Entrevista com Joao Pedro Stedile

09/08/2012
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1. Os jornais noticiam que o MST ficou insatisfeito com o PT por causa da falta de prazo para os assentamentos do sem-terra que estao nas estradas. Em que prazo os senhores esperam o assentamento das 85 mil famílias - ou 100 mil - acampadas nas estradas? Voces aceitariam uma prorrogaçao do prazo? Pretendem controlar as invasoes no inicio do governo Lula? Voces terao mais, digamos, paciencia com Lula que tiveram com outros governantes? RESPOSTA; " A impensa brasileira é de uma mediocridade e de falta de ética a toda prova. Inventam factoides, produzem manchetes bombasticas que nao tem nada a ver com os fatos ou a propria materia. Desde que o Presidente Lula foi eleito, nós temos mantido canais de comunicação com as equipes do governo. Conversamos., E apresentamos muitas sugestoes, do mque é necessário fazer a curto prazo para remediar os graves problemas sociais que existem no campo, como hernaça de dez anos de neoliberalismo, que somente aumentou a miseria, a fome e o desespero. Há acordo ente de nos, de que a prioridade seja o combate a fome, o assentamento das familias acampadas e a recuperação da situação dos assentamentos, que estão abandonados." 2. Voces fizeram ou farão indicações para o ministerio da reforma agraria? O que vcs esperam do ministro indicado para o cargo? Quais as mudanças mais urgentes na forma de trabalho do ministerio e do Incra? RESPOSTA: " Nossa politica é pública e clara. É da natureza dos movimentos sociais manter autonomia em relação ao estado e aqualquer governo. Nos orgulhamos de termos feito campanha para o Lula, desde 1989. Nos consideramos tambem vitoriosos. Mas os métodos de trabalhar são diferentes. Nós não indicamos nenhuma pessoa para nenhum cargo. Isso é assunto do governo. Disputa eleição para isso. Nosso movimento continuará com sua função histórica, conscientizar e organiza os pobres do campo, para que lutem por seus direitos. E defendemos a tese de que o latifundio, ou seja a grande propriedade improdutiva é a principal causa no meio rural da fome e da pobreza e da desigualdade social. Por isso nossa prioridade, nossa luta principal será derrotar, combater o latifundio. A novidade agora, é de que teremos um governo comprometido com as mudanças sociais e com o combate ao latifundio tambem. Antes o governo neoliberal defendia o latifundio e por isso lutavamos contra ele tambem." 3. O movimento sempre teve as invasoes como uma forma de pressao, ate por falta de outros canais de comunicaçao com o governo federal. Como se dara as conversas e as negociaçoes com o futuro governo? O senhor acha que um assento no anunciado conselho de desenvolvimento economico e social seria eficiente? O senhor acha que as negociaçoes irao prosperar mesmo se Lula nao conseguir cumprir imediatamente as promessas de campanha? RESPOSTAS; " Os movimentos sociais tem e devem ter sempre autonomia em relação as formas de luta que vão desenvolver para pressionar o governo. É da natureza da democracia o direito dos grupos e classes cosiais pressionarem. Na historia da humanidade, não houve nenhuma conquista social sem luta social. No caso das ocupações ( que são diferentes de Invasões)... Invasão é o que é feito pelos fazendeiros, grileiro que invadem terra publica, praticando esbulho possessório para acumular em proveito proprio. Ocupação é realizada por movimento social, é um ato de massas, de pressão social sobre o latifundio, para que o governo aplique a lei e desaproprie aquele latifundio. Enquanto houver latifúndios, grandes propriedades improdutivas de um lado e milhares de sem terra de outro, haverão ocupações de terra !!. Isso é parte da realidade social brasileira injusta, e não de estrategias ou da vontade de dirigentes.. Nos achamos que uma das poucas areas que o novo governo vai poder avançar será no campo social. No meio rural, poderá avançar na solução da fome, e das medidas de emergencia para os acampamentos. Problemas o governo terá com o grande capital transnacional, com o FMI, com o governo Bush, com a ALCA 4. Alias, o que o senhor acha da proposta de pacto social? O senhor acredita que Lula conseguira reunir os principais atores sociais em torno de um projeto comum, de interesse nacional, ou há chances de a ideia fracassar mais uma vez, como em outros governos? RESPOSTA: "No brasil a expressão pacto social está desgastada. Somente funciona na Europa em sociedades desenvolvidas, aonde o pacto social foi utilizado como uma forma de viabilizar uma proposta social-democrata. Aqui acho exagero