Acampamento Terra Livre completa um ano de resistência

13/03/2007
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Nesta quarta-feira (14), completa um ano que os trabalhadores da Via Campesina se uniram e ocuparam uma área de 127 hectares, onde a biodiversidade estava contaminada pela produção de organismos geneticamente modificados, tornando o local em um espaço de preservação da vida e produção de alimentos agroecológicos. Este é o atual retrato do ex-campo de experimentos de soja e milho transgênicos da multinacional suíça, Syngenta Seeds, localizado a seis quilômetros do Parque Nacional do Iguaçu, em Santa Tereza do Oeste, na região Oeste do Paraná - RS.

Desde de que ocuparam a área, em 14 de março de 2006 os camponeses estão trabalhando com práticas agroecológicas para descontaminar a terra. As 60 famílias rebatizaram o local de acampamento "Terra Livre", e este ano já colheram a primeira safra de alimentos, produzidas dentro do modelo de cultivo agroecológicos, e em seguida plantaram cerca de 70 hectares com milho, feijão de vários tipos, arroz, mandioca, batata doce, quiabo, melancia, abóbora, morango, amendoim, pipoca, girassol, gergelim etc, com sementes crioulas, livre de tratamento químico e agrotóxicos. A produção é destina para o auto-consumo dos trabalhadores e o excedente é comercializando na região. Durante a Jornada de Agroecologia de 2006 também foram plantadas 3 mil árvores nativas no local.

A agricultora, Maria da Silva, comemora o impacto dessa prática na sua vida e da sua família. "Quase tudo mudou. Quando a gente morava na cidade comprava os produtos no mercado e pagava caro. Gostávamos de comer feijão preto, mas não comia na cidade pelo preço, agora aqui a gente pode comer todos os dias", comemora. Outra mudança real: "Agora deixamos de comer produtos cheios de veneno".

José Fernando Piaia, técnico em agropecuária presente no acampamento Terra Livre, explica que a organização do trabalho divide-se entre o plantio na área coletiva e outro individual para a subsistência das famílias. As sementes que renderam a primeira safra são fornecidas por outros acampamentos, enquanto as famílias locais não têm a capacidade de armazená-las.

No território, que Piaia apelida de um dos corações do mundo, é necessário um trabalho no solo para desintoxicá-lo de experiências com transgênicos e agrotóxicos. "Já constatamos a chegada de animas como tucanos na região. Animais que certamente morreriam se tivessem que comer os vegetais plantados antes, com agrotóxicos", comenta.

Contexto


O ex-campo de experimentos da Syngenta foi ocupado pela Via Campesina para denunciar a produção de soja e milho transgênicos, dentro da zona de amortecimento do Parque Nacional do Iguaçú, á 6 km do local que guarda uma das maiores riquezas da biodiversidade do mundo, as Cataratas do Iguaçu. Como resultado, o Ibama (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos
Naturais Renováveis) multou a empresa em R$ 1 milhão, mas até agora a multa ainda não foi paga.

Em novembro do ano passado à área foi desapropriada pelo governador do Paraná, Roberto Requião, para a implantação de um Centro de Pesquisa e Estudo em Agroecologia. Na época, mais de 170 entidades do Brasil e do exterior apoiaram a desapropriação.

No entanto, no dia 01 de fevereiro o Tribunal de Justiça do Paraná concedeu liminar a multinacional, suspendendo a desapropriação. Requião entrou com recurso para recorrer da decisão judicial, mas até o momento o processo ainda não foi julgado.

Em outubro do ano passado os camponeses saíram da área devido uma reintegração de posse concedida pela justiça paranaense a Syngenta, e montaram acampamento em frente o ex-campo de experimentos, nas margens da PR-163, mas no início de fevereiro as famílias voltaram para dentro da área.

- Ângela Vargas / Vía Campesina

https://www.alainet.org/pt/articulo/119968
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