A todas as mulheres da América

20/04/2006
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A todas as mulheres da América que falam como primeira língua uma língua autóctone da América. Movimiento de Educadores Jekupytyrâ Carta aberta (3). Campanha: «Guarani: língua oficial do Mercosul» A todas as mulheres do Paraguai
A todas as mulheres do Mercosul
A todas as mulheres da América
A todas as mulheres da América que falam como primeira língua uma língua autóctone da América.
A todas as mulheres da América que falam como segunda (terceira, quarta...) língua uma língua autóctone da América.
A todas as mulheres da América que vivem e convivem com línguas autóctones da América ainda que não as falem.
A todas as mulheres. Todas as mulheres paraguaias que falamos guarani pedimos justiça. Pedimos justiça para nós, para nossas famílias, para nossos filhos, para nosso pais, e pedimos justiça para as outras línguas autóctones da América. Pedimos justiça linguística e justiça social. Temos direito a ela. Já não nos calaremos mais. Queremos que o guarani, língua autóctone, majoritária, histórica e oficial, desde 1992, do Paraguai e falada na Argentina, no Brasil e na Bolívia seja, para todos os efeitos e de forma plena, língua oficial do Mercado Comum do Sul (Mercosul) ao lado do castelhano e do português. Temos esse direito e o exigimos. Já não vamos aceitar mais uma situação de apartheid linguístico, e social, em nosso próprio país nem nas instituições interamericanas onde nosso país está representado. Basta de aplicar o modelo linguístico colonial herdado - discriminatório, vexatório e segregativo. Basta! A América é o único continente do mundo -para vergonha de todos e como recordação viva e permanente das infâmias passadas e presentes cometidas em nosso solo- onde nenhuma língua autóctone se converteu em língua de funcionamento normal de um Estado. Basta! Somos seres humanos. Somos normais. Queremos ser reconhecidos como normais. Queremos ser reconhecidos em nossa humanidade. Queremos ser o que somos, sem renunciar a nada. Sem renunciar a outras línguas. Como mulheres (muitas de nós) sofremos na própria carne todas as tragédias que padeceu este continente. (Muitas de nós) padecemos -e continuamos padecendo- a fome, a pobreza, a exclusão, o machismo, a falta de acesso à cultura e à informação, a discriminação no trabalho, a violência de gênero, as ditaduras, as desaparições, os sequestros, as violações, a emigração ao estrangeiro. Padecemos tudo isso. Somos irmãs de todas as mulheres do Mercosul, porque a sua dor é a nossa dor, sua vida é a nossa vida. No entanto, nós, as mulheres de língua guarani, além disso, vivemos -e continuamos vivendo- uma discriminação adicional, secular, atroz, injusta, cruel: fomos negadas em nossa língua e em nossa cultura. Quem não tenha vivido a nossa experiência não poderá entender a magnitude da nossa tragédia de maneira justa e cabal, nem o que ela significa em termos de dor e humilhação. Nós devemos decidir, num contexto de desprezo e desvalorização da nossa língua, se a transmitimos aos nossos filhos e filhas. Devemos decidir, num contexto de discriminação real e objetiva, de violência simbólica e econômica, se deixamos de falar nossa língua. Devemos decidir se silenciamos nossas mães, nossas avós, tudo o que somos e herdamos delas, e vivemos em silêncio e no esquecimento próprio impostos desde fora. Devemos decidir se nos negamos nós mesmas. Quem, no Mercosul, fala somente castelhano ou português não pode entender a nossa dor porque ninguém o exige e assim, somos empurrados a este bárbaro dilema. Basta de mentiras sobre nossa língua. Não queremos renunciar à nossa língua «para dar mais oportunidades a nossos filhos e filhas». Queremos que nossa língua seja plenamente oficial no Mercosul e no Paraguai, e que as oportunidades estejam e sejam em nossa língua. Como são e estão em castelhano e em português. Nós, além disso, aprenderemos, como já fizeram dois milhões de seres humanos, outras línguas e teremos oportunidades adicionais com elas, mas queremos viver em nossa língua. Isso é o que queremos. Nos foi negada nossa língua na escola, na Administração, nos meios de comunicação, nos livros, nos computadores, nas