O presidente fake news

13/03/2019
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Nos primeiros 68 dias na presidência da República, Jair Bolsonaro fez 82 declarações falsas ou distorcidas. Os números, do levantamento feito pelo site aosfatos.org, que faz a verificação de informações veiculadas pelas redes sociais e pelo WhatsApp, são preocupantes. As questões envolvidas nas distorções e falas falsas propagadas pelo representante maior do país deixa a forte impressão de manipulação política e ideológica.

 

Separei algumas frases que fazem um pequeno painel das bravatas do capitão. Vamos a elas:
"...libertando-a (a nossa pátria), definitivamente, do julgo da corrupção, da criminalidade". Ao procurar a veracidade ou não desta afirmativa, o site constatou que seis ministros de Bolsonaro são investigados pela Justiça. O ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, por exemplo, que ocupa a sala ao lado do presidente no Palácio do Planalto, é suspeito de uso de caixa dois. Como Bolsonaro afirma que vai acabar com a corrupção se seu principal ministro confirma ter recebido contribuição não declarada da JBS?

 

Sobre o caso envolvendo o colega de farda, Fabrício Queiroz, Bolsonaro afirmou: "Quebraram o sigilo bancário dele (do Queiroz) sem autorização judicial". O Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), órgão administrativo criado por lei para investigar crimes de lavagem de dinheiro e ocultação de bens, recebe desde 1998 informações financeiras e transações de alto valor de bancos, joalherias e imobiliárias. Essas informações são analisadas e checadas com as bases de dados. O banco que Queiroz tinha uma conta constatou movimentação suspeitas nos anos de 2016/17.

 

O relatório do Coaf foi enviado ao Ministério Público do Rio de Janeiro e anexado ao inquérito "Furna da Onça", um desmembramento da Lava Jato. Como se sabe, o ex-assessor do deputado estadual e senador Flávio Bolsonaro, Fabrício Queiroz, não compareceu até hoje à sede do MP-RJ pra prestar esclarecimentos.

 

Em outros momentos o presidente tenta incriminar um partido de oposição: " O elemento (Adélio Bispo de Oliveira preso por ter esfaqueado Bolsonaro em Juiz de Fora) era filiado ao PSOL" Na verdade, Adélio foi filiado ao PSOL de Uberada entre 2007 e 2014. Portanto, na época do atentado ele não era mais filiado ao PSOL. Aliás, esta também é uma investigação que ainda não foi encerrada e que vem sendo mantida em sigilo absoluto.

 

Recentemente, em uma solenidade no Corpo de Fuzileiros Navais no Rio de Janeiro, o presidente fez uma afirmação que chocou os democratas de todo o país: " ... a democracia e a liberdade só existem quando as Forças Armadas assim o querem". O assunto viralizou nas redes sociais e desagradou parte dos oficiais das Forças Armadas. O art. 1º da Constituição brasileira é claro ao determinar que a soberania é civil e democrática: "Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição".

 

Em negativa da afirmação do ex-ministro da Secretaria Geral da Presidência, Gustavo Bebianno (acusado de ter feito repasse de dinheiro de uma candidata laranja do PSL) de ter conversado três vezes com Bolsonaro, o presidente foi categórico: "Em nenhum momento conversei com ele [Bebianno]". Como mentira tem perna curta, dias depois da afirmativa do presidente, áudios foram revelados pela revista Veja confirmando as conversas em que Jair Bolsonaro, bem irritado, acusava Bebianno de vazar informação para a Folha de São Paulo e ainda criticava seu ex-ministro de traição por ter marcado uma reunião com executivos da Rede Globo.

 

Para não cair no esquecimento lembro ainda das tuitadas do presidente que tiveram repercussão internacional no Carnaval. Bolsonaro postou imagens pra lá de obscenas e ainda perguntou aos seus seguidores o que era "golden shower".

 

No fim de semana o presidente ataca uma jornalista e seu pai utilizando informações de uma fake news produzida por uma assessora parlamentar do PSL: "Constança Rezende, do "Estado de SP", diz querer arruinar a vida de Flávio Bolsonaro e buscar o impeachment do Presidente Jair Bolsonaro. Ela é filha de Chico Otavio, profissional do "O Globo". Querem derrubar o Governo, com chantagens, desinformações e vazamentos." A repórter não fez tal declaração e teve que excluir sua conta no Twitter para se proteger de ataques dos seguidores do capitão.

 

Os políticos, de maneira geral, se utilizam de meias verdades para escapar de perguntas perigosas feitas pelos jornalistas, mas este não é o caso de Bolsonaro. Ele não dá entrevistas, não gosta de jornalistas e se comunica através de lives. Com isso, Bolsonaro não se expõe e acaba se protegendo, talvez, da sua falta total de preparo intelectual para o cargo. A questão para nós passageiros do Transatlântico Brasil é que o capitão não sabe conduzir o timão e, em vez de pedir ajuda, finge que está sendo perseguido pelos marujos. Se trancou na cabine e não fornece as informações necessárias para termos uma ideia do barco furado que nos meteram.

 

- Florestan Fernandes Júnior é jornalista, escritor e integrante do Jornalistas pela Democracia

 

12 de Março de 2019
https://www.brasil247.com/pt/colunistas/florestanfernandes/386510/O-presidente-fake-news.htm

 

https://www.alainet.org/es/node/198676
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