A Venezuela resiste

15/10/2017
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Neste domingo 15 de outubro de 2017 se realizaram na Venezuela as eleições de Governadores de Estado (em número de 23); essa foi a vigésima segunda eleição realizada nesse país em 18 anos, desde a chegada de Chávez ao Governo em 1999. O Conselho Nacional Eleitoral disse que os bolivarianos ganharam 17 Governos, a oposição 5, e que havia um Estado (Bolívar) ainda precisando terminar a apuração; lembre-se que nas anteriores eleições desse tipo, ocorridas em 2012, a oposição tinha ganho somente 3 Governos estaduais.

 

A participação foi de um 61,17% (sendo esta a maior votação da história do país nesse tipo de eleição, que na sua edição anterior, em 2012, tinha alcançado uma participação de 52%, e antes da chegada de Chávez ao Governo, não ultrapassava o 30% ). O Governo diz que em nível nacional os bolivarianos obtiveram um 54% dos votos e a oposição só um 45% (imaginamos que o 1% restante corresponda a votos brancos ou nulos).

 

No entanto a oposição de direita nega-se a reconhecer os resultados, alegando fraude. Ora, há de se assinalar:

 

1) que nestas eleições se inscreveram 21 Partidos Políticos, incluindo todos os da oposição, que apresentaram pelo menos um candidato em todos os Estados,

 

2) a oposição teve delegados em cada uma das mais de 30 mil Mesas Eleitorais que funcionaram dia 15/10/17 e que participaram do escrutínio em cada uma delas,

 

3) que o ex-Presidente dos EEUU Jimmy Carter disse há alguns anos que o sistema eleitoral venezuelano é um dos mais confiáveis do mundo, o que detalhamos em: a) o padrão eleitoral é periodicamente atualizado (evitando-se a permanência nele dos falecidos), b) o eleitor identifica-se na urna eletrônica pela sua impressão digital (evitando-se assim o voto duplo, ou a possível substituição do eleitor por outra pessoa), c) no momento do voto a urna eletrônica emite um boleto em papel que o eleitor confere para ver se o registro corresponde ao que ele digitou, e que ele colocará numa urna anexa em cartão, d) isso permite que imediatamente após finalizado o escrutínio das urnas eletrônicas, em 55% das Mesas se realize uma auditoria desses boletos em papel, depositados nas urnas de cartão, para verificar a correspondência dos resultados comprovados por esses boletos com os indicados pelas urnas eletrônicas.

 

Lembre-se que essa dupla contagem foi sugerida por Leonel Brizola no momento da implantação do voto eletrônico mo Brasil, pois ele desconfiava que hackers pudessem falsificar os dados das urnas eletrônicas, em ausência de qualquer outro mecanismo de aferição; no entanto o duplo sistema venezuelano nunca foi adotado até hoje no Brasil. Não bastasse o assinalado, na noite mesmo do anúncio do resultado, o Presidente Maduro pediu que a Assembleia Nacional Constituinte ordenasse uma auditoria do 100% das urnas em cartão, para verificação de todos e cada um dos votos emitidos.

 

No entanto, repetimos, a direita venezuelana, respaldada pela direita latino-americana e mundial e seu poderoso exército mediático (no Brasil as redes privadas de TV, grandes rádios e grandes jornais) denunciaram uma suposta fraude; só não explicaram como a mesma poderia ter sido praticada com todas as medidas de controle antes citadas. Na verdade o que essa direita e o império ianque-OTAN não que reconhecer (em circunstâncias em que Trump é fruto de um sistema eleitoral tão falho que lhe permite ser Presidente tendo menos votos que a segunda colocada, e tendo menos que o 50% dos votos emitidos, num país no qual menos da metade dos inscritos participa da eleição presidencial) é o fato de que apesar das dificuldades no abastecimento de bens básicos e da grande inflação nos preços dos mesmos (causadas por uma guerra econômica que inclui sabotagens na produção-distribuição, inclusive da água e da luz, e sanções dos EEUU, além de erros do Governo que haverão de ser corrigidos o mais rapidamente possível para bem de todo o povo venezuelano, independente da opção eleitoral de cada um dos cidadãos), apesar da violenta campanha da direita que ao longo de vários meses incendiou prédios públicos e até queimou pessoas vivas (pelo simples “delito” da cor da sua pele ou sua aparência de chavistas), apesar da ameaça explicita de invasão quando Trump disse recentemente que não descartava a opção militar contra a Venezuela, e apesar da insegurança cidadã (infelizmente comum em outros países da A. Latina e do Terceiro Mundo, e que o povo e Governos venezuelanos deverão enfrentar com a maior eficácia no curto e médio prazo), a maioria do povo venezuelano decidiu defender a soberania nacional e seus recursos naturais (antes em mãos dos EEUU e de multinacionais) e uma opção de política econômica diferente do neo-liberalismo a serviço do império ianque-OTAN, da grande Banca e das multinacionais, para não renunciar às políticas sociais implementadas por Chávez em favor dos mais necessitados (que no recém encaminhado orçamento de 2018 ocuparão 70% das despesas de investimento, reforçando prioridades que permitiram até o presente momento, por exemplo, oferecer saúde e educação pública gratuita em cada bairro, vender alimentos a preços subsidiados para boa parte da população, e construir 1.800.000 casas/apartamentos populares).

 

O futuro imediato e mediato dirá se o povo venezuelano fortalecerá essas prioridades retirando da oligarquia venezuelana o grande poder que ela ainda tem em grandes empresas de produção e/ou distribuição, no campo, na Banca, no Comercio Exterior e na grande mídia, e reforçando, com base na união cívico-militar e na solidariedade da Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América (ALBA, em especial Cuba, Bolívia e Nicarágua) e dos patriotas latino-americanos unidos na construção da Pátria Grande independente e fraterna, a sua capacidade dissuasiva e de defesa diante das agressões imperiais (diretas ou através de países com governos escravos e/ou da OEA).

 

lopesirio@hotmail.com

 

 

 

 

https://www.alainet.org/es/node/188656
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