Eleitores da Frente Ampla podem decidir eleição chilena

30/11/2017
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A decisão de apoio mais esperada das eleições chilenas para o segundo turno, no dia 17 de dezembro, ficou nas mãos da coalizão de esquerda, Frente Ampla (FA). Destaque inesperado do primeiro turno, com 20,27% dos votos para a candidata Beatriz Sánchez, a coalizão, tida como vencedora do primeiro turno, saiu de uma base de três deputados para 20 parlamentares na Câmara, e somam agora uma bancada maior que a da tradicional Democracia Cristã (DC). Em março de 2018 assume o presidente e o novo parlamento chileno.

 

Ainda que oficialmente não se tenha a decisão da Frente, esperada para amanhã, nas ruas de Santiago já é possível ver a campanha daqueles que compõem a fórmula de esquerda e pedem apoio ao atual governo. Em cartazes, pedem que seus eleitores votem a Alejandro Guillier, Nova Maioria, candidato de Michelle Bachelet, que enfrenta o direitista Sebastián Piñera, de Chile Vamos. “Para vencer amanhã será com Bea (apelido de Beatriz)... mas hoje é Guillier”.

 

A discussão política hoje no Chile gira em torno do que fará o eleitorado de esquerda, da Frente Ampla, se votará a Guillier ou não. Aqueles que costumam ser caracterizados como mais ideologizados, resistiriam a votar a Guillier para que não ganhe Piñera. Em algumas conversas informais em Santiago, com eleitores de Sánchez, me deparei com ambas declarações, tanto daqueles que votarão para que não ganhe Piñera, o chamado voto útil, como também aqueles que dizem de forma alguma servir a nenhum dos dois candidatos.

 

A centro-esquerda passa por um momento de descrédito no Chile. A votação de Guillier no primeiro turno, com 22%, foi a pior da história da Concertación, antiga coalizão dos partidos de centro-esquerda e esquerda, formada pós-ditadura do general Pinochet e que governou o país por 20 anos, até o primeiro governo de direita, de Piñera, em 2010. Em 2013, a Concertación já estava dividida, não integraria a Democracia Cristã (DC), um partido de centro, e somaria também o Partido Comunista do Chile (PC). A Concertación assim passou a ser Nova Maioria, quando elegeu Bachelet para este segundo mandato, em 2013.

 

A DC ficou em quinto lugar no primeiro turno das eleições. A candidata Carolina Goic somou 5,88% dos votos, atrás de José Antonio Kast, de extrema direita e pinochetista, que fez excelente marca, com 7,9%. Os resultados podem deixar os democratas-cristãos muito enfraquecidos na política nacional, avalia-se, devido à perda de cadeiras na Câmara. Elegeram 14 deputados para o próximo mandato e contam com 22 deputados, neste período.

 

O partido discute internamente se foi um erro sair com candidatura própria, e se questiona ainda a pressa com que declararam apoio a Guilier, logo após os resultados do primeiro turno, atitude que para alguns membros da Democracia Cristã foi algo desleal com a candidatura de Goic. Além do mais, se considera que os democratas-cristãos ainda não sabem qual espaço podem chegar a ter em um eventual governo de Guillier e, ainda, qual decisão irão tomar frente a uma parceria ou não durante o mandato.

 

Vozes da Frente Ampla

 

Eleito deputado nestas eleições, Tomás Hirsch, líder do Partido Humanista (PH), um dos seis partidos que compõem a Frente Ampla, nega que a coalizão vislumbre espaço num possível governo de Alejandro Guillier. Historicamente, o PH faz campanha ao voto nulo no segundo turno das eleições presidenciais.

 

“Não vejo ninguém dentro da Frente Ampla pensando em formar parte do governo. Temos perspectivas muito diferentes da Nova Maioria, sobre o que é necessário fazer no Chile”, afirmou Hirsch. No entanto, pergunta-se quais seriam as possibilidades de a coalizão agir de forma coordenada e única, dada a quantidade de partidos e suas naturais divergências.   

 

Logo após o resultado do primeiro turno das eleições, Guillier decidiu quem irá compor a nova equipe, entre os diferentes partidos que formam a coalizão Nova Maioria, para sua campanha neste segundo turno. Enquanto o Partido Socialista (PS) terá um papel central, o Partido Comunista (PC) protestou por ter sofrido o que chamou de “marginalização” dentro do quadro de líderes.

 

Assim, Guillier terminou por chamar a deputada do PC, Camila Vallejo, que foi líder de movimentos estudantis, e surgiu como destaque no cenário da política nacional, após as marchas de 2011, pela educação pública, durante o governo de Piñera. Vallejo é parte da nova geração de jovens que atuam com destaque na política chilena e se consolidaram a partir dos protestos pela educação. Outros ex-líderes estudantis estão na Frente Ampla.

 

- Maíra Vasconcelos, especial para Jornal GGN

 

29/11/2017

https://jornalggn.com.br/noticia/eleitores-da-frente-ampla-podem-decidir-eleicao-chilena-por-maira-vasconcelos

 

https://www.alainet.org/es/node/189531
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