Haverá limites para a estupidez humana?

Um rápido debate sobre o “especismo” e a violência contra animais

03/12/2014
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chipanze-tigre
Amizade entre fêmea de chipanzé e filhote de tigre albino
(disponível na rede mundial de computadores)
 
 Embora o termo “especismo” tenha ganhado força com a obra notável de Peter Singer, “A Libertação Animal”, a palavra foi criada pelo psicólogo britânico Richard D. Ryder, um dos pioneiros contra a utilização de animais para testes em laboratórios.
 
Para Ryder, o “especismo” é mais uma das várias formas de discriminação praticadas pelo homem, desta vez contra as outras espécies. Segundo este autor, aqueles que praticam o “especismo subestimam as semelhanças entre o discriminador e aqueles que são discriminados”.
 
Mesmo sendo vegetariano, optei pela construção de um texto com caráter mais descritivo do que militante, apenas demonstrando a gravidade do problema do especismo para a sociedade, e a sua inserção num processo constante de degradação ambiental exclusão da diferença.
 
A preocupação de Ryder e de Singer se justifica em vários fatores, pois o ser humano é a única espécie animal que foi capaz de promover a extinção de outras espécies. Foi realizado um estudo recente, produzido pela American Journal of Primatology, afirmando que os chipanzés de Uganda poderiam levar outra espécie de primata, o colobo, à extinção, mas o estudo é falho, pois o principal motivo para a queda na população dos colobos não é a caça realizada pelos nossos parentes genéticos mais próximos, mas a degradação ambiental produzida pelo próprio no homem nas florestas locais.
 
Portanto, quando falamos na extinção de espécies, ou temos fatores exógenos (queda de um cometa) como a grande extinção dos dinossauros em passado remoto, ou a ação decisiva dos seres humanos, como no caso do mítico pássaro dodô, do leão europeu, do leão de atlas em diversas das suas regiões originais, dentre outras milhares de espécies.
 
A caça indiscriminada, a poluição e, principalmente, a destruição de habitats e ecossistemas são os principais responsáveis pela destruição de espécies numa luta injusta que inclui a pesca agressiva de tubarões, por exemplo.
 
Mas existem outros fatores que contribuem para a extinção de espécies, como a falta de saneamento e a própria disseminação de doenças transmissíveis para espécies do mesmo tronco genético, como é a ameaça do ebola para gorilas, chipanzés, bonobos, e outros grandes primatas africanos.
 
Além de fatores culturais, também devemos considerar que a caça como mecanismo de extinção de espécies também está associada à falta de alternativas de vida, como nos constantes ataques ao pacífico e imponente “gorila da montanha”, que serve para sustentar um mercado negro de partes do corpo, especialmente das mãos.
 
Também devemos considerar outros dois fatores, que são a ação do capitalismo selvagem e o egocentrismo estético dos seres humanos.
 
É a crescente busca por pastagens e pela expansão descontrolada da fronteira agrícola, com o uso de técnicas superadas no tempo (como é o caso das queimadas) que contribui para a destruição de ecossistemas relevantes, como no caso do Cerrado brasileiro e das regiões de savanas amazônicas, destruindo, assim, o espaço de sobrevivência de milhares de espécies, como o Lobo Guará, o Tamanduá-bandeira, e o símbolo da copa, o Tatu-bola.
 
Já o egocentrismo estético faz com que muitas empresas do mercado internacional de cosméticos ainda patrocinem absurdos e desnecessários testes laboratoriais em animais, ou que tubarões e tigres sejam caçados para a utilização de partes do corpo com a finalidade afrodisíaca ou estimulante. Neste último caso, sem nenhuma base científica que ofereça sustentação para tal prática.
 
Com relação aos testes laboratoriais em animais, a boa notícia é que muitas empresas brasileiras do setor estão livres desta prática selvagem, como é o caso do Boticário, da Feito no Brasil, da Naxca, dentre outros, o que garante uma importante vantagem comparativa comercial para a indústria nacional.
 
Mas a estupidez humana “especista” pode ganhar requintes de crueldade e atingir mesmo os animais que possuem a sua condição de animais de companhia socialmente sancionada, como no caso de cães e gatos.
 
Sob a tutela de uma Lei de Crimes Ambientais, neste ponto, inconsistente, o Brasil acompanhou dois escândalos absurdos, derivados de profunda covardia e ignorância. O primeiro foi o envenenamento de 126 cães e 3 gatos no Município de Bom Jesus no Rio Grande do Sul, pela ação de servidores públicos provavelmente comandados pelo ex-Secretário Municipal de Desenvolvimento. O Segundo foi a morte de pelo menos duas centenas de periquitos nativos em Manaus, Amazonas, pelas redes de proteção envenenadas de um condomínio de luxo. Em ambos alguns traços comuns, a irracionalidade, o egoísmo, e a covardia.
 
Somente covardes e criminosos podem sair por aí envenenando animais, algo que muitas vezes pode ser indicativo de psicopatia.
 
Tais fatos colocam uma questão fundamental: “Há limites para a estupidez humana?” Enquanto tivermos animais sendo covardemente envenenados, usados para a produção de cosméticos, atropelados ou indiscriminadamente caçados, a resposta continuará pendente. Afinal de contas, não podemos esquecer que até o sangue humano tem virado objeto de comércio em muitos hospitais privados, mesmo que a sua origem, em regra, seja a doação.
 
- Sandro Ari Andrade de Miranda, advogado no Rio Grande do Sul, mestre em ciências sociais.
 
https://www.alainet.org/es/node/165904
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