Globalização ou globocolonização?

04/04/2006
  • Español
  • English
  • Français
  • Deutsch
  • Português
  • Opinión
-A +A
A reunião do G-8, o clube dos chefes de Estado das oito nações mais poderosas do mundo, prevista para esta cidade entre os dias 20 e 22 deste mês, atrai à terra natal de Cristóvão Colombo defensores e críticos do atual modelo de globalização. Um dos eventos alternativos mais importantes é o ciclo de conferências "Cultura e Política Mundiais", promovido pela Universidade de Gênova, na faculdade de arquitetura, que começa hoje (10) e termina dia 16. Dos debates deverá resultar um documento a ser entregue aos mandatários dos países que integram o G-8: EUA, Canadá, Inglaterra, Itália, França, Alemanha, Japão e Rússia. Na abertura do ciclo serão analisadas as perspectivas abertas pelos recentes avanços da genética, suas implicações diretas (clones) e indiretas (transgênicos) em nossa qualidade de vida. Cientistas, professores e artistas, provenientes, em maioria, do hemisfério Norte, debaterão também temas como "Globalização e conflitos", "Sistemas de informação e comunicação de massa" e "Direito à cultura". A globalização é, sem dúvida, a grande estrela de Gênova, sujeita a aplausos e vaias. Ela funciona como uma lente de aumento que permite à população mundial, não apenas enxergar as implicações internacionais dos problemas locais, mas também seus efeitos colaterais em nossas vidas. Para os chefes de Estado que, dentro de dez dias, estarão ilhados na praça de guerra que se arma em Gênova, a globalização, entendida como mundialização do mercado, é um avanço, cujos efeitos negativos são irrelevantes e podem ser corrigidos. Para os intelectuais que ocupam a trincheira de resistência da Universidade de Gênova, a globalização representa, de fato, a "ocidentalização" do mundo, com o objetivo de atender aos interesses do capitalismo em sua fase mais avançada, a da transnacionalidade dos oligopólios empresariais. É sintomático que o ciclo de conferências tenha preferido debater os aspectos culturais e políticos da globalização, em geral considerados menos relevantes que os econômicos. Para os organizadores das conferências, como os professores Marcello Danovaro e Cristiano Ghirlanda, mundialização não passa de um clichê demagógico daqueles que buscam, de fato, impor ao planeta um pensamento único com caráter de universalidade incontestável, o de uma parcela privilegiada do hemisfério Norte ­ onde 20% da população mundial consomem 80% da produção industrial do planeta. Não é a economia que se mundializa, é o mundo que se "economiciza", reduzindo todos os valores, materiais e simbólicos, ao preço de mercado. Tal fenômeno submete a cultura e a política à lei da oferta e da procura. Como a teoria econômica não fixa nenhum limite ao império do mercado, tudo que é objeto do desejo humano é reduzido às relações de troca, segundo as regras do sistema: um dos parceiros leva mais vantagem do que o outro. (Nós, brasileiros, já sabíamos disso desde que cunhamos a "lei do Gérson"). No plano cultural, a criatividade tende a abandonar as ousadias do espírito humano para adequar-se à fôrma do mero entretenimento, como os enlatados que entopem nossos canais de TV. No plano político a Itália exibe um exemplo óbvio, com a eleição de Berlusconi. A agenda política dos países passa a ser ditada, cada vez mais, pelos interesses das transnacionais e, cada vez menos, pelas reais necessidades nacionais. A política abandona progressivamente sua função de administrar o processo econômico e social interno, para gerir estratégias financeiras impostas aos países de fora para dentro. No plano cultural, toda a comunicação de massa tende a torna-se mero apêndice publicitário, voltada mais a formar consumidores que cidadãos. A Internet, embora represente uma revolução estrutural apresentada como um veículo de informação global, é um produto cujos conteúdo e tecnologia são monopólios ocidentais. Depara-se, hoje, com um grande paradoxo: quanto mais se fala de liberdade de informação, mais os meios são enfeixados em mãos dos grandes atores econômicos que impõem, a todos os habitantes do planeta, um mesmo modo de pensar e de viver, tudo em função desta soberana senhora: a mercadoria. É a "mcdonaldização" do mundo, reduzido também a um só paladar.
https://www.alainet.org/pt/articulo/105250
Subscrever America Latina en Movimiento - RSS