“Meu partido é Rio Grande”. Mas qual Rio Grande?

15/10/2014
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Foto: Mapa do Rio Grande, que separa os EUA do México.
 
 Já fiz diversas críticas aos candidatos que tentam desqualificar a política e os partidos políticos através de subterfúgios retóricos. Com exceção dos anarquistas catalães, da Revolução Espanhola, não conheço nenhum político que tenha acendido ao poder criticando os partidos e que não tenha enveredado para práticas autoritárias ou totalitárias.
 
Podemos citar vários, como Franco, também na Espanha, Mussolini, na Itália, Hitler, na Alemanha, dentre outros. Todos tinham partidos, todos apelavam para arquétipos, e todos se utilizaram da deseducação política como estratégia de poder.
 
Se o “Coraçãozinho de Rigotto” em 2002 não escondia o PMDB, Sartori, ao contrário, com seus braços abertos, está sempre escondendo o seu passado, apelando para um niilismo comercial e sem sentido para sustentar uma campanha sem base programática. E aí começa a morar o perigo!
 
Em âmbito nacional Aécio se utiliza de preconceitos de classe e de uma máquina de propaganda nazista, através dos grandes meios de comunicação, para fazer a sua campanha. Mesmo com modelo distinto, Sartori não foge a regra. Rigotto, como candidato, era bem mais consistente do que a “farsa sartorista“.
 
Aécio condena todos aqueles para que destila o seu preconceito, como nordestinos, gaúchos, trabalhadores, pobres, ou representantes das comunidades excluídas. Em todas as suas fotos, com exceção da suportada e demagoga presença de Marina Silva, aparecem brancos da classe média de São Paulo ou de famílias tradicionais, como os filhos de Eduardo Campos.
 
Já Sartori utiliza uma tática distinta. Optou pelo arquétipo do Gringo da Serra. Mas tão somente para isto. Seu discurso é um latifúndio improdutivo, pois “ele não promete, mas faz”. O candidato peemedebista utiliza uma estratégia voluntarista, pragmática. É mesma tática e o mesmo discurso utilizado de forma trágica por Benito Mussolini.
 
Mussolini também não prometia, apenas fazia. E assim como Sartori construía o seu discurso através de um arquétipo, o do “romano heroico”, um personagem enigmático que existe apenas no mundo dos ditadores. Já Sartori dissimula a sua imagem para se aproximar dos trabalhadores rurais, mas esconde de todos o seu projeto político.
 
Assim como Mussolini não tinha nada de heroico, Sartori apresenta de Gringo da Serra apenas a ascendência familiar. Os Gringos, como gostam de se autoproclamar os descendentes de italianos da Serra Gaúcha, sempre foram um povo corajoso, trabalhador, inovador e que não se nega ao embate.
 
O candidato da oposição fugiu de todos os debates em que não teve a mediação da RBS, sucursal gaúcha da Rede Globo, para lhe dar proteção. Portanto, não há nada de novo em Sartori, segue sendo um típico representante candidatos na nova direita, que dependem da mídia para lhe dar suporte..Se Fernando Henrique mandou esquecer aquilo que foi por ele dito ou escrito, o candidato do PMDB gaúcho tenta desesperadamente esconder o seu passado, vinculado a pessoas como Antônio Britto e Yeda Crusius.
 
O PMDB é um partido de centro, nas suas colunas perfilaram desde quadros de valor na luta democrática, como Ulisses Guimarães, a privatistas e neoliberais como Britto. Sartori sempre esteve do lado do segundo grupo, por isso a dificuldade para expor ao Estado o seu passado.
 
E o passado de Sartori não é convidativo. Ligado à onda privatista e neoliberal de Antônio Britto, acompanhou o ex-governador em processos como a venda da CRT, criada por Leonel Brizola, da parte lucrativa da CEEE, na extinção da Caixa Econômica Estadual, e na criação da “jaula de ferro” da dívida pública, talvez a pior herança do governo FHC.
 
Também foi parceiro fiel de Yeda, ex-governadora do Estado ligada à Globo/RBS, e seguidora da onda destruidora da estrutura administrativa do estado exercitada por Antônio Britto. Yeda criou as escolas de lata, e levou a economia do Rio Grande do Sul para o segundo nível.
 
Assim, se é impossível retirar alguma informação do projeto de Sartori, seguindo um ensinamento bíblico, devemos buscá-lo nas suas companhias: “diga-me com quem andas, que direi quem és”.
 
No cenário local o candidato da oposição já se juntou com Yeda e com Ana Amélia, duas representes da espiral neoliberal destruidora. No âmbito nacional, está acompanhado de Aécio Neves e de Marina Silva, dois representantes fiéis do capital financeiro internacional e defensores do Acordo de Livre Comércio das Américas – ALCA.
 
E aqui, conseguimos deslindar o verdadeiro Rio Grande de Sartori! Sua política não incorpora o Estado de Brizola, Jango e Olívio Dutra, mas uma metáfora simbólica da  fronteira entre Estados Unidos e México. O rio Grande de Sartori é a barreira física que divide ricos e pobres, dominantes e dominados, progressistas e conservadores. É a construção do “muro da vergonha”.
 
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Foto: Muro da Vergonha, na fronteira entre EUA e México
 
 Os acordos bilaterais propostos por Aécio, e o ALCA seriam uma tragédia para o Rio Grande do Sul, que tem a sua economia baseada em produtos de agricultura temperada e na Agroindústria. Por maior que seja a nossa capacidade produtiva, não teríamos como enfrentar os poderosos subsídios agrícolas norte-americanos. Portanto, o modelo de comércio internacional sustentado por Aécio e Sartori levaria a nossa economia ao colapso.
 
Além disso, tanto Aécio como Marina são defensores da privatização da Petrobrás, algo que quebraria com a crescente economia da metade sul do Estado, através do Polo Naval de Rio Grande e todo o seu efeito de extensão.
 
Como se observa, as escolhas de Sartori definem perfeitamente a sua linha política. Por mais que ele fuja dos debates, da discussão política, do comprometimento com a sociedade através da apresentação de projetos, carrega no seu DNA a agenda neoliberal.
 
Ninguém conseguirá executar bons projetos sem uma economia forte e competitiva. Não existe bom administrador de um Estado quebrado, salvo se o objetivo de Sartori foi virar “síndico de massa falida“.
 
Vou mais além: a fuga sistemática de Sartori da apresentação de projetos corresponde à sua total falta de compromisso com o futuro do Estado! Em Pelotas já tivemos um candidato com estratégia semelhante, na eleição do tucano Eduardo Leite, e o resultado dos seus quase dois anos de governo é a total ausência de serviços públicos, servidores desmotivados, e Pelotas transformada apenas em dormitório da pujante Rio Grande.
 
A ausência de programas e de projetos de Leite está fazendo a maior cidade da Zona Sul do Estado perder a “onda da história“, e ficar resignada a ponto de passagem. Será que o Rio Grande do Sul quer andar para trás com Sartori ou romper com a tradição de não dar continuidade a projetos, oferecendo oportunidade para continuar sendo uma das economias que mais cresce no país?
 
Dada esta situação, se tivesse oportunidade, eu faria apenas um questionamento para Sartori: “o que pretendes fazer com a CORSAN, com o BANRISUL e com o que sobrou da CEEE?”. Lembro que a CEEE é hoje uma empresa saneada, e que abriga o região mais dinâmica do Estado que é a Zona Sul de Rio Grande e Santa Vitória do Palmar. Não precisas responder Sartori, pois as tuas condutas passadas falam por si mesmas.
 
https://www.alainet.org/es/node/164739
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