Em defesa da soberania alimentar, movimentos sociais protestam em todo país

15/10/2008
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Os trabalhadores denunciam que o atual modelo de agricultura e os altos investimentos do capital estrangeiro, que não priorizam o mercado interno, são a principal causa da alta dos preços dos alimentos e da pobreza no mundo

Movimentos sociais, sindicais e outras organizações do campo e da cidade protestam hoje (16) em todo o país contra o aumento dos preços dos alimentos causado pela especulação financeira. As ações fazem parte da Jornada Internacional de Luta pela Soberania Alimentar, que acontece em 50 países do mundo.

Os trabalhadores denunciam que o atual modelo de agricultura e os altos investimentos do capital estrangeiro, que não priorizam o mercado interno, são a principal causa da alta dos preços dos alimentos e da pobreza no mundo. Cedenir de Oliveira, da coordenação da Via Campesina, avalia que a crise financeira atual vem mostrando as conseqüências do modelo agroexportador que, além de destruir o meio ambiente, trata os produtos agrícolas como commodities, negociáveis nas bolsas de valores. "As empresas transnacionais transformaram os alimentos em mercadorias, e não mais como algo vital para as pessoas", critica.

Oliveira lembra, ainda, que os assentados, camponeses, pequenos e médios agricultores, responsáveis por 70% dos alimentos produzidos no Brasil, não recebem apoio do governo, que acaba priorizando a ajuda às empresas. Para ele, é preciso exigir políticas de soberania alimentar, em que a produção agrícola do país seja voltada para alimentar a população e não para especulação ou para combustíveis. Entre as medidas para garantir a segurança e a soberania alimentar, destaca o apoio à agricultura familiar e ao mercado interno e a realização efetiva de reforma agrária. "Os interesses da sociedade devem estar acima dos interesses do capital financeiro", avalia.

As manifestações, em São Paulo, serão marcadas por um ato unificado dos trabalhadores em favor da soberania alimentar e energética na Praça Osvaldo Cruz. Entre algumas das denúncias estão a concentração da produção de alimentos no mundo nas mãos de apenas 11 empresas, entre elas Cargill, Bunge, Nestlé, Unilever, Monsanto, Parmalat, Bayer, Quaker e Danone.

Na região do Vale do Paraíba, em São José dos Campos, 200 pessoas ocuparam pela manhã um supermercado para protestar contra a crise dos alimentos. Após a marcha, os manifestantes seguiram para o centro da cidade, para a realização de um ato. Na região de Campinas, 200 manifestantes também protestam contra a crise alimentar e pela defesa dos diretosm, além de uma distribuição de alimentos simbólica.

No Rio de Janeiro, cerca de 600 mulheres realizam uma marcha no centro da cidade, denunciando o atual modelo agrícola, baseado na monocultura para exportação, com conseqüências diretas para a elevação dos preços dos alimentos. À tarde, as integrantes da Via Campesina farão uma manifestação em Belford Roxo, marchando em direção à Bayer, considerada um dos maiores símbolos do agronegócio no país, produtora de insumos agrícolas, como agrotóxicos, fertilizantes e sementes transgênicas de milho.

No Paraná, cerca de mil camponesas estão liberando, desde a manhã, várias cancelas de pedágios nas praças de São Luiz do Purunã, Cascavel, Imbaú, Ortigueira, Marialva e São Miguel do Iguaçu. Os trabalhadores consideram os pedágios, atualmente, um dos principais entraves para a pequena agricultura, já que encarecem muito a distribuição dos produtos agrícolas, prejudicando os produtores no campo e os consumidores nas cidades. Dezenas de mulheres também participam de um seminário sobre o assunto, no município de São Mateus do Sul.

As ações no Rio Grande do Sul, iniciaram esta manhã, em Porto Alegre, com um ato em frente ao supermercado Nacional, da rede norte-americana Wal-Mart, no bairro Cidade Baixa. Os cerca de 600 agricultores, sem terra e trabalhadores urbanos que participaram do protesto realizaram, em seguida, uma caminhada em direção ao centro da capital, rumo a um seminário sobre a crise dos alimentos. As atividades também integram a 13ª Marcha dos Sem, organizada por sindicatos e movimentos sociais e que ocorre todos os anos.

No Mato Grosso, mulheres da Via Campesina realizaram um ato no município de Campo Verde para marcar o Dia Internacional de Soberania Alimentar, com distribuição de alimentos produzidos nas áreas da Reforma Agrária.

No Nordeste, a Jornada será marcada por atividades em diversos estados. Em Pernambuco, militantes da Via Campesina e da Marcha Mundial de Mulheres realizaram, nesta manhã, panfletagem e distribuição simbólica de alimentos no Bairro de Água Fria. À tarde, está programado um ato em frente ao McDonald’s da Rua 7 de Setembro. Ocorrem, ainda, uma feira agroecológica no município de Carpina e debates sobre Soberania Alimentar em várias escolas e universidades do Estado.

Já na Paraíba, a Assembléia Popular e a Via Campesina promovem, nesta tarde, uma mobilização em João Pessoa, no Cassino da Lagoa. Em seguida, os trabalhadores farão uma marcha pelo centro da capital. Ontem (15), foram realizadas assembléias populares nos bairros de Mandacaru, Padre Zé, Alto do Mateus e Jardim Veneza, em João Pessoa, e no Alto das Populares, em Santa Rita, discutindo o aumento de 15,77% da tarifa de luz, a tarifa social de energia e os altos preços dos alimentos.

A Jornada, no Ceará, foi marcada por uma Marcha Pela Soberania Alimentar e Contra a Alta dos Alimentos em Fortaleza, a fim de denunciar os aumentos no preço dos alimentos e a exploração pelas transnacionais

No Rio Grande do Norte, cerca de 200 famílias da Via Campesina estão acampados na sede do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), em Petrópolis, desde segunda-feira (13), exigindo investimentos públicos nos assentamentos, desapropriação de terras, assessoria e assistência técnica para o plantio.

O dia 16 de outubro foi definido pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) como Dia Internacional do Direito à Alimentação. Para a Via Campesina, essa data tranformou-se no Dia Internacional em Defesa da Soberania Alimentar, como uma forma de resistência e luta para garantir o direito à alimentação a todos os povos.

Segundo dados da FAO, o número de pessoas com fome no mundo subiu de 850 milhões para 925 milhões em 2008, por causa da disparada dos preços dos alimentos. Durante os sete primeiros meses deste ano os preços dos alimentos aumentaram em 50%. No Brasil, o preço da cesta básica aumentou 25% nos últimos meses, aumentando também a miséria e a fome.

Fonte: Brasil de Fato

http://www.brasildefato.com.br


https://www.alainet.org/pt/articulo/130298
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