O que fazer com os nossos ricos?

27/01/2000
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Já que os pobres têm - pelo menos por quinze minutos - quem se ocupe deles, é chegada a hora de preocupar-nos, de uma vez por todas, com outra questão, mais aguda, urgente e complexa: o que fazer com os nossos ricos? Antes de tudo será necessário definir quem é rico. À primeira vista eles eram identificados pelo fato de ser "milionários". O primeiro deles teria sido um escocês chamado John Law, segundo um historiador da riqueza, James Buchnan. Law teria chegado a essa condição em 1719, quando vivia em Paris, graças a um projeto financeiro excepcional, em que ele convenceu o governo francês, falido e desesperado, a lhe confiar o conjunto do comércio exterior do país, bem como vasta extensões de suas colônias americanas. Foi assim que ele foi catalogado como o primeiro milionário, antes que seu projeto fosse arrasado pela inflação e sua casa fosse atacada pela malta e ele morresse completamente arruinado. Como aquela meta parecia quase impossível de ser atingida, os britânicos tiveram que inventar uma categoria um pouco abaixo daquela a que havia chegado Law: a de semi-milionário. Hoje felizmente a situação melhorou: a cada semana um número maior de britânicos conseguem ser milionários do que durante todo o século XIX, de forma que o número de milionários na Grã Bretanha teria avançado, ao longo do século XX, de 7 mil para 142 mil. A sua cara também mudou. Os super-ricos são banqueiros ou jogadores de futebol, atores ou dirigentes de empresas de informática, economistas ou diretores de cinema, dirigentes de empresas privatizadas, donos de empresas de mídia, investidores na bolsa. Ocupar-se do dinheiro dessa gente, por si só, tornou-se uma ocupação em ininterrupta expansão, com novos bancos especializados em oferecer-lhes negócios especialmente destinados a quantias excedentes, além dos respectivos serviços jurídicos de evasão fiscal, que fazem da advocacia fiscal a mais cotada dos ramos da profissão. De investir em paraísos fiscais a comprar imóveis de rápida valorização, de financiar campanhas eleitorais com retornos econômicos seguros a comprar obras de arte e valores nas bolsas - é preciso um grande tino para perseverar na riqueza. Até um certo tempo, os ricos tratavam de esconder essa condição, seja com medo do fisco ou dos ladrões, ou simplesmente por pudor, num mundo cercado de miséria ou ainda como temor a que se investigue a origem de seus bens. Mais recentemente, uma espécie de neo-calvinismo se instaurou entre os ricos: com os iuppies dos anos oitenta, instaurou-se a ostentação. Ser pobre ou falir voltou a ser demonstração de incompetência, de imperícia, de falta de qualificação. Mas como evidenciar essa qualidade superior, quando tantos podem comprar carros importados? Além disso, como conseguir gastar tanto dinheiro? A casa de família dos Gates, com seus 4.200 metros quadrados, custou-lhes 100 milhões de dólares, dos quais 6,5 milhões tiveram que ser gastos apenas para fazer uma piscina jeitosinha. Tudo acabou saindo por 24 mil dólares o metro quadrado. Assim, para dar um empurrãozinho na economia, as despesas com produtos de luxo felizmente aumentaram quatro vez mais rápido nos EUA do que o consumo total. O turismo sofisticado aumentou em 130% na primeira metade dos anos noventa, enquanto os carros de luxo - os que custam maus de 30 mil dólares - representaram 12% do mercado em 1996, quase dobrando em relação a dez anos antes. Finalmente, para quem quiser gastar um pouco do que dispõem, oferece-se uma lista de oportunidades: um jato A319, com opcionais internos em ouro, fabricado pela Airbus, por 40 milhões de dólares. Um colar de diamante, parecido com o que costuma usar Naomi Campbell em noites de gala, fabricado pelo produtor de diamantes De Berrs, 39 milhões de dólares. Obra de arte assinada por Jack Pollock: 18 milhões de dólares. Um dos quatro exemplares de relógios Patek Phillipe Calibre 89 fabricados: 2,7 milhões. Mais baratinhos: uma boneca Barbie incrustrada de diamantes: 62,4 mil dólares. Uma calça jeans Gucci sob medida, ornada de plumas e de pérolas africanas: 3.120 dólares. Esperamos com estas linha ter tornado menos dura a condição dos ricos, pelos quais ninguém se interessa, nem o fisco.
https://www.alainet.org/pt/articulo/105204
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