Guatemala vai às urnas

04/09/2007
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É o tempo das chuvas na Guatemala, pequeno país da América Central, situado entre o México, Honduras e El Salvador. Por estes dias o clima é úmido, mas quente. É que além da água que cai sem parar, os guatemaltecos estão às portas de mais uma eleição presidencial que pode dar a vitória a um candidato de centro-esquerda. Não é à toa que a violência vem sendo o prato do dia nestes últimos meses. Assassinatos, já foram 40 ano que passou, todos de políticos. Além disso, três jornalistas também perderam a vida por conta do turbilhão eleitoral. E é nesse contexto que mais de cinco milhões de pessoas estão aptas a ir às urnas neste dia 9 de setembro.

A Guatemala é um país encantador. Dizem alguns que ali existe a luminosidade mais incrível do mundo. É o berço de uma das mais antigas e surpreendentes civilizações - os maias, e seu povo tem sido protagonista de uma longa história de luta e coragem na defesa de seu territória e de sua soberania. Tudo começou na invasão espanhola que chegou em 1523. A resistência autóctone foi tão impressionante que a conquista só se efetivou mesmo em 1697, mais de um século depois. Ainda assim, no tempo da colônia não foram poucas as revoltas e lutas de libertação, até que em 1821, deu adeus à Espanha e a rapinagem europeia.

Mas, os tempos de república tampouco foram calmos. Governos militares, ditadores e civis oportunistas e entreguistas fazem parte da história. Nos anos 50 logrou eleger um presidente afinado com os anseios populares, Jacob Arbenz, mas, a eterna intervenção estadunidense nas terras de “nuestra América” pôs fim ao projeto popular, do qual o próprio Che Guevara participou, fortalecendo ali, naquela terra de soberba luz, seus pressupostos revolucionários. Depois disso, a vida na Guatemala se deteriorou. As populações indígenas foram sendo dizimadas e humilhadas, impedidas de dizerem sua palavra, de expressarem sua cultura. O período de guerra civil levou a vida de mais de cem mil pessoas, obrigando outras milhares a fugirem do país.

Agora, o país dos Maias e Kunas, das gentes pobres e sedentas de justiça, vai eleger novo presidente. Mas, por conta desta história de extremínio, violência e medo, o povo está sem a menor vontade de participar, e projeta-se uma abstenção gigantesca. Ainda assim, o candidato da centro-esquerda, Alvaro Colom (União Nacional Esperança), periga ganhar, aparecendo como favorito nas pesquisas. Rigoberta Menchú, mulher, indígena, e Prêmio Nobel da Paz em 1992, aparece em quinto lugar. Apesar de ser a primeira vez que uma mulher autóctone se candidata, as análises sobre a sua baixa aceitação nas camadas mais empobrecidas da população dão conta de que, depois do prêmio, Rigoberta andou afastada das bases e por isso não consegue capturar a confiança. O segundo colocado e potencial adversário da ala mais progressista que está à frente das pesquisas, é um general aposentado, Otto Pérez Molina, do Partido Patriota, representando a direita tradicional, aliada dos Estados Unidos.

As eleições do dia nove de setembro podem apresentar muitas surpresas. Pode acontecer de o povo decidir votar em massa, pode ser que a abstenção seja gigantesca. Tudo ainda está muito indefinido. Para se ter uma idéia, Alvaro Colon, que é o primeiro nas pesquisas, alcança apenas 22% das intenções de voto. O clima de tensão criado nos últimos meses com assassinatos e violências de todo o tipo pode ser um inibidor da participação popular, mas também pode potencializar, se o povo acreditar que pode mudar tudo.

O certo é que as mudanças na Guatemala não vão acontecer por mágica ou por conta de um voto na urna. Protagonista de uma das piores distribuições de renda do mundo com 75% de sua população vivendo abaixo da linha da pobreza, o país precisa de transformações estruturais. Hoje, a dívida pública chega a mais de 30% do seu PIB e as mudanças, se vierem, precisam ser radicais. Caso contrário não passarão de maquiagens mal feitas que, a seu tempo, começam a desmoronar.

- Elaine Tavares – jornalista no Ola/UFSC. O OLA é um projeto de observação e análise das lutas populares na América Latina.


http://www.ola.cse.ufsc.br


https://www.alainet.org/es/node/123012
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