Eleições presidenciais na América Latina em 2018

24/01/2018
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São sete pleitos importantes para o campo progressista no continente, principalmente considerando as possibilidades eleitorais no Brasil, no México e na Venezuela

 

Estão previstas sete eleições presidenciais na América Latina em 2018, incluindo a do Brasil, que não será comentada neste artigo por ser objeto de discussão permanente na conjuntura do nosso país, e da mesma forma em relação às eleições parlamentares e municipais que também ocorrerão em alguns países latino-americanos este ano, devido ao impacto menor que exercem na política.

 

A primeira eleição presidencial a realizar-se neste ano será na Costa Rica em 4 de fevereiro o primeiro turno, com treze candidatos, e o segundo turno está previsto para o primeiro domingo de abril. Pela colocação nas pesquisas eleitorais estão na dianteira Antonio Álvarez de Santi do Partido Liberación Nacional (PLN), seguido de perto, ou até sendo ultrapassado, por Juan Diego Castro do Partido Integración Nacional (PIN), e em terceiro lugar está Rodolfo Piza da Unidad Social Cristiana (USC). Em quarto lugar figura o candidato governista do Partido Acción Ciudadana (PAC), Carlos Alvarado.

 

Entretanto, o número de indecisos ainda é alto, cerca de 40%, e a mobilização eleitoral é baixa, o que favorece a eleição de um candidato advindo dos partidos conservadores PLN, PIN ou USC. Na eleição de 2014, a abstenção foi de 43% apesar de o voto ser obrigatório na Costa Rica. Os social-democratas do PAC, que governam o país desde 2014, não empolgaram, e o Frente Amplio, que chegou em terceiro lugar naquela ocasião, elegendo sua maior bancada de parlamentares até então, tampouco teve uma atuação de destaque no Parlamento costa-riquenho nesses quatro anos e conta com pouco apoio na atual eleição. O mais provável é um segundo turno entre candidatos do campo conservador.

 

Em Cuba, em 19 de abril haverá a escolha do substituto do presidente Raúl Castro, pois ele terá cumprido dois mandatos. No entanto, a escolha não será por eleições diretas, mas a partir de um processo já iniciado de escolha de representantes municipais que elegem deputados provinciais que por sua vez elegem os integrantes da Assembleia Nacional que elege o Conselho de Ministros, seu vice-presidente e o presidente do Conselho, que será também o presidente do país. O mais cotado para exercer essa função a partir de abril é o atual vice-presidente, Miguel Díaz-Canel.

 

Três dias depois, em 22 de abril, será a vez do Paraguai escolher quem substituirá o presidente Horácio Cartes do Partido Colorado, decisão que ocorrerá em único turno. A disputa real será entre o candidato desse partido, Mario Abdo Benítez, filho do ex-secretário do ditador Alfredo Stroessner, que não era o preferido de Cartes, mas ganhou a prévia interna, e o do Partido Liberal, Efraín Alegre, coligado com a Frente Guasu, que indicou Leonardo Rubín como candidato a vice-presidente. Essa coligação é a mesma que levou Fernando Lugo à vitória em 2008, mas que também o traiu em 2012 quando o presidente sofreu um “golpe parlamentar” que o destituiu e entregou o cargo ao liberal Francisco Franco, embora agora se trate de posições invertidas na coligação e também de personagens diferentes.

 

As eleições presidenciais na Colômbia têm o primeiro turno marcado para 27 de maio e o segundo turno para junho. O quadro de candidaturas e alianças, todavia não está completamente conformado. Pelo “uribismo” há pelo menos três candidatos, que poderão se coligar ou não: Iván Duque, Marta Lucía Ramírez e Germán Vargas Lleras. Este último foi vice-presidente durante o segundo mandato do presidente Juan Manuel Santos. O chefe da equipe negociadora do governo Santos com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia – Exército do Povo (Farc-EP) em Havana, Humberto de la Calle, é candidato pelo Partido Liberal e espera que Santos o apoie, embora a popularidade deste esteja em baixa.

