Primeira conferência de imprensa é marcada por apelos pela paz

16/01/2004
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O fim das guerras e sua relação direta com a miséria e as injustiças sociais foi o tema que se repetiu nas declarações dos ativistas que participaram da primeira conferência de imprensa nesta IV edição do Fórum Social Mundial. A mesa foi composta predominantemente por ativistas do Oriente Médio, como Abdul Amir Rekaby, membro da Corrente Democrática Nacional do Iraque (hoje exilado em Paris), Mustafa Barghouti, um dos líderes da luta palestina e Secretário da organização Iniciativa Nacional Palestina e a advogada iraniana Shirin Ebadi, ativista no campo dos Direitos Humanos e Prêmio Nobel da Paz em 2004. Também conversaram com os jornalistas a vietnamita Nguyen Thi Binh, vice-presidenta da República Socialista do Vietnam, que lutou nos movimentos de resistência conta a dominação francesa – e depois norte-americana – em seu país e o inglês Jeremy Corbin, que lidera campanhas anti-guerra em seu país. Em todas as falas, o mesmo alerta: é preciso retomar a dignidade humana, respeitar os direitos humanos universais, lutar contra as injustiças impostas pelo imperialismo e pelos aspectos negativos da globalização. Como disse Shirin Ebadi, "viemos aqui anunciar que a pobreza absoluta é contra a dignidade humana; que os seres humanos que padecem de fome e com a guerra não têm destino e futuro." As questões nacionais defendidas por Amir Rekaby e Mustafa Barghouti trouxeram um pouco mais para o plano do concreto os apelos antimilitarismo. Se depender destes dois ativistas, o Fórum Social Mundial de 2004 vai servir para jogar luz sobre os conflitos na Palestina e no Iraque – segundo Mustafa, esta é a hora de quebrar aquilo que ele chama de "Conspiração do Silêncio". "A mídia não está mostrando a verdade. A Palestina hoje é um país que vive um apartheid, cortaram o país em pedaços, há mais de três anos não se pode ir e vir livremente, as leis internacionais estão sendo violadas e isso deve ser julgado pelas Nações Unidas. A ocupação na Palestina é uma violação aos direitos humanos, nossa luta é por liberdade e justiça". Para Barghouti, a questão palestina não deve ser tratada como uma negociação, mas sim como uma luta pela libertação, como aconteceu na Índia, na Nigéria, no Vietnã e na África do Sul. Já Amir Rekaby lembrou que o povo iraquiano precisa do apoio de todos os que se reúnem no Fórum Social Mundial para se posicionarem contra o poderio norte-americano. "Os movimentos progressistas são a base sobre a qual devemos construir nossas ações contra a presença dos EUA no Iraque. Precisamos de uma estratégia política clara contra a ocupação, e para isso, os movimentos progressitas precisam estar em solo Iraquiano". Tanto Rekaby quanto Mustafa Barghouti vêem o FSM como um espaço de fortalecimento de suas respectivas lutas. Barghouti afirma: "o Fórum Social Mundial é hoje o segundo superpoder no mundo. Não é um poder que vem das armas e do dinheiro, é um poder moral, um poder dos seres humanos – que não será superado". O inglês Jeremy Corbin lembrou aos jornalistas presentes que há caminhos bem pragmáticos para se chegar à uma oposição efetiva contra o imperialismo, chamando a atenção para um novo senso de unidade que pode nascer nas lutas contra a Oroganização Mundial do Comércio (OMC). Segundo ele, Brasil e Índia são um bom exemplo de como a solidariedade entre os povos pode ser posta em prática para que sejam feitas demandas específicas e conjuntas à OMC. "Um mundo de paz só pode ser alcançado quando houver justiça social". A situação das mulheres no Oriente Médio foi uma questão levantada durante a coletiva, numa pergunta feita a Mustafa. O ativista continuou seu discurso pela defesa dos direitos humanos, relatando algumas das atrocidades a que o povo palestino – em especial, as mulheres – está sendo submetido. "Não haverá uma sociedade livre onde as mulheres não sejam livres", afirmou. "Enquanto não resolvermos os problemas das mulheres não conseguiremos chegar à democracia, e a questão Palestina não diz respeito só a liberdade e independência: diz respeito também à democracia". A iraniana Shirin Ebadi aproveitou a deixa para ressaltar que por trás da opressão às mulheres está a cultura dominante do patriarcado. "O patriarcado não foi criado apenas por homens, é um sistema no qual as mulheres são vítimas e ao mesmo tempo, cooperam com sua continuidade. Não devemos esquecer que as mulheres também ajudam a continuar esta cultura", afirmou a ganhadora do Nobel, que comparou o patriarcado com a hemofilia – passado de geração em geração. Quando se encerrava a coletiva, subiu ao palco uma das fundadoras do movimento das Mães da Praça de Maio, Nora Cortino – que disse vir lembrar as mais de 30 mil pessoas desaparecidas na Argentina, durante a ditadura militar. Nora chamou o neoliberalismo de "fábrica de pobres" e pediu atenção para a luta de seu país contra o FMI. * Graciela Selaimen, RITS
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