Mais de 300 agentes secretos circulam pelo Rio de Janeiro

24/06/2007
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Jogos Pan-americanos levam a cidade a entrar em estado de alerta sob a alegação de prevenção de atos terroristas

O Rio de Janeiro tem se preparado há mais de dois anos para sediar os próximos Jogos Pan-americanos, a serem realizados a partir de 13 de julho. Além das obras de infra-estrutura em vários pontos da cidade, muitas delas atrasadas, os organizadores do Pan têm se dedicado com prioridade à questão da segurança. Em função deste item, o Rio de Janeiro já entrou em fase de "alerta máximo", segundo as autoridades, destinado a garantir a segurança de atletas e delegações durante a competição contra supostas ações terroristas.

O governo federal está investindo R$ 565 milhões na segurança do Pan. O diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Márcio Paulo Buzanelli, revelou que já circulam pelas ruas do Rio mais de 300 agentes secretos, com a missão de prevenir eventuais ações terroristas, mesmo estando o Brasil e o Rio distantes do foco do terrorismo internacional. A Abin conta com a ajuda de representantes dos serviços secretos dos Estados Unidos (CIA), da Itália, Espanha, Alemanha e África do Sul.

O secretário nacional de Segurança Pública, Luiz Fernando Correa, revelou em entrevista ao Jornal do Brasil que agentes da Abin, da CIA e do FBI já monitoram, 24 horas por dia, um número não revelado de estrangeiros que desembarcaram ou desembarcarão no Rio. Correa disse que se trata de uma "lista de cautela", elaborada pelo serviço de inteligência brasileiro com a colaboração do FBI, da Interpol da Europa e com informações repassadas pelos 42 países que participarão do Pan. Correa admitiu que neste momento há pessoas que estão sendo monitoradas pelos serviços de inteligência, mas não revelou nomes, muito menos o número delas.

As autoridades não escondem que a maior preocupação é com a segurança dos atletas da delegação estadunidense, embora não há nada indicando a possibilidade de alguma ação terrorista no Pan tenha sido detectada pelos serviços secretos estrangeiros. Para o secretário de Segurança Pública, o fato de nada ter sido indicado não "autoriza o país a relaxar nos cuidados".

A ação de agentes secretos estrangeiros da CIA e do FBI no Rio de Janeiro foi considerada um fato normal pelo prefeito César Maia. Em entrevista aos correspondentes estrangeiros sediados no Rio, o político do Democratas (ex-PFL) revelou inclusive que já se reuniu com alguns desses agentes na sede da Prefeitura e garantiu que eles não vão interferir em nada em termos de segurança do PAN. Segundo Maia, o objetivo da presença deles é apenas o de evitar "ações terroristas" e chegou a afirmar que a segurança é "coisa nossa".

Protestos estarão sujeitos a repressão

Um ponto que provocará problemas é o que diz respeito a realização de protestos durante o Pan. Qualquer ato público desta natureza terá que ter a autorização prévia da Abin e da Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), organismos responsáveis pela integridade física dos competidores do Pan.

Segundo Luiz Alberto Sallaberry, assessor de Planejamento do Comandante da Abin, os eventuais manifestantes ligados a ONGs que vierem do exterior serão também monitorados 24 horas por dia. Tanto a Abin como a Senasp alegam que as medidas preventivas são amparadas por uma legislação internacional que proíbe a realização de protestos sem autorização durante grandes eventos como a Copa do Mundo de Futebol ou Olimpíadas. A regra dispõe que se alguma manifestação for realizada sem aviso prévio, os integrantes da Força Nacional de Segurança, que já estão em ação no Rio de Janeiro, serão acionados para reprimir o protesto.

Cerca de 2 mil agentes desta força estão em ação no Rio de Janeiro. Os efetivos achegarão a 18 mil agentes, entre homens da Força Nacional de Segurança, da Polícia Federal e da Polícia Rodivária Federal. A estes se somarão as forças estaduais de segurança.

Um dos possíveis prejudicados são os professores do Rio de Janeiro, por exemplo, que se opõem à aprovação automática defendida pelo prefeito César Maia. Se eventualmente programarem algum ato público de rua durante o Pan, terão que seguir os trâmites burocráticos estipulados para não ficarem sujeitos à repressão. O mesmo acontece com os moradores de algumas favelas do Rio de Janeiro, inclusive os que moram próximas dos locais programados para a realização das competições do Pan, que têm protestado constantemente contra a repressão policial ou a utilização do "Caveirão", o carro blindado acionado para agir em áreas crentes da cidade. Como são manifestações espontâneas, muitas vezes não programadas por dirigentes de entidades, dificilmente a determinação das autoridades será seguida nesses casos.

Há várias semanas funciona um Centro de Inteligência dos Jogos construído num bairro do Rio próximo à Estação Rodoviária. O Centro, segundo o Jornal do Brasil, é composto por mais de 100 computadores equipados com programas de investigação desenvolvidos pela CIA e que mesmo depois dos Jogos servirá como unidade de apoio às forças de segurança do Estado do Rio de Janeiro no combate ao tráfico de drogas.

Até agora, já foram credenciadas mais de 60 mil pessoas. A checagem dos que pedem credenciamento é rigorosa, incluindo a verificação criminal em mais de 70 países parceiros da Abin. Estima-se que um total de 120 mil pessoas peçam ainda o credenciamento. Segundo Sallaberry, até quem tiver passado cheque sem fundo não conseguirá a autorização.

Esquema de segurança desta natureza nunca houve no Rio de Janeiro, mesmo quando a cidade foi palco da Conferência sobre Clima Rio-92, que reuniu centenas de chefes de Estado de várias partes do mundo.

Fonte: Brasil de Fato


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