empresas. Nos foi negada. Silenciaram-nos. Humilharam-nos simplesmente por sermos o que somos; algo que não escolhemos, como não o escolhe ninguém. Negaram-nos por sermos assim. E queremos ser. Ser o que somos. Estamos aqui, nestas palavras escritas em guarani, em castelhano, em português e em inglês, para dizer «BASTA!». O apartheid linguístico e cultural que vai do Alasca à Terra do Fogo e do qual participa o Mercosul e o Paraguai deve acabar. Nossa língua é tão digna quanto o castelhano e o português. Nem mais nem menos. Tão digna quanto. Queremos que ela viva. Queremos a oficialidade plena, real e efetiva do guarani no Mercosul e no Paraguai, porque entre 6 e 12 milhões de cidadãos da área de influência do Mercosul falamos guarani. Temos esse direito. Sem mais prorrogações. E entre todos -com base na experiência da solidariedade entre mulheres, a única ferramenta que tivemos neste continente para enfrentar todas as tragédias que nos atingiram e nos afetam ao longo da história- procuraremos soluções para as outras línguas americanas cuja demografia e/ou história particularmente atroz não lhes permita ver-se como possíveis línguas plenamente oficiais das instituições centrais estatais. Não queremos -rejeitamos rotundamente- a demagogia hipócrita e farisaica das elites monolíngües do Alasca a Terra do Fogo, em inglês, em francês, em castelhano, em neerlandês ou em português que nos dizem que se não salvamos, ao mesmo tempo, todas as línguas autóctones da América, não salvaremos nenhuma. Não salvaremos o guarani. Já vimos como pensam e como atuam essas elites. Tivemos séculos para isso. Não quiseram e não querem que nenhuma língua autóctone americana viva. Não quiseram no passado e não fazem nada importante, no presente, para que essas línguas sobrevivam. Mas nós queremos que vivam. Queremos que o guarani viva. Nós somos a melhor garantia, pela nossa experiência de dor e sofrimento, de que vamos tentar encontrar soluções adequadas para cada realidade linguística; soluções que não passem pelo extermínio, o assassinato, o genocídio de pessoas e línguas. E vamos trabalhar para que as novas tecnologias da comunicação e a informação nos ajudem neste esforço. Com esta carta aberta pedimos a solidariedade de todas as mulheres da América para o nosso pedido de plena oficialidade do guarani no Mercosul e no Paraguai. Sofremos uma dor que não sana e dura séculos. Uma dor a mais entre tantas dores das mulheres da América. Uma dor que, há séculos, reclama justiça. Nós a pedimos. Pedimos justiça. De todas as mulheres do Paraguai.
De todas as mulheres do Mercosul.
De todas as mulheres da América.
De todas as mulheres da América que falam como primeira língua, uma língua autóctone da América. De todas as mulheres da América que falam como segunda (terceira, quarta...) língua, uma língua autóctone da América. De todas as mulheres da América que vivem e convivem com línguas autóctones da América ainda que não as falem. De todas as mulheres. Paraguai - Assunção, 31 de março de 2006 Magiorina Balbuena e Julia Franco
CONAMURI (Coordinadora Nacional de Organizaciones de Mujeres Trabajadoras Rurales e Indígenas) rérape. conamuri@rieder.net.py Teodora Verón e Magdalena Fleytas
Mbo'ehára Ñemongu'e Jekupytyrâ (Movimiento de Educadores Jekupytyrâ) rérape. jekupytyra@gmail.com Miryam Estela Duarte Rojas e Berta García
CMC - MCP (Coordinación de Mujeres Campesinas integrante del Movimiento Campesino Paraguayo) rérape. www.okaraygua-paraguai.org; info@okaraygua-paraguai.org; mcp@highway.com.py Lilian Coronel Ávila e Miguela C. Britos Salinas
Yvy Marâe'ÿ rérape: yvymaraey.fundacion@gmail.com Por favor, mandem sua própria petição para que o guarani seja língua oficial para todos os efeitos do Mercosul a: presidente@presidencia.gov.py
sugerencias@presidencia.gov.py
info@presidencia.gov.py
secretaria@mercosur.org.uy
ministra@mujer.gov.py
info@mujer.gov.py
inter@mujer.gov.py
inter2@mujer.gov.py
prensa@mujer.gov.py
cnm@cnm.gov.ar
spmulheres@spmulheres.gov.br
ouvidoria@spmulheres.gov.br
ministra@mides.gub.uy
subsecretaria@mides.gub.uy
cberamendi@mides.gub.uy
inamujer@inamujer.gov.ve
https://www.alainet.org/pt/articulo/114954

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