As cidades mortas

21/06/2017
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Foto: antiga indústria de Pelotas/RS
abandonada com a desindustrialização
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Cidades são ecossistemas. E como tal, são vivas, nascem, crescem e morrem. Algumas surgem do nada, como parte complementar de um projeto maior ou decorrência de assentamentos provisórios. Outras são planejadas. Algumas seguem vivas e dinâmicas e outras morrem em vida. As últimas que chamam mais atenção.

 

A grande diferença das cidades para a maioria dos demais ecossistemas e a sua capacidade de renascimento. Mesmo com a morte decretada, as cidades podem encontrar elementos capazes de refazê-las. Isto se deve ao fato destas também se constituierem em universos de organização social e, quando a própria sociedade encontra novos caminhos, estes fazem as cidades ressurgirem. Contemporaneamente existe um instrumento forte para este renascimento que é o ato de planejar. Cidades que pensam no seu futuro possuem maior viabilidade do que aquelas que vivem de dinâmicas momentâneas.

 

As décadas de 1980 e de 1990 foram pródigas na morte de ambientes urbanos, especialmente em razão da desindustrialização e da estagnação econômica. Grandes metrópoles amanheceram do dia para a noite com a falência do seu modelo de desenvolvimento. Cidades portuárias deixaram de ser atrativas e o capital ficou volátil e migrou com grande facilidade. Respostas que antes funcionavam deixaram de apresentar resultados e foi necessário encontrar caminhos de sobrevivência.

 

Algumas cidades venderam a alma em projetos estanques e foram massacradas pelo fantasma da gentrificação urbana. Outras ampliaram a sua base de participação, reorientaram o seu modelo de organização, se reconstruíram e, mesmo em momentos de crise, conseguiram ressurgir de escombros.

 

Muitas das cidades que renasceram souberam aproveitar os momentos de “vacas gordas” para se reestruturar, sempre pensando à frente. Outras foram engolidas pela soberba e afundaram na falência da primeira empresa. O certo é que alimentar qualquer modelo de desenvolvimento baseado exclusivamente em uma ou poucas matrizes econômicas gera dependência e crise. As cidades que sobrevivem às crises são multidiversas, inclusive sob o ponto de vista econômico, e possuem melhor distribuição de poder social.

 

De alguma forma, as cidades que sobrevivem são aquelas que aprendem, muitas vezes com a própria natureza, sendo capazes de se reinventar. Viver no passado, olhando um passado glorioso em meio aos esqueletos do apogeu econômico é apenas uma forma de alimentar o sofrimento. O passado serve como aprendizado para não cometer os mesmos erros. O certo é olhar para frente, pois o futuro ainda é uma um universo de alternativas abertas…

 

Sandro Ari Andrade de Miranda, advogado, mestre em ciências sociais pela UFPel.

 

https://sustentabilidadeedemocracia.wordpress.com/2017/06/21/as-cidades-mortas/

https://www.alainet.org/es/node/186316
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