Trump dá um passo; o império proclama a 'guerra entre civilizações'

14/05/2019
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China-Estados Unidos
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No auge do conflito comercial com a China, depois de onze rodadas de negociações que até agora não resultaram em acordo, os Estados Unidos ressuscitam a teoria da guerra entre civilizações, uma patriotada que esteve em voga no início dos anos 1990 e depois caiu em descrédito ante a força dos fatos.

 

Afinal, logo depois que Bush, pai, - no dia seguinte ao que os círculos imperialistas consideravam a "vitória" estadunidense na guerra fria -, proclamou que "com a graça de Deus a América assumiu a liderança do mundo", logo se veria que seu império já estava vivendo um processo de declínio histórico.

 

No ano de 1993, o cientista político Samuel P. Huntington elaborou a teoria do "Choque das Civilizações", segundo a qual as identidades culturais e religiosas dos povos serão a principal fonte de conflito no mundo pós-Guerra Fria.

 

Segundo a Agência France Press (AFP), a diretora de Planejamento de Políticas do Departamento de Estado dos Estados Unidos, Kiron Skinner, descreveu no mês passado a rivalidade com a China como "um combate contra uma civilização realmente diferente e uma ideologia diferente". Skinner disse também que é a primeira vez que os Estados Unidos enfrentam "um grande rival que não é de raça branca". A afirmação em castiço estilo supremacista e racista, foi feita, segundo a agência, durante um fórum sobre questões de segurança.

 

"Para além do confronto comercial entre China e Estados Unidos, também há um choque de nacionalismos, entre as ambições do gigante asiático emergente e o temor de Washington de perder sua influência", comenta a AFP.

 

Conjunturalmente, a tirada é funcional aos interesses eleitorais de Trump, que vai em busca da reeleição com uma plataforma "nacionalista" para cujo êxito não basta proclamar o bordão "América first". Faz falta agregar um inimigo externo.

 

Muito embora o bloqueio intensificado a Cuba seja útil para assanhar o eleitorado cubano-americano na Flórida, e a ameaça de intervenção e golpe na Venezuela mobilize a extrema-direita, ambas as empreitadas são insuficientes para conquistar a maioria conservadora do eleitorado estadunidense.

 

Afinal, se vier com Biden, antigo vice-presidente de Obama, o Partido Democrata tem misturado ao cardápio liberal e globalista, um tempero imperialista que combina ao multilateralismo a assertividade e a primazia dos interesses políticos, ideológicos e comerciais da superpotência do Norte.

 

Nesse quadro, Trump precisa dar um passo à frente, por isso exibe sem cerimônia o seu inimigo externo: a China.

 

Prisioneiro de um insanável déficit comercial e financeiro com o gigante asiático, Trump sabe que esta guerra está perdida. Apela então para a demagogia mais vulgar - "a China esta roubando empregos dos americanos" - embasando assim a sua plataforma imediatista.

 

Mirando o longo prazo, o setor do establishment que ele por enquanto lidera, fala nos salões dos debates sobre diplomacia, defesa e segurança sobre outro tipo de guerra que não exatamente a comercial: guerra entre civilizações, com evidentes conteúdos supremacista e racista.

 

Guerra que, por óbvio, pode tomar diversas vias de fato.

 

A China moderna, de tradições confucianas, herdeira de uma civilização com cinco mil anos de História, reage com a paciência que seu tempo histórico requer. Afirma e repete que busca o diálogo, inclusive entre civilizações.

 

Socialista e marxista, a China propõe sua alternativa à ameaça de guerra de Trump: construir uma nova civilização, com futuro compartilhado por toda a humanidade.

 

No entretempo, também demonstra que pode e sabe cerrar os punhos: "Não cederemos em questões de princípios ", diz sua chancelaria.

 

- José Reinaldo Carvalho é jornalista, pós-graduado em Política e Relações Internacionais, diretor do Cebrapaz – Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz. Integra o projeto Jornalistas pela Democracia

 

13 de Maio de 2019
https://www.brasil247.com/pt/colunistas/josereinaldocarvalho/393215/Trump-d%C3%A1-um-passo;-o-imp%C3%A9rio-proclama-a-'guerra-entre-civiliza%C3%A7%C3%B5es'.htm

 

https://www.alainet.org/pt/articulo/199816
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