A guerra é uma derrota da humanidade

07/02/2003
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Meus queridos companheiros no Senhor! Em seu discurso ao corpo diplomático, João Paulo II proclamou enfaticamente que a "guerra nunca é uma simples fatalidade, é sempre uma derrota da humanidade"(1). Estas palavras cheias de angústia do Papa refletem a crescente preocupação da Santa Sé para os efeitos da violência que a guerra tem sobre o frágil tecido da coexistência humana. Em sua mensagem na Organização das Nações Unidas em outubro de 1965, Paulo VI falou do solene compromisso que todos temos que contrair: "Nunca, jamais guerra! Nunca jamais guerra!"(2). Por ocasião da guerra do Golfo Pérsico, João Paulo II expressou os mesmos sentimentos com um grito parecido: "Nunca mais a guerra!"(3) Incentivando esforços daqueles que trabalham pela paz, o mesmo Papa, considera como um novo sinal de esperança "o incremento, em muitos níveis da opinião pública de uma nova sensibilidade cada vez mais contrária à guerra como instrumento de solução dos conflitos entre os povos"(4). Como resposta à trágica violência de 11 de setembro, a Conferência Episcopal dos Estados Unidos, difundiu em 13 de novembro de 2002, um Comunicado sobre o Iraque, onde dizia claramente que "sob as base dos fatos que nós conhecemos, continuamos acreditar que é difícil justificar o recurso à guerra contra o Iraque, por não ter uma clara e adequada evidência de um ataque iminente de natureza grave". No mesmo espírito, em carta dirigida ao Presidente Bush em 19 de outubro de 2002, os provinciais Jesuítas dos Estados Unidos expressaram categoricamente "fortes reservas de caráter moral sobre o uso da força ao Iraque". A estas vozes se unem os testemunhos de muitos Jesuítas de todo mundo que, em circunstâncias muito difíceis, difundem a mensagem do diálogo e da paz em meio à violência, assim como a preocupação de outros muitos, que têm proposto ao Secretariado para a Justiça Social que apóie estes esforços pela paz. Fiéis ao nosso compromisso de ser "servidores da missão de Cristo"(5), e nesta conjuntura crítica, nossa determinação de trabalhar por uma paz fundada firmemente na justiça deve encaminhar-se através de uma madura reflexão em espírito de oração sobre as razões principais que se opõem a uma guerra contra o Iraque. Acreditamos, como muitos outros, que as razões de um ataque preventivo contra o Iraque não são convincentes, e que os efeitos de uma possível guerra contra o Iraque seria tão devastadores que seria muito difícil, senão totalmente impossível, justificar uma intervenção militar. Nossa opinião se baseia nas seguintes considerações. (1) A "doutrina" da guerra preventiva não está de acordo com a doutrina e o direito da ONU(6), nem é moralmente sustentável(7). A aplicação desta doutrina abriria as portas a uma guerra infinita, a "uma guerra sem fim". (2) Em lugar de trazer uma paz duradoura à região (Médio Oriente), uma guerra contra o Iraque aumentaria as tensões entre muçulmanos e cristãos. A sementes do diálogo entre os dois grupos, semeadas tão pacientemente, seriam esmagadas por uma espiral de violência e intolerância. (3) A determinação de investir em gastos militares massivos, que destroem a vida, está em nítido contraste com a falta de interesse para promover com igual decisão, o desenvolvimento sustentável para todos. No mundo onde as desigualdades aumentam, onde a maioria não pode satisfazer suas necessidades básicas, onde o comércio e as finanças beneficiam os países ricos mais que os pobres, muitos continuam se perguntando com crescente inquietude se os verdadeiros motivos da guerra contra o Iraque não terão que ver mais com interesses econômicos do que com razões de segurança. (4) Na nova ordem política global que está nascendo, os líderes de uns poucos países industrializados se propuseram em tomar unilateralmente decisões que afetam a vida dos povos de todos os continentes, à margem do controle da ONU e sem atender à sua obrigação de construir um consenso mais amplo através de legítimos processos democráticos. (5) A experiência nos tem ensinado que os pobres são sempre as vítimas principais da violência e da guerra. Como Jesuítas, somos "amigos do Senhor", e isto significa "ser 'amigos dos pobres' [e que não] podemos virar o rosto quando nossos amigos estão em necessidade"(8). Numa situação de violência generalizada e quando uma guerra se projeta como inevitável, não podemos afastar nosso olhar daqueles que professamos como amigos, os pobres, especialmente as mulheres e as crianças. Desde sua perspectiva não se pode justificar a guerra. Estas são as razões pelas quais nossos esforços em favor da paz adquirem uma urgência prioritária. Enquanto seja possível, e tendo em conta as condições locais, nossa luta contra a constante violência e a favor da paz necessita fortalecer-se, tornar-se mais articulada e integrar-se a outras iniciativas tanto nacionais quanto internacionais. Para alcançar estes objetivos, os Jesuítas do setor da ação social pela justiça devem contribuir no âmbito provincial a criar os espaços apropriados para que outros jesuítas e nossos colaboradores possam refletir de maneira criativa, preparar planos de ação pública e discernir caminhos concretos de colaboração com outros grupos. Em definitivo, nossos esforços a longo prazo devem partir do fato evidente de que, como João Paulo II manifestou repetidamente, "existe uma grande desordem na situação do mundo contemporâneo", e que "todos devem colaborar na constituição de uma nova organização de toda família humana"(9) que possa ser percebida como garantia imparcial e objetiva dos direitos. Enraizados em nossa fé em Jesus Cristo, que nos chamou a trabalhar no seu Reino, nos unimos a tantas irmãs e irmãos que lutam por um mundo de justiça, de verdade e de paz. Um mundo onde a verdadeira paz possa converter-se numa vitória para a humanidade Fernando Franco, SJ, Secretário Roma, 7 de fevereiro de 2003 1) Santo Padre ao Corpo Diplomático, 13/01/03.
2) Mensagem de Paz às Nações Unidas, 04/10/65.
3) Centesimus Annus, 52.
4) Evangelium Vitae, 27.
5) C. G. XXXIV, Dc. 1,1.
6) Carta das Nações Unidas, Artigos 39 e 42.
7) Catecismo da Igreja Católica, 2309.
8) C.G. XXXIV, Dc. 2, 9.
9) J.P. II, Pacem in Terris, uma tarefa permanente, 01/01/03
https://www.alainet.org/pt/articulo/106964

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