Somos todos responsáveis

26/06/2002
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A morte do jornalista Tim Lopes, da TV Globo, pelas mãos do traficante Elias Maluco, em mais um dos aterrorizantes episódios de violência de nosso cotidiano, já se transformou num marco para a sociedade brasileira. O país clama pelo fim da brutalidade e um controle efetivo sobre o crime organizado e o crime de varejo, que põem cidadãos e governos em estado de tensão permanente. De fato chegamos a uma situação limite. O momento exige um esforço concentrado do aparato estatal para dissolver o poder paralelo que os bandidos, aos poucos, vão instalando e sedimentando no país. Mas o momento também é de reflexão. A morte de Tim Lopes nos obriga a Lançar luzes sobre o problema em suas raízes mais profundas. A violência que está tomando conta das cidades brasileiras é multiplicada, em última análise, pela miséria, e pela falta de horizonte a que estão submetidos os milhares de jovens das classes marginalizadas. Sem expectativa de um futuro melhor, um exército de jovens acaba aceitando hoje a vida criminosa como a única alternativa disponível para suas vidas. As cenas que assistimos estupefatos quase todos os dias nas emissoras de TVs, com adolescentes ostentando armamentos pesados em plena luz do dia, vendendo drogas em feiras abertas ao público, sem constrangimento algum, vão continuar se a sociedade não atuar para efetivamente mudar o rumo das coisas. Chegou a hora de darmos um basta à perturbadora realidade que nos cerca. Chegou a hora de dinamizar o que o Brasil tem de melhor: o seu capital humano. Chegou, enfim, a hora de nos perguntarmos que perspectivas estamos oferecendo aos meninos e meninas que vagam pelas ruas das grandes metrópoles, vivendo de biscates e de grandes e pequenos delitos. Que alternativa estamos oferecendo às famílias pobres das periferias? Que Futuro estamos abrindo para os jovens que sonham com uma profissão, mas não têm onde buscar orientação e trabalho ? Que ações estamos desencadeando para resgatar o contingente de excluídos que vive sem presente e sem futuro em todo o país? A transformação desta realidade é tarefa de todos nós. Temos a obrigação de nos lançarmos nesta cruzada pela recuperação da cidadania. Não podemos mais esperar que a solução venha exclusivamente do Estado. Mais do que nunca, a responsabilidade social deve passar a pautar nossas ações, nossas condutas. O tema que insistentemente e de forma competente vem sendo trazido à tona por organizações como o Instituto Ethos, Abrinq e Gife ganha caráter de emergência a cada dia que passa. As empresas brasileiras e internacionais que aqui operam, com toda a sua capacidade de mobilização e financiamento, não podem mais fechar os olhos para a questão social. O investimento no desenvolvimento da solidariedade humana organizada com objetivos definidos e a soma de esforços entre famílias, sociedade e governo reduzem gastos e levam a resultados eficazes. O episódio Tim Lopes soa neste momento como um convite adicional à mobilização. Embora pesquisa do Ipea divulgada no mês de junho nos mostre que 59% das organizações privadas instaladas no país já façam algo pelo social, investindo R$ 4,7 bilhões em projetos do gênero ao ano, ainda há muito por se fazer. É um horizonte que devemos observar e perseguir, sob pena de criarmos um país sem mercado consumidor, sem mão-de-obra qualificada, entregue à violência e aos caprichos de marginais . Milú Villela é Presidente do FAÇA PARTE - Instituto Brasil Voluntário
https://www.alainet.org/es/node/106027
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