Mentiras e verdades sobre as negociações da ALCA

25/11/2003
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O Brasil chuchou onça com vara curta na Alca. Assim, como vários órgãos de imprensa – norte-americana e brasileira, sintonizados – tinham advertido, nosso país ficou isolado nas negociações de Miami, nossa economia sofre o grave risco de perder fatias importantes do maior mercado do mundo e assim colocar a perder o grande filão dinâmico da nossa recuperação – a exportação, centrada no agro business. Além disso, uma postura desafiadora – que teve na formação do então chamado Grupo dos 20 seu ponto máximo de provocação - provocou a ira de Washington e dos organismos internacionais, o que pode perfeitamente se refletir em represálias contra o Brasil, justamente no momento em que, graças a um esforço duríssimo, à habilidade e à credibilidade da equipe econômica do governo, estamos recuperando a duras penas a confiança dos organismos internacionais e os capitais voltam para o país. Se não bastasse tudo isso, o tal Grupo dos 20 foi se reduzindo substancialmente a uma quantidade mais próxima dos 10 membros, revelando sua fragilidade e o tom de bravata que o Itamaraty assumiu na reunião de Cancun, à revelia da postura séria e negociadora da equipe econômica. Esta teria feito ver a Lula a solidez e responsabilidade de suas posições, levando a que Celso Amorim e Samuel Pinheiro Guimarães se debilitassem e até mesmo se atritassem entre si, com este último se recusando a assumir a embaixada em Buenos Aires, posto para o qual o primeiro o teria convidado, como forma de deslocá-lo do centro nevrálgico do poder em Brasília. Nossa postura externa fica assim submetida a um jogo de forças entre um nacionalismo tacanho e superado, defendido pelo Itamaraty, que nos levou a uma grave derrota e isolamento internacionais, que pode se refletir no debilitamento da nossa capacidade de recuperação da economia – em pleno processo - e nas extensão do processo de negociações bilaterais por parte do governo norte-americano, em que este aprofundaria o caminho para a Alca que deseja, valendo-se da debilidade de negociação de cada país, ao negociar isoladamente. Assim, o que o Brasil supostamente desejaria o fortalecimento da capacidade de negociação da América Latina diante dos Estados Unidos – termina uma vez desembocando no seu oposto: o enfraquecimento da capacidade de negociação de um continente mais fragmentado do que nunca, com os EUA avançando e se fortalecendo e inclusive colocando em prática o que ameaçou – uma Alca sem o Brasil. Certo? Se fosse certo, as cassandras da imprensa brasileira – e norte-americana –particularmente localizados na Veja e no Estadão, mas presentes fervorosamente em colunas econômicas como a de Miriam Leitão, entre outras - deveriam estar tomando os resultados da reunião de Miami, confrontando com suas análises e previsões, demonstrando que tinham razão e que o Itamaraty está levando pais, interna e externamente à breca. Não é o que fazem, ficam na moita, enquanto Celso Amorim faz o balanço da reunião, revelando como mentiram, tergiversaram, defenderam as posições do governo dos EUA, da equipe econômica do governo brasileiro e dos setores do agro bussiness. Seu silêncio por si só revela tudo isso, porque cada uma das suas afirmações se revelou falsa e equivocada, chocando-se além disso com os interesses do Brasil e do novo processo de integração latino-americana e de organização dos países do sul do mundo, consubstanciado no Grupo dos 20. Errado, fundamente errado, como o ministro Celso Amorim provou em seu informe sobre a reunião de Miami, que poderia ter representado uma feroz contra ofensiva do governo Bush, derrotado em Cancun e em Trinidad-Tobago,mas que se revelou, ao contrário, um triunfo brasileiro, devido à correção das posições do Itamaraty e à habilidade negociadora dos representantes brasileiros na reunião, reconhecida – e louvada ou lamentada, conforme de quem seja o relato – internacionalmente. O resultado da reunião de Cancun foi o fato político internacional mais importante no plano da reorganização do Sul do mundo em muito tempo. Pela primeira vez desde a virada histórica das duas últimas décadas, paises que representam os 85% da humanidade vítima da globalização neoliberal, situada no Sul do mundo, se organiza, se antepõe aos planos dos que representam a 15% da humanidade, globalizadores, situados no Norte do mundo e evitam que estes imponham sua vontade e seus interesses. Tanto assim que as contradições entre os globalizadores – Europa e EUA – ficaram e segundo plano, conforme ressurgiu que se antepõe a ambos. Podemos estar orgulhosos que o Brasil foi protagonista de primeiro plano nesse movimento histórico. Quanto ao grupo dos 20 ou de menos paises, ~e preciso dizer que, pressionados pelo governo Bush, governos como os da Colômbia e do Peru, se retiraram, mesmo se mantendo vínculos com o Grupo, porém o contingente essencial – Chia, Índia, Brasil, África do Sul, México, Argentina – se mantêm unido e coeso, representando o eixo e o embrião de uma alternativa às políticas vigentes hoje vigentes no mundo. O Brasil nunca esteve isolado, nem em Cancun, nem em Trinidad Tobago, nem em Miami, apesar dos desejos do governo Bush e dos porta vozes de seus interesses, dentro e fora do governo brasileiro. O Brasil se projeta como uma grande liderança na luta por uma nova ordem mundial. Quanto á Alca, as bravatas de que sairia uma Alca "com ou sem o Brasil", se revelaram ser isso: bravatas. Se fosse seguir esse caminho, o governo Bush poderia recolher seus aliados e levar adiante a Alca dura que eles propuseram e que foi derrotada, triunfando o projeto da Alca light do governo brasileiro. O debate foi e continua sendo claro: consolidação da inserção subordinada, com a Alca que os EUA propõe ou privilégio do Mercosul, reconstruido, ampliado e aprofundado, com a integração latino-americana em primeiro lugar. A melhor contribuição que o movimento por uma outra globalização pode dar hoje a esse movimento de dimensões históricas é organizar um Fórum Social do Mercosul, amplo, integrando a todos os movimentos interessados nesse projeto – a começar pela Aliança Social Continental e pela Via Campesina -, no transcurso de 2004, para fortalecer essa luta, da qual depende o futuro da América Latina no novo século.
https://www.alainet.org/pt/articulo/108872

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