Qual ecologia?

10/04/2003
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Foi o biólogo alemão Ernest Haeckel (1834-1919) quem cunhou o termo Œecologia, que deriva do grego "oikos", que significa casa, e "logos", conhecimento ou estudo. Na sua definição, "ecologia é o estudo da interdependência e da interação entre os organismos vivos (animais e plantas) e seu meio ambiente (seres inorgânicos)". Como não se trata apenas de conhecer a natureza, mas sobretudo de cuidar para que seja preservada, talvez o termo mais adequado fosse ecobionomia, pois "nomia" significa o que é de lei ou de direito. Assim como Œeconomia é a obrigação de cuidar da casa, ecobionomia seria o cuidado da vida. Existem basicamente três conceitos ecológicos. O primeiro é o fundamentalista, derivado de uma interpretação literal do texto bíblico e adotado pelo capitalismo: a natureza está aí para quem quiser deitar e rolar, cortar árvore, pôr fogo na mata, aproveitar e, sobretudo, extrair lucros. É o que pensa Bush, que se recusa a assinar o Protocolo de Kyoto e qualquer tratado que exija a redução da poluição industrial causada pelos EUA. O segundo é o conceito que chamo de social-democrata: lutar pela defesa das baleias, dos golfinhos, da não poluição dos rios e das matas. Agora, a fome na África, na Ásia, na América Latina, isso não interessa. A natureza deve ser tratada como um santuário. Mas o bicho-homem e o bicho-mulher passando fome não é problema nosso. O terceiro, considero evangélico: não dá para separar o ser humano da natureza. Nós somos natureza e não há nada que se faça à natureza que não repercuta no homem e na mulher. E não há nada que façamos a nós mesmos que não repercuta no meio ambiente. Quem simbolizou essa unidade no Brasil foi Chico Mendes, assassinado no Natal de 1988. Sua postura ecológica nasceu da militância nas Comunidades Eclesiais de Base do Acre e, em seguida, na CUT e no PT. Ao defender a Amazônia e propor a reserva extrativista, ele sabia que, assim, evitava a expansão do latifúndio na região. Com os "empates", Chico impediu o desmatamento no Acre, ao contrário do que ocorreu em Rondônia. Ele vinculava a defesa do meio ambiente à urgência da reforma agrária em nosso país. De todas as espécies de vida, a humana é a mais sagrada. No entanto, aciona-se o alarme para alertar que, nos próximos 20 anos, a aids matará 70 milhões de pessoas no mundo (até hoje, matou 20 milhões). Mas não é a aids a principal ameaça à vida humana. É a fome, que mata uma criança a cada três segundos. É preciso preservar, não apenas o meio ambiente, mas o ambiente inteiro: este planeta que, por enquanto, não tem como captar recursos fora de suas fronteiras. Portanto, sem a partilha dos bens da Terra e dos frutos do trabalho humano o nosso futuro estará cada vez mais distante do Jardim do Éden e próximo dos círculos abissais de Lúcifer. A prosseguir a atual escala de poluição atmosférica, sem contar a da água, as gerações vindouras já nascerão envenenadas. * Frei Betto é escritor, autor de "A Obra do Artista ­ uma visão holística do Universo" (Ática), entre outros livros.
https://www.alainet.org/es/node/107329
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