba, 09/abril/2016

 

https://www.alainet.org/pt/articulo/176728
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