O perigo dos transgênicos, os interesses das multinacionais e a manipulação na midia
12/06/2003
- Opinión
A sociedade brasileira vem sendo bombardeada todos os
dias por notícias falaciosas produzidas pelos lobbys
das grandes empresas multinacionais que querem nos
impor as sementes transgênicas como se fossem uma
necessidade, uma questão de progresso. Colocam apenas
as pretensas vantagens e escondem os perigos para o
povo e para nossa soberania nacional e alimentar. Mas
afinal, o que está em jogo?
De um lado temos os interesses de lucro e o controle do
monopólio das sementes pelas empresas multinacionais
como a Monsanto, a Cargill, a Bung, a Du Pont, a
Sygenta e a Bayer. De outro os interesses dos
agricultores honestos e do povo brasileiro. Esse é o
verdadeiro confronto que se trava na questão dos
transgênicos.
As empresas e seus lobistas, na ambição de controlar a
agricultura brasileira e ter o monopólio das sementes,
em especial da soja, milho, trigo, girassol e algodão,
ficam pregando que os transgênicos são mais produtivos
e lucrativos do que a semente de seus concorrentes. Se
o critério para praticar agricultura é dedicar-se
sempre a produtos mais lucrativos, então deveriam
estimular apenas o plantio de fumo e de maconha! Os
agricultores tem a responsabilidade de produzir
alimentos. E alimentos sadios, com segurança para toda
a população.
Uma variedade de milho transgênico já foi recolhida nos
Estados Unidos por seus malefícios para a saúde humana
e animal. Da soja, não há até agora nenhum estudo que
dê segurança, e portanto, no futuro poderemos ter
também conseqüências para a saúde das pessoas. E está
comprovado que, ao ser necessário casar seu plantio com
o uso intensivo do agrotóxico Roundup , com o passar
dos anos isso afetará a vida do solo e do meio
ambiente. É por essa razão que há mais de 4 anos corre
uma ação judicial contra a Monsanto, que não conseguiu
apresentar nenhum laudo atestando que sua soja não
causa mal ao meio ambiente brasileiro, como determina a
constituição.
Da área cultivada no mundo, menos de 10% utilizam
sementes transgênicas e 95% dos transgênicos são
produzidos por apenas três países: Estados Unidos,
Canadá e Argentina, onde as multinacionais
estadunidenses controlam o mercado. Porque será que
todos os demais países preferem a precaução?
Em todo o mundo, e em especial na Europa e Ásia, os
consumidores são contrários ao consumo de produtos
transgênicos, cujos efeitos na saúde não estão
garantidos. Somos a favor do uso da biotecnologia,
assim como os agricultores vem aplicando empiricamente
ao longo da história da humanidade. Mas uma
biotecnologia responsável com o nosso povo e o futuro
do meio ambiente.
Se podemos alimentar nosso povo, com produtos de outras
sementes mais seguras e sadias por que arriscar com
transgênicos? Apenas para garantir o lucro da Monsanto?
A Monsanto está tentando induzir, de qualquer maneira,
o cultivo de transgênicos no Brasil, porque é sua
última chance . Nos Estados Unidos teve um prejuízo de
mais de um bilhão de dólares e suas ações caíram 27% no
último ano. Recebeu a pior cotação na bolsa de Nova
Iorque e ainda tem o desplante de querer cobrar
royalties dos exportadores e agricultores brasileiros,
que foram induzidos a cometer dois crimes plantando
ilegalmente sua semente de soja Roundup contrabandeada
da Argentina. Deveriam cobrar da FARSUL, entidade dos
latifundiários gaúchos, que difundiram a semente
transgênica!
O Brasil precisa de uma legislação que garanta o
direito a precaução na saúde pública e impeça que as
multinacionais tenham o monopólio de nossas sementes,
colocando em risco a soberania nacional. Por hora, está
em vigor a Medida Provisória 113, que já foi aprovada
pela Câmara e que libera o comercio temporário da soja
gaúcha desta safra, mas que mantém proibição rigorosa
do cultivo de qualquer semente transgênica para fins
comerciais. O Governo está preparando uma nova lei
definitiva para substituir a MP e enviá-la ao congresso
no próximo mês.
É necessário que haja um amplo debate de toda a
sociedade brasileira, dos consumidores da cidade e que
todos se manifestem e pressionem o governo e os
parlamentares.
A empresa estadunidense Monsanto, vem gastando milhões
em lobby, financiando campanhas, pagando viagens de
delegações aos Estados Unidos, fazendo propaganda na
mídia, alimentando jornalistas e comentaristas apenas
para garantir seu lucro. Esperamos que o governo e os
parlamentares brasileiros atuem do lado do povo e não
do lado do capital Estadunidense. Esse é um assunto de
saúde pública e de soberania alimentar nacional. Se o
governo e o congresso errarem de lado, vão ser cobrados
pela história e pelo povo!
* João Pedro Stedile é dirigente do MST e da Via
Campesina.
MST Informa, Ano II - nº 41 sexta-feira, 13 de junho
de 2003
https://www.alainet.org/es/node/107687
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