Um novo poder imperial

13/02/2003
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A guerra do Golfo de 1991 foi para expulsar o Iraque do Kweit. O então presidente dos EUA, George Bush, confessou que era uma guerra pelo petróleo, porque países que invadem outros, há vários casos, mas nenhum outro mereceu a invasão, porque não havia petróleo no meio. Desta vez, a guerra vai redesenhar o mapa de toda a região, introduzindo um novo poder imperial. Todos sabem que os EUA pretendem instalar-se no coração do Oriente Médio por tempo prolongado ou indefinido. A Síria e a Arábia Saudita ficarão totalmente cercados por tropas e bases militares norte- americanas. O Irã ficará parcialmente cercado. Os EUA poderão intervir em qualquer país da região sem ter mais que pedir apoio terrestre para nenhum país – como atualmente dependem do Kweit e da Turquia para poder invadir o Iraque. Os EUA passarão de ser uma potência com forte influência regional através da coalizão com aliados locais, para ser uma potência regional, capaz de operar com seus próprios meios. Além de que, uma vez instalados no Iraque, os EUA se apropriarão da segunda reserva mundial de hidrocarburos, podendo transformar significativamente o mercado mundial de petróleo. Os EUA poderiam dobrar rapidamente a produção, fazendo diminuir os preços do petróleo, enfraquecendo a OPEP e, com ela, países como a Líbia, o Irã, a Venezuela. Os EUA poderão recompor as reservas à sua disposição, distanciando-se do atualmente incômodo aliado da Arábia Saudita e favorecendo a retomada do desenvolvimento da economia norte-americana. Com essa guerra os EUA começam a pôr em prática seu novo projeto para o Oriente Médio, de importar os modelos de democracia liberal e de economia de "livre mercado" para a região, considerando que isto significaria "modernizar" os países árabes, partindo do modelo "ocidental"' na região – Israel. Trata-se de instalar a "guerra de civilizações" no coração do Oriente Médio. As tentativas de derrubar o governo de Arafat fazem parte da obsessão atual de que a missão dos EUA é "modernizar", "democratizar", introduzir o capitalismo de mercado no conjunto da região, começando pelo Iraque e pela Palestina, para depois, seja pela pressão e pelas ameaças, com bases militares na fronteira do Irã, da Arábia Saudita, do Kweit, da Síria, da Turquia e da Jordânia, seja por novas intervenções diretas, estender essa mancha de "civilização" desde dentro da "barbárie" do mundo árabe. Os EUA dispõem da superioridade militar suficiente para teoricamente conseguir impor uma guerra de prazo curto, pagando um preço relativamente baixo por atuar sem as condições políticas básicas para uma intervenção desse tipo, não importando o número de vítimas. Internamente estará iniciada a campanha eleitoral para a reeleição (como dizem alguns, para que Bush possa ser pela primeira vez eleito presidente dos EUA) do atual presidente no final do próximo ano. Ele terá revigorado o clima histérico de país sitiado pelos "terroristas" que têm lhe rendido tantos frutos. Externamente, caso possam resolver favoravelmente esta guerra, os EUA terão conseguido transformar a força em argumento, com a chamada "comunidade internacional" aderindo ou se adequando aos interesses e à ação belicista norte-americana. O mundo será mais instável e não menos, porque esta é a primeira de uma série de guerras e de demonstrações de uso indiscriminado da força e de desprezo por qualquer legalidade internacional. Terá surgido um novo império. Aquela liderado pela Inglaterra, de caráter colonial, ocupava militarmente territórios como se fossem partes do seu império. A hegemonia imperial norte-americano do século XX combinou influência ideológica, exploração e dependência econômicas, com intervenções militares. Este novo império norte-americano do século XXI combina elementos da dominação colonial – como já faz no Afeganistão e pretende fazer no Iraque -, com os outros – ideológicos e econômicos, pretendendo construir um império global centrado na sua indiscutida superioridade militar. Tudo articulado com valores liberais – política e econômicamente -, incluídos direitos humanos e liberdade de expressão. Desaba assim, com o modelo econômico neoliberal que generaliza o "tudo se compra e tudo se vende", a farsa do liberalismo como sistema político e ideológico que pretende encarnar a liberdade e a democracia, mas dissemina a discriminação, o desprezo da lei e a subjugação dos mais fracos. É chegada a hora de um outro mundo, de uma outra política, de uma outra economia, de uma outra cultura, de outros valores, que apontem para o renascimento do humanismo e da solidariedade. Os EUA, filho dileto e "milagre" privilegiado do capitalismo, exibe suas vísceras e expõem os limites de uma sociedade em que triunfam o mais forte e o mais rico. Ou saímos desse mundo ou sucumbiremos com ele.
https://www.alainet.org/pt/articulo/106934
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