'Big Data', notícias falsas e o crescimento mundial

31/07/2018
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Nesta semana foi revelado que o número de estadunidenses que solicitaram benefícios por desemprego foi o mais baixo desde 1969!

 

 

A taxa oficial de desemprego também está perto do seu ponto histórico mais baixo. No Japão e no Reino Unido, as taxas de desemprego estão perto dos seus mínimos. Na Europa, a taxa oficial está se recuperando, e regressando aos níveis prévios à Grande Recessão, iniciada em 2008.

 

Como já demonstrei em artigos anteriores, os indicadores da atividade econômica de diversas fontes sugerem que a economia capitalista mundial aumentou seu ritmo de crescimento após a semi recessão de 2015-16. Este é particularmente o caso da economia capitalista mais importante: os Estados Unidos.

 

À continuação, podemos mostrar o índice composto mundial-PMI (índice dos gerentes de compras). Se trata de uma pesquisa a nível mundial sobre o estado da atividade econômica nas indústrias, e como os executivos das mesmas a observam. Se o índice é superior a 50, a atividade econômica mundial cresce. Atualmente, o PMI mostra um retorno a uma tendência de expansão, o primeiro movimento nesse sentido posterior à semi recessão.

 

 

No começo de agosto teremos a primeira estimativa do crescimento do PIB real nos Estados Unidos no segundo trimestre de 2018. É provável que seja uma projeção de forte crescimento. A Reserva Federal de Atlanta calcula um índice de “alta frequência” trimestral, e atualmente espera que a cifra do segundo trimestre esteja contido na projeção de uma taxa anual de 4,5%. Isso significa que o crescimento real desse período poderia ser até 1% superior ao do primeiro trimestre. Se isso for correto, significa que a economia dos Estados Unidos terá crescido 3% na primeira metade de 2018.

 

 

Não há dúvida de que o presidente Donald Trump rentabilizará grande parte desta rápida expansão aparente e atribuirá a suas políticas de cortes de impostos para o setor empresarial e os 10% mais ricos. Entretanto, como um estudo recente comprovou, esta seria uma “notícia falsa”. Segundo um estudo realizado alguns economistas europeus, não há diferença entre o rendimento da economia estadunidense posterior às eleições. Em outras palavras, Trump e sua política tributária têm sido como um doppelganger (dublê fantasmagórico) virtual para a economia dos Estados Unidos, e, portanto, não haveria nenhum “efeito Trump”, como dizem alguns analistas simpáticos ao governo. “Os movimentos dos índices de emprego da economia dos Estados Unidos desde as eleições não são diferentes das do seu doppelganger. Não há nada nos dados que indique uma aceleração da criação de emprego devido às novas políticas”, aponta.

 

Mas as pesquisas mais úteis da atividade econômica nos Estados Unidos mostram que a economia se expande a uma velocidade razoavelmente rápida e talvez mais rápido que a média de 3,3% desde 1945. Vejamos um gráfico que combina várias pesquisas do gênero. Qualquer coisa acima de 0 (LHS) ou 50 (RHS) significa que a economia está crescendo. A taxa de RHS atual está perto de 60, o que implica uma expansão rápida – sem dúvida, em comparação com 2016, quando o índice estava por baixo de 50, o que significa uma contração, e não só isso, uma muito mais alta em comparação com a Grande Recessão, quando a produção despencou.

 

 

Não parece que as outras economias capitalistas estão indo tão bem quanto os Estados Unidos, apesar dos informes prévios otimistas. A União Europeia está crescendo ao redor de 1,6% anual, o Reino Unido tem cifras por baio de 1% e o Japão, na realidade, está se contraindo. Entretanto, se espera que o crescimento global experimente uma aceleração em 2018, comparado ao ano anterior, se incluídas todas as economias emergentes – China, Índia, etc.

 

Porém, podemos utilizar índices mais frequentes e explicativos capazes de prever com precisão o que acontecerá nos trimestres e anos futuros?

