Saúde física e social

20/04/2015
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“Para lutar e vencer a estrutura maligna que nos engloba politicamente, só formas absolutamente novas, em energias redentoras. Aliás, é esse processo necessário – de progresso político e social.” (Manoel Bomfim. O Brasil Nação.)

 

 A proliferação de vírus de dengue é um exemplo de como a desorganização social no Brasil responde a uma doença de país tropical. Muitos casos podem ser evitados se o nível de instrução de brasileiros for maior e houver um esforço cooperativo, já que o mosquito causador da doença somente se reproduz nas adjacências de reservatórios de água (“água parada”).

 

Acontece que, ainda que o morador A seja bem instruído e precavido, o B e o C não são e, portanto, o mosquito poderá sair de suas residências e picar os vizinhos. Um de cada cinco moradores de São Paulo recusa-se a abrir a porta de suas casas por medo de violência ou porque não está em casa no momento em que agentes de vigilância sanitária apresentam-se para visita.

 

O receio dos moradores não é de todo incompreensível. Em cidades médias e grandes, a violência é explícita (assaltos, homicídios) e sorrateira (picada de mosquitos que causam doenças ferinas). Há, dessa forma, perigo biológico e desentendimento social no caminho de brasileiros.

 

Na tentativa de convencer moradores na cidade de São Paulo a abrir as portas de suas casas a agentes de vigilância sanitária, a Prefeitura toma medidas de persuasão e segurança. 50 soldados do Exército integram-se aos 2,5 mil agentes que visitam casas em São Paulo e orientam moradores sobre como evitar a proliferação do mosquito transmissor de dengue.

 

É impressionante como algumas espécies de mosquito – em particular a Aedes aegypti – têm capacidade de provocar um estado de emergência sanitária no Brasil de modo que sua população tenha que se organizar melhor para combatê-lo.

 

Entre janeiro e o fim de março de 2015, houve aumento de 240% nos casos de dengue em relação ao mesmo período do ano passado em todo o Brasil. Sabe-se que a maior incidência de casos de dengue é na região Centro-Oeste, enquanto a menor é na região Sul. Fatores como clima e nível socioeducativo são determinantes na proliferação dos casos da doença.

 

O trabalho entre vizinhanças e agentes de saúde deve ser coordenado para combater a dengue. Sem essa coordenação, e nas regiões onde ela é débil, a tendência é de que o mosquito da dengue continue fazendo vítimas doloridas. Quem já pegou a doença ou conhece alguém que já a teve sabe que os efeitos são bastante desagradáveis e, nalguns casos, levam à morte.

 

A dengue é uma prova inadiável de como brasileiros devem-se organizar para resolver problemas biológicos, educacionais e sociais. Enquanto tal coordenação acontece insuficientemente, temos perdas em produtividade e turismo no Brasil, e pessoas se enfraquecem e se desencorajam.

 

Pesquisas para o desenvolvimento de uma vacina contra a dengue estão num estágio avançado e têm sido realizadas por cientistas brasileiros, em especial no Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz) e no Instituto Butantan. Porém, a previsão do uso público dessa vacina é 2018, o que significa um período ainda longo de exposição aos riscos de infecção por dengue.

 

Nesse ínterim, é mister que tenhamos avanços políticos e sociais que mitiguem não só o perigo biológico de proliferação de dengue senão também a falta de coordenação social no Brasil. Vivemos num momento muito delicado da história política e social do país que se agrava com a presença de mosquitos traiçoeiros, sanguessugas indiferentes e vermes politiqueiros.

 

Depende de que você, leitor, valorize a saúde física e social do Brasil.

 

Há tantos jeitos. Mas coloque de lado o “jeitinho” maçante e velhaco.

 

http://www.brunoperon.com.br

https://www.alainet.org/pt/articulo/169057

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