O Brasil e o Conselho de Segurança da ONU
22/09/2003
- Opinión
Há quem diga que o grande teste do novo governo brasileiro
no plano internacional seja a viagem de Lula às Nações
Unidas. Na verdade, o teste maior dessa política se deu em
Cancún e o Brasil conseguiu – junto ao Grupo dos 23 – uma
vitória promissória para o futuro.
Dentro delas estaria a possibilidade de o Brasil ingressar
como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU?
A questão é muito complicada. O Conselho foi formado
dentro das Nações Unidas com os países vendedores da
segunda guerra – EUA, URSS, Grã Bretanha e França. Mais
tarde, quando se tornou potência nuclear e apoiada na
política de aproximação com os EUA, a partir de 1971, a
China terminou ingressando – o que implicou na saída de
Taiwan da ONU.
A Alemanha, o Japão e a Itália, reconhecidos como membros
do bloco de poder no mundo – tanto assim que pertencem ao
chamado G-8 – ficaram de fora, por fazerem parte da
aliança derrotada na guerra. Com as feridas da guerra
superadas, é um fato destoante que eles não possam gozar
do mesmo privilégio dos outros países e se candidatar a
ter esse estatuto, em qualquer projeto de ampliação do
Conselho de Segurança.
As décadas transcorridas desde a fundação da ONU viram
também aparecer potência intermediárias ou regionais,
entre elas a Índia, a África do Sul, o Brasil, que se
candidatam imediatamente a ser incluídos no Conselho de
Segurança como novos membros permanentes. No entanto, essa
possibilidade esbarra em outras potências regionais –
especialmente nos casos da América Latina e da Ásia -, em
que a Paquistão se sentiria preterido, assim como o México
e a Argentina, caso aqueles três países fossem
contemplados.
Os EUA, que se opõem a uma ampliação do Conselho de
Segurança – onde já têm problemas suficientes, como os
apresentados na fracassada tentativa de Washington de ter
a aprovação do Conselho para a invasão do Iraque – têm
jogado com as rivalidades regionais para tentar
neutralizar qualquer projeto de ampliação do Conselho. Na
Ásia, joga com a rivalidade entre Índia e Paquistão para
barrar a candidatura daquela. Na América Latina, Clinton
jogou com a rivalidade entre o Brasil e a Argentina, mas
quando esta passou a reconhecer a candidatura brasileira
como representativa da área, resta a Washington apelar
para seu aliado preferencial no continente – o México -,
como forma de tentar neutralizar a candidatura brasileira.
Assim, sem uma reviravolta significativa, dificilmente se
porá em prática a ampliação do Conselho de Segurança da
ONU, que precisa do consenso de seus cinco membros
permanentes. A possibilidade real se apresenta que à
pressão dos países que desejam ingressar e aos que os
apoiam, se acrescente uma crise da ONU, que pode se
colocar justamente quando os EUA passaram a necessitar das
Nações Unidas para a reconstrução do Iraque. A aliança
entre o Brasil, as potências européias interessadas na
democratização da ONU, mais os países do grupo dos 23 pode
ser a chave da resolução de um problema fundamental para
que se recupere o prestígio da organização e se possa
caminhar para a construção de um mundo multipolar.
https://www.alainet.org/es/node/108431?language=en
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