 

Pela centro-esquerda há uma coalizão, Coalizão Colômbia, formada pela Aliança Verde de Claudia López e pelo Polo Democrático Alternativo de Jorge Robledo, que apoiam a candidatura de Sergio Fajardo, ex-governador da província de Antioquia, que se encontra hoje à frente nas pesquisas. Outros candidatos da esquerda seriam Gustavo Petro, ex-prefeito de Bogotá, Piedad Córdoba, ex-senadora do Partido Liberal e defensora dos direitos humanos, e Rodrigo Londoño, conhecido como Timoleón Jiménez, ex-comandante das Farc-EP e agora candidato presidencial pela Força Alternativa Revolucionária do Comum; sem perspectiva de se eleger, ele aproveitará a campanha para as medidas previstas no acordo de paz que ainda não foram cumpridas.

 

O tema que polarizou as discussões na eleição de 2014 foi a continuidade ou não das negociações de paz com os grupos insurgentes. Os “uribistas” e outros grupos conservadores defendiam que os acordos em discussão teriam que ser revistos, mas Juan Manuel Santos venceu a eleição no segundo turno com apoio, explícito ou não, da esquerda para que as negociações continuassem. Hoje há um acordo de paz entre o governo e as Farc-EP, que estão se integrando à política institucional do país, mas as negociações com outro agrupamento, o Exército de Libertação Nacional (ELN), chegaram a um impasse, pois a trégua negociada terminou e o ELN realizou um atentado pouco depois. Ainda não está claro de que forma os dois processos, a paz com as Farc-EP e a beligerância com a ELN, irão impactar o resultado eleitoral. O “uribismo” aposta no tanto pior, melhor. É esperar para ver.

 

As eleições presidenciais no México ocorrerão em 1º de julho e a decisão também é em turno único. Há vários candidatos, mas Andrés Manuel López Obrador, que disputou as duas últimas eleições e foi derrotado, ao que tudo indica, pelo menos na primeira vez, por fraude, segue na dianteira das atuais pesquisas. Ele é candidato pelo Movimento de Regeneração Nacional (Morena – partido que fundou) coligado com o Partido do Trabalho (PT) e o Partido do Encontro Social (PES), mas já foi filiado e candidato pelo Partido de Revolução Democrática (PRD) no passado. O candidato governista do Partido Revolucionário Institucional (PRI) é José Antonio Meade Kubreña, ministro do atual governo de Peña Nieto e estreante na política. O PRD surpreendentemente se aliou ao direitista Partido de Ação Nacional (PAN), que indicou o candidato dessa coligação, Frente pelo México, Ricardo Anaya Cortés. Uma candidatura alternativa é a de María de Jesús Patricio Martínez pelo Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN) que, entretanto, ainda não recolheu o número de assinaturas necessárias para registrar sua candidatura.

 

Por fim, a Assembleia Nacional Constituinte (ANC) da Venezuela acaba de anunciar que as eleições presidenciais serão antecipadas para o mês de abril, pois a expectativa era sua realização até dezembro. Ao mesmo tempo, também foi anunciado que o presidente Nicolás Maduro será o candidato à reeleição pelo Partido Socialista Unificado da Venezuela (PSUV). Obviamente a oposição e seus apoiadores no exterior questionaram essa antecipação, pois estão em dificuldades para apresentar candidatura única, uma vez que a Mesa de Unidade Democrática se encontra fracionada no momento.

 

São eleições que colocam uma perspectiva importante para a esquerda e o progressismo na América Latina este ano, principalmente considerando as possibilidades eleitorais no Brasil, México e Venezuela, onde as “cabeças de chapa” de esquerda estão hoje à frente nas pesquisas, e na Colômbia e Paraguai, onde as chances da esquerda dependem da vitória de coalizões mais centristas. Cuba também chama a atenção, pois, embora o Partido Comunista de Cuba (PCC) vá seguir à frente do governo do país a partir de abril próximo, pela primeira vez será sem o sobrenome “Castro” na presidência.

 

- Kjeld Jakobsen é consultor de Relações Internacionais

 

EDIÇÃO 168 - 24/01/2018

https://teoriaedebate.org.br/colunas/eleicoes-presidenciais-na-america-latina-em-2018/

 

https://www.alainet.org/pt/articulo/190575
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