O #NãoVaiTerTransgênico só acontecerá se afetar lucros

19/06/2014
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A aprovação, em 1994, do primeiro alimento geneticamente modificado, um tomate californiano, foi apenas o trailer do que viria a ser o épico “Transgênicos”, lançado dois anos depois pela hollywoodiana produtora Monsanto, tendo como protagonistas Mr. Roundup Ready e Mrs. Soybean, além de coadjuvantes agricultura afora.
 
Em 18 anos, o filme teve diversas versões “O Retorno”, e pelo jeito continuará tendo. O próximo promete trazer como ator principal Mr. RR 2 Xtend. Não se sabe ainda se como herói ou vilão.
 
Milhões de agricultores do planeta garantem gorda bilheteria às fitas e fazem o planeta matutar sobre hipóteses, regras, controles, enfim, formas de restringir o uso de organismos geneticamente modificados (OGM), na agricultura.
 
O plantio global com essa tecnologia, em 2013, cresceu 3%, para o recorde de 175,2 milhões de hectares, segundo o Serviço Internacional para a Aquisição de Aplicações de Agrobiotecnologia (ISAAA, na sigla em inglês). Multiplicou-se cem vezes desde a sua criação.
 
Hoje, ela é usada em 27 países. Predominam Estados Unidos, Brasil, Argentina e Canadá, na ordem, que representam 83% do total das áreas plantadas com sementes transgênicas de soja (79%), algodão (70%) e milho (32%).
 
Vale dizer que muitos de nossos filés, costelinhas de porco e galinhadas, bem como as vestes usadas por vestais adeptos do veganismo, podem ter OGM em seus DNA.
 
Há estudos que garantem existir toxicidade em alimentos plantados com essas tecnologias. Nenhum de conclusão levemente impactante a ponto de inibir seu uso.
 
No campo, confundem-se, misturam-se e somam-se aos efeitos dos agrotóxicos que, por supuesto, deveriam ter reduzido seus usos, o que não aconteceu. Pelo contrário, sua demanda cresceu em proporção maior do que as áreas de plantio, e o Brasil se tornou líder mundial de vendas.
 
Pesquisa conduzida pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) em 75 países apontou 198 incidentes de “baixo nível” que poderiam ser jogados nas costas dos OGM, entre 2010 e 2012. É pouco para mexer com um negócio que envolve dezenas de bilhões de dólares.
 
Os transgênicos encontram uma espécie de resistência arrependida em alguns países da União Europeia e na China. A indústria presta atenção, se incomoda e prepara suas armas.
 
Controvérsias sobre os malefícios do uso de OGM na produção de alimentos, principalmente a partir de sementes modificadas, cada vez mais se confirmam repetições dos dilemas causados pelos consumos de Coca-Cola, café, ovo frito, manteiga, refrigerantes, paçoquinhas diet e, agora, batatinhas fritas do McDonald’s.
 
Amaldiçoados, durante um período são comentados, condenados, temidos, enquanto seus consumos crescem exponencialmente.
 
No mês passado, o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (CONSEA) aprovou documento para ser encaminhado à Presidência da República recomendando restrições ao acesso às sementes, por riscos à produção e consumo sustentáveis de alimentos, e o fortalecimento dos aspectos regulatórios sobre biossegurança.
 
É bom, mas vai dar em nada. Até porque denuncia o controle multinacional sobre o mercado de sementes.
 
Sua probabilidade de sucesso é semelhante à do #NãoVaiTerCopa.
 
O #NãoVaiTerTransgênico só terá sucesso quando os agricultores se sentirem economicamente prejudicados.
 
Que os preços e royalties pagos pela tecnologia, as imposições feitas pelos principais fabricantes, multinacionais ou não, a falta de liberdade para recusar contratos de vendas casadas e solteiras, a percepção da existência de tecnologias convencionais efetivas e de baixos custo e impacto ambiental, doerem em seus bolsos, e os fizerem dar o troco para ganhar poder de barganha diante da indústria.
 
Enfim, quando lembrarem o verso paulistano de Caetano Veloso: “A força da grana que ergue e destrói coisas belas”.
 
20/06/2014
 
https://www.alainet.org/es/node/86529
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