Futuro do capitalismo

27/02/2015
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O sistema capitalista se mostrou, em geral, uma máquina fantástica de crescimento, geralmente associado ao impulso proporcionado por ondas de inovação tecnológica.
 
Originalmente, a primeira Revolução Industrial e Tecnológica surgida na segunda metade do século 18 permitiu que um país com menos de 20 milhões de habitantes, como a Inglaterra na época, se tornasse a oficina do mundo, desbancado regiões que eram até então o centro produtivo do planeta, como China e Índia, com quase 600 milhões de habitantes.
 
Basta dizer que até 1820, a maior parte da produção do mundo resultava da somatória das atividades econômicas desenvolvidas na China e Índia. O deslocamento do velho centro produtivo da economia mundial para a Europa possibilitou a Inglaterra exercer, como nunca, a função hegemônica por cerca de cem anos.
 
Na sequência, a segunda Revolução Industrial e Tecnológica no último quartel do século 19 permitiu emergir novas potências quase prontas para superar a Inglaterra, como os Estados Unidos e a Alemanha.
 
Somente duas guerras de dimensão mundial na primeira metade do século 20 resolveram e evidenciaram pela violência e barbárie a supremacia dos Estados Unidos como o condutor do novo centro do mundo capitalista.
 
Dentro desta mesma perspectiva analítica, ganhou importante expressão a identificação de que o capitalismo viveria uma terceira Revolução Industrial e Tecnológica desde os anos de 1960, sobretudo nas tecnologias de comunicação e informação.
 
É claro que se observam inegáveis avanços representados pelos novos materiais, como ligas metálicas, eletrônica, biotecnologia, engenharia genética, conquista espacial, entre outras áreas, porém insuficientes – até o momento – para acrescentar blocos de investimentos e produção nova e adicional à estrutura produtiva existente e conformada desde o final do século 19.
 
Tanto assim, que os países que mais contribuíram para propulsionar a marcha das inovações tecnológicas recentes, como Japão e Estados Unidos, não expressam ritmo de elevação da produção superior às demais nações.
 
Pelo contrário, especialmente desde a crise de 2008, estes mesmos dois países, adicionados pelas economias da União Europeia, convivem com baixo dinamismo da produção e o emprego de sua força de trabalho.
 
Acontece que as mudanças tecnológicas e informacionais, que modificam rápida e decididamente a linha da produção e o quotidiano das condições de vida em sociedade, acrescem ou complementam-se aos complexos produtivos constituídos tanto pela primeira como pela segunda revolução Industrial e tecnológica.
 
Ao mesmo tempo, os esforços de investimentos, determinantes para o salto tecnológico, parecem ter baixo poder de arrasto para o conjunto das economias.
 
Diante disso é que termina sobressaindo o questionamento acerca da capacidade de o capitalismo do início do século 21 produzir riqueza mais acentuada em função dos ganhos da inovação tecnológica.
 
O que se tem percebido, de maneira geral, tem sido o estancamento geral do padrão de vida nos países ricos durante os últimos trinta anos, quando não a regressão socioeconômica observada nos Estados Unidos e na União Europeia.
 
Ademais, cabe duvidar se o crescimento econômico poderá vir novamente dos países que constituem atualmente o centro do capitalismo mundial. Se a inovação tecnológica poderia estar pouco apoiando a sustentação de uma nova economia, o que se poderia dizer do acúmulo de velhos problemas, como os representados pela economia de alto carbono e seus efeitos ambientais, dos próprios custos da globalização neoliberal.
 
Atualmente eles se apresentam como verdadeiros obstáculos ao crescimento econômico e pelos quais as políticas neoliberais em predomínio no mundo praticamente não têm o que dizer.
 
Salvo a constatação de que a população não cabe na sua totalidade no modelo econômico projetado pelas políticas governamentais de corte neoliberal.
 
Mesmo que pouco se saiba a respeito do futuro do capitalismo, não se pode deixar de ressaltar que o seu êxito já esteja escrito. Pelo contrário, o que se nota, são sinais inegáveis de uma pane tecnológica envolvida aos velhos e novos problemas de produção e reprodução do capitalismo.
 
- Marcio Pochmann é professor do Instituto de Economia e pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho da Universidade Estadual de Campinas
 
27/02/2015
 
https://www.alainet.org/fr/node/167836
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