Sobre o segundo Turno

05/10/2006
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- A vitória de Lula é uma derrota para direita, mas não será uma vitória da classe trabalhadora, Porque mesmo assim precisamos apóia-lo? Há indicativos em vários estudos de que o capital financeiro reina com total liberdade, e, temos prova disso, quando, neste governo, por ocasião das diversas crises institucionais, a economia manteve as regras estabelecidas pelo modelo econômico sem sofrer abalo algum. Por outro lado, nos deparamos com outras análises onde afirmam que o Estado e a institucionalidade já não têm a centralidade do poder; este, ( para citar Gramsci) estaria disperso nos diversos “ aparelhos privados de hegemonia”, que chega em determinadas ocasiões transparecer não ser mais interessante lutar pelo poder que está na instituição, mas sim por aquele disperso na sociedade civil. 1 – Se a instituicionalidade para a burguesia não tivesse importância e se lá não estivesse o núcleo central do poder, eles não investiriam tantos recursos nas eleições, nem ficariam tão revoltados quando perdessem. Afinal, se o poder está com o capital ou disperso na sociedade civil, o aparelho governamental não teria importância e seria aniquilado por eles. 2 – O poder político estatal tem sentido para a burguesia, justamente porque ela tem o capital. Para os trabalhadores significaria ter as massas a seu favor. Ocorre que vivemos uma tragédia histórica. Temos parcelas do governo ( e poderíamos tê-lo todo) mas não temos as massas organizadas; o que dá para a burguesia uma certa tranqüilidade, e por isso é que, não transparece claramente a falta que lhes faz o aparelho do Estado. O abalo político pode afetar levemente o poder econômico, mas se houver um abalo econômico ele dependerá profundamente do poder político para se recompor. 3 – O segundo turno para presidente da república a ser realizado no dia 29 de outubro carrega consigo três significados: de derrota política e de não-vitória econômica e, de derrota da simbologia: a) A vitória de Lula é uma derrota política para a burguesia, porque lhes faltará de alguma forma os instrumentos para alargar o poder do capital. Não que Lula não favorecerá o capital como veio favorecendo; mas, para a direita, é duro ter alguém que não é de seu meio desfilando pela sala principal do poder por mais quatro anos. Por outro lado, o poder central repercute nos cargos de confiança nos Estados, nos órgãos que estão nas regiões e municípios: IBAMA, Correios, Empresas Estatais, etc. Para os políticos de direita locais, é um desastre não poder indicar os seus afilhados. Eles nunca tinham passado por uma situação como esta e sentem que a cada dia se enfraquecem mais. A política burguesa é a arte das trocas; quem nada tem para trocar não se mantém no campo da política. b) A “ não–vitória” econômica para a classe trabalhadora se configura se Lula vencer as eleições. Significa ( a continuar este modelo) que não haverá avanços no ponto de vista dos ganhos materiais. Talvez retarde ainda mais tempo o reacenso do movimento de massas, pois as forças de esquerda continuarão divididas e, as que estiverem no governo, satisfeitas com o pouco, farão valer acomodados o dito popular “ o pouco com Deus é muito”. c)A derrota de Lula é mais do que política é também de simbologia. A derrota de Lula, mais do que uma derrota material é simbólica para os trabalhadores que construíram Lula como liderança desde o movimento sindical na década de 1970. A derrota de Lula para as grandes massas não é o mesmo que a derrota do PT. O PT poderá perder em 2010 ( quando Lula tenha cumprido dois mandatos, mas Lula não pode perder agora, esta é a lógica da reflexão do senso comum. 4 – Por que votar em Lula? A direita através da CPIs contra os movimentos sociais já vinha delineando o rumo de sua falsidade política: “ salvaguardar a ética” . Por trás disso está a orientação norte americana de empregar a filosofia do Conflito de Baixa Intensidade para criminalizar os inimigos do modelo. Se a direita eleger Geraldo Alkmin com a simbologia da “ pureza ética” a esquerda não estará sendo somente derrotada politicamente, mas também moralmente e, com certeza refluirá para o verdadeiro ostracismo político. Figurará no imaginário popular que foi o PT o principal responsável pela derrota de Lula. 5 - Mesmo que Lula não se assuma como tal, a disputa é de classes ( e não de princípios éticos, prova disso é que em São Paulo foram eleitos Palocci e Genuíno ) e a classe trabalhadora não pode entrar em luta sem argumentos. A ética para os trabalhadores não pode ser uma discussão de alguns desvios, mas de como agem os exploradores contra os explorados; o que fazem com a terra e com todos os bens naturais; o que fazem com os seres humanos; o que fazem com a educação, com os bens públicos e assim por diante. 6 - Lula não é o candidato dos sonhos das pessoas conscientes; mas é a simbologia atual de uma classe contra a outra. Ficará evidente se a militância for para a as ruas, caso contrário a rede Globo conduzirá a campanha. Será está militância então que ( por falta de tempo) deverá mandar o recado através de entrevistas coletivas, debates públicos e presença organizada nos comícios com faixas de cobrança para que rumo deve ir o governo, e em discussões amplas com o candidato com personalidades e lideranças para que ouça que o apoio não é gratuito mas de extrema preocupação com o futuro do país. 7 – Por fim, se aparentemente não houver nenhuma outra razão para apoiar Lula, ainda restará a mais forte: a direita não pode provar através do discurso da falsa ética e da moralidade que a esquerda e os revolucionários são incompetentes, nem que a sociedade se divide entre bons e maus, ou entre éticos e corruptos escondendo com toda a habilidade ideológica que nos dividimos em classes, entre exploradores e explorados.
https://www.alainet.org/es/node/117449

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