O dono da voz

22/09/2005
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A voz do senador Bornhausen - que é na verdade a voz do dono da voz, pois seu PFL não passa de uma mera laranja do PSDB - é criminosa com a história e com a dignidade do povo brasileiro. Não merece crédito nem respeito histórico. A voz do senador Jorge Bornhausen, que também é presidente do PFL, cada vez se parece mais com a voz do dono da voz. Sua voz sempre é vocalizada em um tom mais adiantado em relação aos fatos, em relação à interpretação dos momentos políticos e à prescrição de veredictos políticos. É uma espécie de passo adiante, um pé na porta, um teste de porvir para testar a viabilidade do achincalhe político. Não que o senador esteja se precipitando nas suas posições. Logo ele, uma velha e conhecida raposa pertencente à pior espécime da oligarquia política brasileira, faz o jogo medido, o jogo calculado pelo conservadorismo nacional. Não comete nenhuma precipitação, nenhum açodamento, apenas desempenha funcionalmente o papel abjeto que o dono da voz prefere não exercer diretamente, delegando à fração maltês de sua classe. Sim, porque o dono da voz se julga a intelligentsia, o cérebro e a expressão de uma opção moderna para o Brasil, não podendo dedicar-se ao exercício direto de baixezas. Daí a delegação de funções. Sua voz - a voz do senador - também tem verbalizado desejos e sentimentos golpistas, racistas e fascistas que caíram muito ao gosto do dono da voz. Apregoou antes de todos e de qualquer prova o impeachment do Presidente, comemorou o que seria a extinção da "raça" de petistas, e ultimamente acusa o governo Lula como o responsável pela maior crise e corrupção da história do Brasil. A voz do senador - que é na verdade a voz do dono da voz, pois seu PFL não passa de uma mera laranja do PSDB - é criminosa com a história e com a dignidade do povo brasileiro. Este senador e o bloco reacionário que representa, não merecem crédito e menos ainda respeito histórico. Em termos ancestrais, o PSDB e PFL significam 502 anos de espoliação e entreguismo do país e opressão e exclusão do povo brasileiro. Em termos mais factuais, o PSDB e o PFL representam a gênese do maior esquema de corrupção já montado no país e da desconstituição da coisa pública. Saquearam o patrimônio público com as privatizações bilionárias, compraram a reeleição do FHC e inventaram o valerioduto com o presidente nacional do PSDB, Eduardo Azeredo, comandando a maquinaria. Estranhamente, a voz do senador silencia diante destes fatos. O dono da voz e a grande mídia tratam o atual momento de crise como uma oportunidade de ouro, uma chance de aplacar o que de mais generoso e promissor a esquerda brasileira foi capaz de construir: o Partido dos Trabalhadores. Eles deliberadamente não nominam os petistas responsáveis e envolvidos em práticas deploráveis, mas repetidamente se referem ao governo "do PT" ou ao PT. É este símbolo, esta sigla e esta estrela que eles buscam destruir no imaginário do povo brasileiro. Sabem que construir uma experiência tão rica e extraordinária como o PT demanda décadas e gerações, por isso são científicos e semióticos nos ataques que fazem. A resposta que a militância do PT deu ao senador e ao verdadeiro dono da voz, foi esta magnífica demonstração de vitalidade e de pujança militante, de que mantém sua disposição de refundar o PT a partir de sua vocação original de um partido socialista, democrático e plebeu, cujos integrantes não são mimetizados pelos valores carcomidos e deploráveis da classe dominante brasileira. O PT tem de ter a humildade para reconhecer os erros cometidos por um corpo dirigente que além de incorrer em prática anti-éticas, o fez por tratar o PT como um partido igual aos demais, sem nitidez programática, compromisso de classe e visão estratégica dos desafios para mudar o país. Mas não podemos jamais aceitar que aqueles oligarcas que comprometeram as possibilidades de futuro do Brasil busquem cinicamente retomar a condução do país. Não voltarão!! - Jeferson Miola é integrante do Instituto de Debates, Estudos e Alternativas de Porto Alegre (Idea), foi coordenador-executivo do 5º Fórum Social Mundial.
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