chamar de pacto social para reuniões de conselhos sociais, que são necessarias, mas que não resolvem os problemas. A solução dos problemas sociais, não dependem de reunioes, dependem de medidas de politica economica e social, que de fato resolvam os problemas e vão desaluviando as contradições e as desigualdades existentes na sociedade. Um gesto simbólico do governo, das lideranças, as vezes tem muuito mais peso, do que horas de conversas entre diferentes.. Nunca houve distribuição de renda em sociedade qualquer, porque os ricos sentarem-se a mesa com os pobres e resolveram abrir mão de seus privilégios. Para isso existe estado e governo, que em nome da maioria, toma medidas para corrigir as distorções que o poder economico vai criando por seu processo natural de acumulação.. Se a solução dos problemas dependesse da vontade das pessoas se reunirem, não precisava de Estado e de Governo. 5. Quais os erros que o senhor espera que o PT nao cometa - na area social e na economica? RESPOSTA; "Na área economica, espero que o novo governo não cometa o erro estrategico de aceitar a ALCA. A alca seria a perda soberania em todas as areas e a submissão total aos Estrado Unidos. Podem aumentar as relações comerciais com os Estados Unidos, isso é outra coisa. Mas a ALCA como está proposta é o fim do BRASIL como nação independente. E nós lutaremos, de toda as formas possiveis, para impedir. Na agricultura, esperamos que o governo não caia na besteira de aceitar as sementes transgencias. Que seria o fim da agricultura brasileira. E inclusive do ponto de vista de mercado, perda de mercados futuros importantes. E do ponto de vista do meio ambiente e da saude publica uma temeridade. É uma falácia difundida pela Monsanto e outras multinacionais, a ideia de que transgênico é mais produtivo e não faz mal a saude. Faz bem apenas para sua taxa de lucro. Na area social, espero que o novo governo, não caia na ilusão de ter medo de fazer mudanças. Para fazer mudanças sociais e beneficiar os pobres, precisa ser corajoso e enfrentar os interesses dos que hoje tem privilégios. Se o governo cair no erro de apenas administrar o orçamento publico, está ferrado. Nós o elegemos para tomar medidas concretas de mudanças. 6. Alem de assentar todas as familias nas estradas, o futuro governo tera de salvar boa parte dos assentamentos ja existentes, que padecem de falta de estrutura e apoio? Ha qual desses dois temas sera preciso dar prioridade: aos assentamentos ou aa estrutuiraçao dos assentamentos? A herança financeira deixada pelo governo FHC nao dificultara o trabalho do futuro governo? O senhor acha que sera possivel ter dinheiro para atender a todas as demandas? RESPOSTA: " Como disse antes, talvez a parte mais facil e rapida do governo resolver será em relação as 80 mil familia acampadas, e as milhares de familias assentadas. Pois para isso prcisa poucos recursos, não depende de nenhum acordo internacional, e não afetara interesses do capital internacional. Temos muita terra disponivel, improdutiva. Basta vontade politica. E para os assentamentos com pouco dinheiro se resolve. Acho que a parte dificil na agricultura, será a medio e longo prazo, o governo conseguir impedir o avanço do neoliberalismo, que para nós da agricultura, significa o avanço do modelo norte-americano de agricultura. Durante os oito anos do FHC fizeram uma politica de implantação desse modelo, que so bneneficiou as multinacionais. Elas controlam hoje o comercio agricola, dos graos, controlam as grande sagroindustria,s controlam a pesquisa, as sementes, compraram os armazens do estado, e o governo se retirou da agricultura. É preciso reconstruir um novo modelo agricola, que priorize a produção de alimentos, a podução para mercado interno e não para exportação (mesmo na soja que é nosos principal produto agricola de exportação, exportamos apenas 30% do produzido, e é uma besteira achar que exportar produtos agrícolas tira o país da crise...a Embraer sozinha exporta a mesma coisa do que toda a soja baisleira- nos temos que exportar produtos com valor agregado.. ou seja com muitos dias de trabalho incorporado.) Priorizar o apoio e a melhoria das condições de vida dos agricultores, para que eles tenham renda e permaneçam no meio rural. Reativar a EMBRAPA como grande empresa publica de pesquisa. E produzirmos nossas proprias sementes. Estimular as pequenas e medias agroindustrias, de forma cooperativada. Taí nosso programa e proposta de medio e longo prazo." --- Carta Capital 23 dez 2002
https://www.alainet.org/es/node/106821
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