“No limite”, comandante do Exército mandou Lula ficar preso. Que poder é esse?

12/11/2018
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Bolsonaro é um mau militar” (general Ernesto Geisel, ex-presidente da República, ao comentar porque o presidente eleito foi reformado pelo Exército aos 33 anos, após atos de insubordinação e desordem).

 

***

 

Ficamos sabendo neste domingo, oficialmente, que os militares já tinham voltado ao poder antes da eleição do capitão Jair Bolsonaro. E foram determinantes na sua vitória.

 

Em entrevista à Folha, o comandante do Exército, Eduardo Villas Bôas, revelou que agiu “no limite” ao declarar pelo Twitter “preocupação com a impunidade”, no dia 2 de abril, véspera do julgamento de um habeas corpus do ex-presidente Lula pelo Supremo Tribunal Federal.

 

“A coisa poderia fugir ao nosso controle se não me expressasse”, explicou o general.

 

Fugir ao controle, como assim? Que controle? Que poder é esse numa democracia? O que ele temia? Um golpe militar? E quem o daria, o general Hamilton Mourão, eleito vice de Bolsonaro, que já havia feito várias ameaças de intervenção militar?

 

O eleitorado brasileiro, que fez papel de figurante em toda esta história, agradeceria se o general pudesse responder a estas singelas perguntas.

 

Na mesma entrevista ao repórter Igor Gielow, Villas Boas garantiu que a vitória de Jair Bolsonaro “não representa a volta dos militares ao comando do país”.

 

Pelas suas próprias palavras, eles já voltaram ao comando do país antes mesmo da vitória do capitão, quando o comandante do Exército intimou o Supremo Tribunal Federal a negar o habeas corpus a Lula, mantendo-o preso para não disputar a eleição.

 

O voto decisivo foi da ministra Rosa Weber, que mais tarde, já na presidência do Tribunal Superior Eleitoral, completou o serviço, ao impugnar a candidatura do ex-presidente, que naquela altura tinha o dobro das intenções de voto de Bolsonaro em todas as pesquisas. Tudo se deu com a precisão de um relógio suíço.

 

Ali se decidiu a eleição “manu militari”, com o acoelhamento do Judiciário. O resto foi consequência.

 

Bolsonaro assumiu a liderança das pesquisas, disparou em todas elas, após sofrer um misterioso atentando a facada, cercado de seguranças em Juiz de Fora, e correu para o abraço nas redes sociais, acionadas por dinheiro gordo no embalo do antipetismo que derrotou o substituto de Lula.

 

Daqui a cem anos, quando os historiadores do futuro contarem como se decidiu a eleição de 2018, o “no limite” do general e a facada de um psicopata, mais a subserviência do Judiciário e as fake news, explicarão como um obscuro deputado, filiado às pressas num partido de aluguel, chegou à Presidência da República do Brasil.

 

As declarações do general Villas Boas, oito meses após a sua convocação ao STF, ajudarão os pesquisadores a explicar o fenômeno.

 

Outra boa fonte podem ser as colunas do jornalista Janio de Freitas, com larga experiência em golpes e ditaduras militares, que escreveu neste domingo, por coincidência, no mesmo jornal:

 

“Se as coisas desandarem, o importante para antever o seu rumo será desvendar quanto os militares estarão dispostos a empenhar em barragem de proteção a Bolsonaro. O que dependerá da identificação, ou confusão, entre o Exército e o governo conduzido por ex-ocupante das suas casernas”.

 

Janio de Freitas lembra ao general Villas Boas que “fazer tocar o Hino do Exército, por exemplo, no saguão do hotel onde ocorrem as reuniões do círculo de Bolsonaro, é abusivo”.

 

Prestes a deixar o cargo, o comandante do Exército revelou também preocupação sobre o risco de “politização dos quartéis”.

 

Esse risco não existe mais. Já aconteceu, na verdade, e foi decisivo para a chegada de Jair Bolsonaro ao poder.

 

E vida que segue.

 

11 de novembro de 2018

https://www.balaiodokotscho.com.br/2018/11/11/no-limite-comandante-do-exercito-mandou-lula-ficar-preso-que-poder-e-esse/

 

https://www.alainet.org/es/node/196451
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