“No más pobres, en un país rico”

O neoliberalismo tem deixado as suas marcas… têm 60% das cordilheiras dos Andes concessionadas, 60% do seu mar concessionado, 75% do seu território amazónico concessionado.

22/07/2021
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Pedro Castillo, é o novo presidente do Peru
Foto da candidatura de Pedro Castillo
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Lima, a estação da seca, temperatura agradável, cerca de 19, 20 graus, céu encoberto, soube mais tarde que é o “smog” habitual, quase permanente, apercebo-me logo de inicio, que o trânsito e condução são caóticos, no entanto as pessoas super-simpáticas e acolhedoras…..estava feito o primeiro impacto…

 

Perú, o segundo produtor mundial de cobre, o 4º. produtor mundial de ouro e prata, uma produção de petróleo de 40,270 barris por dia, (dados de 2018), agricultura e pescas… Um PIB de 226,8 mil milhões de dólares (2019), segundo o Banco Mundial.

 

Com 33 milhões de habitantes, a capital Lima, tem cerca de 10 milhões de habitantes, é uma típica grande metrópole latino-americana, com todas as características sociais e económicas usuais em todas as grandes metrópoles desse continente. As principais etnias são a quíchua (47%), a mestiça (32%) e a branca (12%). As línguas oficiais são o castelhano, o quíchua e o aymara.

 

Uma economia dominada, fundaemtalmente por actividades/empresas extrativistas.

 

O neoliberalismo tem deixado as suas marcas… têm 60% das cordilheiras dos Andes concessionadas, 60% do seu mar concessionado, 75% do seu território amazónico concessionado.

 

Algo que tem tido os seus elevados custos sociais e que leva a que um dos lemas do candidato ganhador, o professor Pedro Castillo fosse “no más pobres, en un país rico”.

 

A 12 de Fevereiro de 2021 o Público num artigo alertava:

“A massiva exploração mineira de ouro, no sudeste peruano, é visível a partir do espaço e revela ecossistemas destruídos e ameaças à saúde pública.”

 

Outro jornal económico referia em 2020 :” Peru: Pobreza avança em 2020 e atinge mais de 30% da população”

 

Vive actualmente a pior realidade pandémica do mundo, com 180 mil mortos por Covid19, dados actualizados recentemente, com hospitais saturados e uma procura de oxigénio muito superior à disponibilidade do país.

 

Em meio a esta realidade dão-se as eleições presidenciais que acompanhei, em Lima.

 

Governado por partidos de direita, e respectivos presidentes, desde a tragédia que foi a governação de Alberto Fujimori.

 

Os sectores mais rurais têm como “boa referência”, ainda hoje, constatei-o na reunião que tive com dirigentes da Confederación Nacional Agrária, a governação do general Juan Velasco Alvarado, que em ditadura militar, “nem de esquerda nem de direita”, como dizia, entre 1968 e 1975, com algumas políticas nacionalistas, impôs uma reforma agrária, que contentou parte das populações rurais, quase sempre marginalizadas no processo político e económico, e antes organizadas em guerrilhas rurais com destaque para o líder “campesino” da Confederação Camponesa do Peru, Hugo Blanco, natural de Cusco, que teve actividade no período considerado por alguns, da “guerrilha boa”, ainda nos anos 60 do século passado, por contraposição à guerrilha maoista, de décadas depois, do “Sendero Luminoso”.

 

Todavia Keiko Fujimori, filha do ditador Alberto Fujimori é a terceira vez que se apresenta, que vai à segunda volta e que cria sempre a mesma tensão ao nunca aceitar os resultados eleitorais. O último caso foi com Pedro Pablo Kuczynski, cuja campanha contra exercício presidencial subsequente, foi tal que ele acabou por se demitir, sendo substituído por Francisco Sagasti, antes vice-presidente.

 

Há divisões entre as direitas. Keiko Fujimori representa, talvez, os sectores mais pró-Trump, pró-extrema-direita. Tendo como base de apoio parte da oligarquia extrativista que vive a sua vida entre Lima e Miami, e alguma classe média/baixa, urbana de Lima, e cuja cartilha política é o neoliberalismo radical, não tem conseguido nos últimos actos eleitorais a maioria para se fazer presidente e indultar o seu pai, como prometeu, a cumprir pena de 25 anos pelos crimes contra a humanidade cometidos no seu mandato.

 

No dia 6 de Junho foi o acto eleitoral presidencial, a segunda volta, que decorreu normalmente, apesar da tentativa de agressão à candidata a vice presidente por Peru Livre, Dina Ercilia Boluarte Zegarra, por apoiantes da Fujimori e do seu partido Fuerza Popular, do desigual tratamento na imprensa e televisão, para com as duas candidaturas à segunda volta e de apoiantes da senhora Fujimori andarem por algumas mesas de voto com propaganda alusiva nas camisolas.

 

Decorrida e terminada a contagem que dá a vitória ao professor e “rondero” do norte do Peru, Pedro Castillo, com uma vantagem de quatro dezenas de milhares de votos, eis que começa a “sabotagem” e o boicote à proclamação de Castillo como presidente eleito. Impugnando actas, impugnando resultados de mesas de voto, pedindo a anulação de milhares de votos. (de referir que os votos não são guardados por um período de tempo. Feitas as actas os votos são destruídos). Neste sequencial boicote à saída do resultado eleitoral oficialmente, pedem novas eleições a anulação destas, fazem petições sucessivas e intensas para complicar o andamento dos trabalhos na JNE (Jurado Nacional de Elecciones). A seguir demite-se um dos Juízes, desse órgão, Luis Arce, pró-fujimorista, tentando travar o processo de declaração do vencedor, mas é rapidamente substituído e não consegue os seus intentos.

 

Entretanto os escândalos com a candidatura de Keiko Fujimori adensam-se….compra de votos, acusação de corrupção económica, com ordem de prisão pelo procurador anti-corrupção do Perú.

 

Estive em Lima, acompanhei o acto eleitoral e a contagem de votos, que durou vários dias… Sem nenhuma dúvida, o professor, sindicalista e “rondero” Pedro Castillo é o novo presidente do Perú, eleito democraticamente.

 

Qualquer tentativa de inviabilizar a sua tomada de posse só poderia mergulhar o Perú num conflito interno incontrolável.

 

A ala mais extremista da oligarquia parecia apostar por essa fórmula. Não teve êxito.

 

A vitória foi finalmente reconhecida pela JNE e a tomada de posse, oficial, será provavelmente dia 28 de Julho, data do Bicentenário da independência do Perú.

 

Desejamos um exercício presidencial que responda às aspirações do povo e das/dos trabalhadores peruanos, que rompa com as políticas neoliberais e destruidoras que a oligarquia vinha a impor. A agricultura, as pescas, a exploração mineira e as imensas camadas pobres de trabalhadores e camponeses veêm uma esperança surgir. Querem acreditar no futuro do seu país.

 

- Francisco Colaço é dirigente do Bloco de Esquerda. Escreve com a grafia anterior ao acordo ortográfico de 1990

 

22 de Julho, 2021

https://www.esquerda.net/opiniao/no-mas-pobres-en-un-pais-rico/75856

 

https://www.alainet.org/pt/articulo/213180

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