A quem interessa a Alca

01/01/1998
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Reagindo tardiamente à política protecionista dos EUA, o governo brasileiro em feito duras críticas ao protecionismo norte-americano, ameaçando abandonar as negociações da Alca – Área de Livre Comércio das Américas. Se manterá essa posição, ou não, só vamos saber no dia 12 de junho, quando começa no Panamá uma rodada decisiva do Comitê de Negociação. A rigor a reunião no Panamá servirá para sacramentar as propostas aprovadas na última rodada de negociação, encerrada dia 27 de abril, em Ilha Margarida – Venezuela. Houve consenso sobre tarifas básicas, ponto de partida para a redução progressiva, até a eliminação total, das alíquotas de importação. Até 15 de janeiro de 2003 governos, ou blocos econômicos, devem apresentar propostas de liberalização de mercados, dando início a eliminação paulatina de tarifas de importação. O acordo que está sendo articulado atende aos interesses do governo dos EUA e de multinacionais norte-americanas, que é suprimir as normas restritivas do fluxo de capitais estrangeiros, abrir indiscriminadamente os mercados, livre comércio nos setores de serviço e de compras governamentais. Enquanto isso o presidente George W. Bush sancionou a lei aprovada no Congresso, liberando subsídios de US$ 180 bilhões, em dez anos, para produtos agrícolas. Antes o governo taxou em até 30% o aço importado; o suco de laranja custa em média 50% mais caro para entrar nos EUA; o álcool etílico é subsidiado; há o sistema de cota ao açúcar brasileiro; as exportações brasileiras de frutas e vegetais sofrem com a burocracia na tramitação de processos ; produtos têxteis são também subsidiados. Para se ter idéia do protecionismo norte-americano, estudo realizado pelo Itamarati revela que 15 principais produtos brasileiros exportados aos EUA na média são taxados em 45,6%, enquanto os 15 principais produtos dos EUA importados pelo Brasil incidem sobre eles em média 14,3%. Ao contrário do que dizem os defensores da Alca, nos termos em que está sendo negociada, não serve aos interesses comerciais do Brasil. É um grave equívoco acreditar que se abrirão novos mercados aos produtos brasileiros. Quem ganha com a Alca são os EUA, pois têm um parque industrial competitivo e altos investimentos em ciência e tecnologia . Os setores da economia que podemos competir, como siderurgia, celulose, calçado, suco de laranja, têxtil, estão exatamente protegidos pelo governo norte-americano. O livre comércio, sem proteção à indústria nacional, é prejudicial ao Brasil. Em pouco tempo será sucateado parte relevante do parque industrial brasileiro, aumentará a dependência externa, acarretando desequilíbrios na balança comercial e crescimento do déficit em conta corrente. Na verdade junto com o interesse na abertura comercial está a estratégia norte-americana de aprofundar a dominação da América Latina. E para atingir essa meta a condição é enfraquecer a já combalida economia da região. Não tenha dúvida que o caminho ficará mais fácil caso os EUA consigam dobrar o Brasil, pois o México já foi domesticado e a Argentina encontra- se mergulhada numa crise que parece não ter fim. Falta o Brasil, que detém mais da metade do PIB da América do Sul, conseguiu diversificar sua economia, tem presença diplomática no continente, e, apesar do empobrecimento do povo brasileiro, tem um mercado consumidor em potencial. Faz-se necessário uma ampla campanha de esclarecimento da sociedade sobre o significado da Alca. Por essa razão é importante o engajamento no plebiscito da Alca, que será realizado entre 1 e 7 de setembro deste ano, organizado por entidades e partidos. Nós do PT apoiamos essa iniciativa, com o objetivo de chamar a atenção da sociedade para uma questão que diz respeito a vida de todos nós. Somos a favor de uma integração do continente americano, mas respeitando a soberania das nações. O que está em curso não é integração, mas anexação da América Latina e do Caribe pelos EUA. * Sociólogo, é secretário nacional de mobilização do PT

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