PT: alargar a plataforma
06/10/2005
- Opinión
Não sou filiado ao PT porque estimo que um intelectual deve tentar pensar o todo e não a parte, de onde se deriva partido. Mas como cidadão estou interessado no resgate do PT como patrimônio que o povo organizado, os movimentos sociais, as esquerdas e a Igreja da Libertação ajudaram a construir. Depois de ter passado pela clínica que o depurou vejo seis pontos fundamentais que podem consolidá-lo.
Em primeiro lugar, há de se reassumir a bandeira das mudanças. A desigualdade social é absolutamente irracional e inaceitável. Por razões políticas, éticas humanitárias alguém deve assumir essa causa e esse é o PT que, no caso, mais acumulação possui e mais experiências pode apresentar.
Em segundo lugar, estas mudanças devem ser feitas a partir de baixo, das vítimas do processo social perverso que estigmatiza nossa sociedade. Por isso o PT tem que voltar às bases, articular-se com os movimentos sociais (não aparelhar) e criar ai a base de apoio principal. O povo deve ser o principal destinatário e beneficiário das mudanças. A política não pode ser apenas distributiva mas redistributiva, isto é, deve tirar dos ricos e repassar aos pobres.
Em terceiro lugar, tudo deve ser feito no quadro da democracia sem fim.
Nada de golpismos ou violência insurgente. Mas radicalizar a democracia como valor universal a ser realizada em todas as instâncias até chegar à economia. Democracia sem fim e integral é sinônimo de socialismo no sentido de colocar o social como eixo estruturador de tudo.
Em quarto lugar, a política deve ser orientada pela ética da transparência. Isso exige controle dos processos e rotatividade no poder.
Nada, portanto, de "ditaduras" de um grupo como o "campo majoritário".
Quem viola a ética política deve ser excluido do partido. Aqui o PT deve ser intransigente e exercer tolerância zero.
Em quinto lugar, o PT deve ser um partido contemporâneo que deixa para trás o velho paradigma antropocêntrico e assumir a fase planetária da humanidade. No novo paradigma, a Terra é entendida como viva e única Casa Comum que temos para morar, com superpopulação, recursos escassos e sob ameaça da máquina de morte que a nossa civilização demente criou a ponto de poder exterminar a espécie humana e ferir gravemente a biosfera. Há pouca massa crítica no PT sobre esses temas. O PT do Acre é o que mais avançou nesta área e pode ser inspirador. Os estrategistas do partido devem inserir este horizonte em sua política local e mundial para alcançarem o nivel de consciência exigido pelo desafio atual. Ademais, o futuro da humanidade e da vida depende em grande parte do que faremos com a Amazônia, com os recursos hídricos, com a biodiversidade e a abundância de fontes alternativas de energia.
Em sexto lugar, o PT deve estar aberto à dimensão espiritual da existência. Primeiro, porque o povo possui claramente esta marca, depois porque o pensamento científico de ponta especialmente as ciências da vida e a nova cosmologia se abrem ao espiritual como uma dimensão do humano.
Ser espiritual é libertar-se do materialismo prático e fazer-se sensível à gratuidade, à troca das intersubjetividades e ao encantamento face ao mistério das coisas. Esse dado pré-político ajuda a dar qualidade à política e ao político.
A crise atual é oportunidade para o PT enriquecer sua plataforma.
Caso contrário faz remendos em roupa velha.
- Leonardo Boff é Teólogo.
https://www.alainet.org/pt/active/9401?language=es
Del mismo autor
- O risco da destruição de nosso futuro 05/04/2022
- Reality can be worse than we think 15/02/2022
- ¿Hay maneras de evitar el fin del mundo? 11/02/2022
- Há maneiras de evitar o fim do mundo? 08/02/2022
- The future of human life on Earth depends on us 17/01/2022
- El futuro de la vida depende de nosotros 17/01/2022
- A humanidade na encruzilhada: a sepultura ou… 14/01/2022
- “The iron cage” of Capital 04/01/2022
- Ante el futuro, desencanto o esperanzar 04/01/2022
- Desencanto face ao futuro e o esperançar 03/01/2022
Clasificado en
Clasificado en:
