Papa condena o “novo colonialismo”

18/07/2015
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Na semana passada, o papa Francisco visitou Equador, Bolívia e Paraguai. Em seu estilo profético, deixou clara a opção pelos mais pobres.

 

Na periferia de Assunção, esteve com as 23 mil famílias que ocupam a área de Bañado Norte e, há 30 anos, lutam pelo título de propriedade. Francisco se declarou feliz por estar “em sua terra”, em explícito apoio à reivindicação dos ocupantes.

 

Na Bolívia, pediu perdão aos povos indígenas pela cumplicidade da Igreja Católica com o genocídio provocado pela colonização europeia: “Muitos pecados foram cometidos contra os povos latinos em nome de Deus.”

 

Em crítica ao pietismo vazio, o papa enfatizou que “não importa a quantas missas de domingo você foi, se você não tem um coração solidário. Se você não sabe o que está acontecendo em sua cidade, sua fé é muito fraca, está doente ou morta.” Fez eco à Carta de Tiago, no Novo Testamento, que frisa ser inócua a fé sem obras solidárias (2, 14-17).

 

As injustiças causadas pelo capitalismo global foram o  tema recorrente de Francisco na viagem aos três países. “Em um mundo onde há tantos agricultores sem terra, tantas famílias sem casa, tantos trabalhadores sem direitos”, onde explodem “guerras insensatas” e a terra é devastada, isso significa que “as coisas não estão indo bem” e é preciso “uma mudança”.

 

Ressaltou que opressão, exclusão e degradação ambiental “respondem a um sistema que se tornou global”, e “impôs a lógica do lucro a todo custo”. Por trás de “tanta morte e destruição, sente-se o fedor daquilo que Basílio de Cesareia chamava de ‘esterco do diabo’.”

 

Em Santa Cruz de la Sierra, recebeu mais de 1.500 representantes de movimentos populares. Saudou-os como “semeadores de mudanças” e “poetas sociais”. Declarou que a Igreja está disposta a “acompanhar aqueles que buscam superar as graves situações de injustiça que sofrem os excluídos em todo o mundo.” E valorizou o protagonismo dos movimentos sociais: “Atrevo-me a lhes dizer que o futuro da humanidade está, em grande parte, em suas mãos, na sua capacidade de se organizar e promover alternativas criativas.”

 

Para o papa, a economia “não deveria ser um mecanismo de acumulação, mas a adequada administração da casa comum.” E frisou: “Quando o capital se converte em ídolo e dirige as opções dos seres humanos; quando a avidez pelo dinheiro tutela todo o sistema socioeconômico, isso arruína a sociedade, condena o homem, converte-o em escravo, destrói a fraternidade intra-humana, joga povo contra povo e, como vemos, põe em risco até essa nossa casa comum.”

 

Francisco observou que, para uma vida digna, é necessário garantir os três T – teto, trabalho e terra. E em referência aplicável à Grécia e ao Brasil, qualificou de “novo colonialismo alguns tratados denominados de ‘livre comércio’ e a imposição de medidas de ‘austeridade’ que sempre apertam o cinto dos trabalhadores e dos pobres.”

 

 

- Frei Betto é escritor, autor de “Paraíso Perdido – viagens pelo mundo socialista” (Rocco), entre outros livros.

 

 

https://www.alainet.org/pt/articulo/171197
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