O nosso destino tangueiro

13/04/2003
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O acontecimento mais importante para os destinos do Brasil estão situados fora das nossas fronteiras. Mas não vem do norte, do FMI ou do governo norte-americano. Vem das eleições presidenciais argentinas. O segundo turno das eleições definirá quem teremos como presidente do país vizinho – se um aliado do projeto brasileiro ou se um inimigo. Em outras palavras: se Menem ou se algum dos outros candidatos. Se Carlos Menem volta à presidência da Argentina, já declarou que imediatamente adotará o dólar como moeda do país e anunciará a decisão de aderir à Alca. Nesse caso, a moeda norte-americana ganharia um impulso decisivo para se tornar a moeda do conjunto da região. Nas condições internacionais atuais, em que poucas moedas sobreviverão, a adesão argentina a uma moeda com a força do dólar, que já conta no continente com a adoção do Equador, de El Salvador e com uma adoção informal em países como o Panamá, geraria uma dinâmica de difícil contenção. As moedas nacionais dificilmente sobreviverão, somente processos de integração regional conseguirão manter moedas fortes. Nesse caso, a Alca se imporia e teria o dólar como sua moeda. Neste caso, as margens de manobra do governo brasileiro se estreitarão enormemente. O Mercosul será condenado à morte, a integração continental cederá passo à Alca e a hegemonia norte-americana se imporá sobre o conjunto do continente. Seria um golpe fatal à tentativa brasileira de uma reinserção soberana no plano mundial, o que só poderá ser conseguido a partir de uma relação de forças regional favorável. Se algum dos outros candidatos que, por convicção ou por oportunismo, anunciam adesão ao projeto do governo brasileiro de priorizar o Mercosul, triunfar, a situação muda radicalmente. A proposta do governo Lula de construir politicamente o Mercosul, de privilegiar a aliança com a Argentina, de trabalhar para a construção de uma moeda comum regional, ganhará uma grande força e gerará um espaço novo para a integração regional e para um mundo multipolar. A atitude de setores da esquerda argentina de não lançar candidato, de votar nulo ou em branco, de pregar a abstenção, pelo fato de que não se trata de eleições gerais – o Parlamento atual deveria continuar -, pregando o lema: "Que se vayan todos", pode levar, na prática a aumentar os riscos da vitória de Menem, além de perder a oportunidade de lançar um candidato forte, apoiado por uma ampla frente de esquerda, que teria, nas condições de crise geral das elites tradicionais, razoáveis chances de triunfar. Caso triunfasse, com a legitimidade conseguida, poderia perfeitamente conseguir a dissolução do Parlamento e a eleição de um novo. Poucas vezes se dão condições como as atuais, com a eleição de Lula no Brasil e eleições presidenciais na Argentina poucos meses depois, com ausência de qualquer proposta norte-americana para o país vizinho e mesmo para o conjunto do continente. Permitir a vitória de Menem seria um duro golpe para o destino do continente, por muito tempo. Ao contrário, eleger um aliado para as propostas brasileiras, possibilita uma mudança fundamental para o futuro da América Latina.
https://www.alainet.org/es/node/107330
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