Posicionar-se: o que ainda precisamos falar sobre a greve dos caminhoneiros?

14/06/2018
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Greve dos Caminhoneiros na fronteira com Brasil/Uruguai.
Foto Marcelo Pinto/Fotos Públicas
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Desde o final da década de 70, quando fomos ganhando força nas mobilizações contra a ditadura, as lutas sociais sempre contaram com a hegemonia da esquerda. As ruas eram nossas.

 

Em 2013, nossas atuais gerações vivenciaram de forma inédita o desafio de disputar os mesmos metros quadrados com grupos de direita.

 

Mas nem sempre foi assim. Nos anos 20 e 30, o fascismo disputou a mobilização de setores populares sempre apontando bandeiras reacionárias e contrárias aos interesses históricos dos que atendiam suas convocações.

 

Eles buscavam se apropriar de formas de luta, símbolos e até mesmo de elementos estratégicos e do imaginário da esquerda.

 

Agora, no episódio da mobilização nacional dos caminhoneiros, o desconcerto e a diversidade das análises de lideranças e correntes de esquerda evidenciam como está cada vez mais complexo posicionar-se no atual cenário.

 

Basear-se no senso comum de que havendo uma luta social da qual participam setores explorados já temos os elementos suficientes para apoiá-la, não responde mais aos desafios de um momento em que enfrentamos uma profunda derrota política.

 

Já não basta achar que analisar a realidade concreta se resume a descrevê-la em seus elementos imediatamente e sensorialmente constatáveis.

 

É preciso buscar um método para se posicionar. E, mesmo sendo pretensioso discutir o método de análise num breve artigo, tentemos.

 

Antes de tudo, necessitamos identificar as classes e suas respectivas frações em disputa. Entender quem são e como se posicionam suas representações e analisar a quem servem suas bandeiras e propostas.

 

Precisamos compreender quais são as forças sociais que se enfrentam no campo da política e, independente de nossos desejos, extrair que papel cumprirá uma ação, mobilização ou posicionamento neste enfrentamento.

 

Para tanto, nem as formulações abstratas e gerais conseguem nos fornecer um caminho, tampouco a expressão de nossas vontades e desejos.

 

Analisar corretamente uma situação concreta é buscar objetivar até mesmo o subjetivismo, assim como relativizar nossos desejos, extraindo o máximo dos elementos objetivos de um determinado momento histórico.

 

Sempre é difícil deixar de se pautar pelos acontecimentos mais recentes, considerar "imprevisibilidades" extrair as consequências táticas de uma interpretação e, principalmente, considerar as variáveis. Isso é o que torna tão complexa a tarefa de uma direção política.

 

A greve ou locaute dos caminhoneiros colocou um grande desafio para a esquerda. A disputa necessária e adequada às possibilidades presentes na conjuntura foi a que resultou sendo adotada pelos trabalhadores petroleiros.

 

Eles, com sua greve, ganharam palco para esclarecer os equívocos da pauta dos caminhoneiros, a manipulação de que estavam sendo objeto por parte das transportadoras e embarcadores de carga, apontando os verdadeiros inimigos.

 

Os petroleiros demonstraram com sua luta a relação da elevação dos preços e a nova tentativa de desmonte e privatização da Petrobras.

 

Cada vez mais enfrentaremos organizações e correntes de direita disputando setores populares a partir de contradições que são reais, mas com propostas de soluções políticas contrárias aos seus interesses históricos e políticos.

 

Sem um método que nos permita compreender o que está em jogo no terreno da política correremos o risco de bater cabeças e até mesmo, involuntariamente, de inflar nossos inimigos.

 

13 de Junho de 2018

 

 

 

https://www.brasildefato.com.br/2018/06/13/posicionar-se-o-que-ainda-precisamos-falar-sobre-a-greve-dos-caminhoneiros/

 

 

 

 

https://www.alainet.org/es/node/193498
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