Argentinos dão aviso prévio pro amigo do Bolsonaro

O resultado dá uma vantagem muito cômoda para Alberto Fernandez e Cristina Kirchner.

12/08/2019
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A Argentina protagonizou a primeira tentativa de restauração do neoliberalismo, depois de governos antineoliberais. Uma experiência que se aproxima do fracasso e do fim com o resultado das eleições previas.

 

O resultado dá uma vantagem muito cômoda para Alberto Fernandez e Cristina Kirchner, assim como para Axel Kicillof para governar a província de Buenos Aires. Quinze pontos é uma vantagem imensa. Uma diferença dessa ordem é quase impossível de ser superada no primeiro turno, em outubro, levando provavelmente a uma vitória da oposição no primeiro turno.

 

O resultado deu uma vantagem significativa para Alberto Fernandez e Cristina Kirchner sobre o atual presidente Mauricio Macri, que permite prever uma vitória segura no segundo turno em outubro. Essas previas foram promovidas por Nestor Kirchner, para dirimir disputas internas nas chapas, mas desta vez não há nenhuma disputa interna, ficando a consulta como previa das eleições de outubro. A votação é obrigatória, mas sempre votam menos do que em outubro.

 

O governo tratou de criar um clima de otimismo, com o movimento do mercado e o preço do dólar favorável, mostrando que o mercado votaria por Macri, e tentava mostrar um clima positivo e de eventual resultado favorável ao governo. Pesquisas fajutas na véspera também tentaram forjar favoritismo do governo.

 

Mas a grande maioria das pesquisas dava vitória da oposição tanto a nível nacional, como da província de Buenos Aires, hoje também governada pela direita, o segundo cargo politico mais importante da Argentina. Os resultados desastrosos no plano econômico e social foram construindo uma maioria de rejeição do Macri praticamente em todo o pais.

 

Depois do pacote demagógico do Macri, com congelamento de preços e outras medidas opostas à sua política econômica, justamente de que ele acusava o governo da Cristina, com prazo marcado até as eleições, se deu certa estabilidade econômica. Mas as consequências sociais, com o aumento do desemprego, continuaram fortalecendo a oposição.

 

A opção da Cristina de se candidatar a vice, mais por questões pessoais do que politicas – sua filha está muito enferma, em tratamento em Cuba, entre outras razoes -, não alterou as pesquisas, confirmando seu favoritismo. A opção de ter um peronista conservador como vice, tampouco aumentou a preferência por Macri.

 

As visitas de Bolsonaro tampouco ajudaram ao Macri. A imagem dele na Argentina é ainda mais negativa do que no Brasil. Ainda mais que se atreveu, nas duas viagens, a criticar a Cristina, a líder popular de maior prestigio por lá.

 

A provável derrota do Macri não apenas dá um mau pressagio para o Bolsonaro, que começava a iludir-se com a possibilidade de reeleição, como também mostra como o retorno do modelo neoliberal conduz inevitavelmente à impopularidade do governo e à sua derrota. Além de que condenará o Bolsonaro a um isolamento politico ainda maior.

 

O projeto de restauração neoliberal na região começou pela Argentina e pelo Brasil, países eixos dos governos antineoliberais e dos processos de integração latino-americana. Fo a partir da reversão politica nesses dois países que a direita latino-americana se recuperou a voltou a impor economias recessivas, com altos níveis de desemprego e desmonte dos patrimônios públicos, com retomada de politicas de privatização.

 

Macri despencou rapidamente na sua popularidade, a economia argentina está a dezenas de meses em recessão, o dólar disparou, assim como a taxa de juros. Como resultado, foi se desenhando a vitória da oposição, apesar da brutal campanha de mentiras contra a Cristina, com o Judiciário funcionando como agente contra ela.

 

Um novo governo antineoliberal não representará simplesmente a retomada do governo antineoliberal da Cristina, de crescimento econômico com distribuição de renda. Porque os estragos provocados pelo governo neoliberal na Argentina, incluída uma imensa divida com o FMI.

 

Terá sido o primeiro fracasso da restauração neoliberal, que se deu em seguida no Brasil e no Equador. O clima favorece também as eleições, bastante disputadas, no Uruguai e na Bolívia. E estende sobre o Brasil o manto previsível de voo curto do governo Bolsonaro.

 

https://www.alainet.org/es/node/201517
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