 

A enorme erupção do que se chama big data na Internet, nas redes sociais e outras fontes nos últimos dez anos deu lugar a uma nova indústria da predição, que tem como objetivo oferecer estimações mais frequentes e precisas da evolução futura, da mesma forma que tem melhorado as previsões meteorológicas.

 

O Banco da Reserva Federal de Nova York refinou esses grandes volumes de dados em sua própria pesquisa da atividade econômica dos Estados Unidos. E, já em 2013, os economistas do Banco da Inglaterra analisaram o uso e a eficácia dos grandes volumes de dados. Olharam os indicadores de crescimento mundial na produção industrial e no comércio. Encontraram que as mudanças bruscas de diversos indicadores eram um bom sinal para o crescimento futuro. Entretanto, o problema destes indicadores de expansão futuros é que não são tão concretos temporalmente, por serem elaborados com dados mensais – quando muito, pois também é muito comum os que se fazem sobre uma base trimestral.

 

Os economistas estatísticos analisaram recentemente os dados mais realistas temporalmente, e os economistas do Banco de Inglaterra publicaram recentemente um documento sobre as melhores previsões de crescimento global. No documento, conclui-se que o movimento diário dos preços dos metais era um índice razoavelmente preciso da atividade econômica mundial.  “Os preços dos metais estão altamente correlacionados com a atividade mundial ... e funcionam bem como predição do PIB mundial a curto prazo”.

 

 

Em outras palavras, o ritmo de mudança nos preços dos metais neste mês de julho dará uma estimativa razoável do crescimento real do PIB mundial para julho – e eventualmente para o terceiro trimestre –, muito por cima de qualquer índice oficial – o crescimento mundial no terceiro trimestre não estará disponível até janeiro de 2019.

 

Os economistas do Banco de Inglaterra utilizam o índice de preços dos metais S&P como seu indicador de preços dos metais.

 

 

Como se pode ver nos círculos, o índice de metais caiu fortemente durante a Grande Recessão, em termos de PIB real, o que previu a recuperação posterior exatamente em meados de 2009. Do mesmo modo, previu a recuperação da relativa recessão de 2015. Recordemos que as cifras do PIB real para a maioria dos países não estarão disponíveis até dois trimestres depois ou inclusive mais. Por isso, o índice de metais se transforma em um indicador de “alta frequência” do crescimento.

 

O cobre é o maior componente do índice e é um metal usado em quase todos os aparatos industriais e de consumo ou de serviço importantes. Por isso, o índice de preços do cobre também é provavelmente um bom indicador, na minha opinião. Quando comparei o preço do cobre com o crescimento do PIB mundial, a correlação era muito boa.

 

Logo, olhando para o futuro, o que nos dizem os preços dos metais e o preço do cobre sobre o terceiro trimestre e o futuro? Calculei a tendência do preço do cobre, e observei que a expansão após a semi depressão de 2015-16 parece ter alcançado seu ponto máximo. Isso sugere que a expansão global a partir de 2017, que esteve por cima da taxa de tendência, diminuiu de novo até a média da tendência, e pode cair para um nível abaixo dela.

 

 

O índice de preços dos metais também sugere que o ápice da aceleração atual do crescimento mundial (e dos Estados Unidos?) terminou em junho de 2018, e a tendência agora, no terceiro trimestre, que começou neste mês de julho), é descendente.

 

Portanto, não se anime tanto com as boas notícias sobre as cifras do PIB real dos Estados Unidos para o segundo trimestre de 2018, na próxima semana.

 

- Michael Roberts é um conhecido economista marxista britânico, que trabalhou por 30 anos na City londrina como analista econômico, e publica seus artigos no blog The Next Recession

 

30/07/2018

https://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Economia-Politica/-Big-Data-noticias-falsas-e-o-crescimento-mundial/7/41121

 

https://www.alainet.org/es/node/194432
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