Crítica ao poder

12/05/2002
  • Español
  • English
  • Français
  • Deutsch
  • Português
  • Opinión
-A +A
Os candidatos a Presidente trocam farpas sobre suas respectivas competências. Homens públicos não costumam gostar de críticas. São raros os que indagam sobre o próprio desempenho, pedem críticas a seus correligionários e buscam assessores que lhes dêem sugestões. Quem é capaz de seguir o exemplo de Jesus e indagar a seus companheiros o que eles e o povo pensam dele? (Mateus 16, 13-15). Em geral, as pessoas pensam de nós o que nem sequer suspeitamos, e não exatamente o que pensamos que elas pensam. Quem duvidar, que pergunte. Thomas Morus, autor da Utopia, publicada em 1516, encontrava-se em Bruxelas, a serviço de Henrique VIII, quando cruzou com Rafael Itlodeo, companheiro de viagens de Américo Vespúcio (que, para ódio de Colombo, deu o seu nome ao nosso Continente). Após falarem de navegações, Morus perguntou a Itlodeo se convém que um homem livre e culto seja conselheiro do rei. O navegador respondeu que é uma perda de tempo, pois os reis não escutam conselhos, obcecados que estão em aumentar seus poderes. Os únicos conselhos acatados são os que concorrem para este objetivo. Suscetíveis, os governantes sempre suspeitam de quererem roubar-lhes espaço. Onipotentes, pretendem governar sem ser governados. Vaidosos, não suportam um espelho que lhes mostre outro rosto. Só não temem os bajuladores que, como tais, não se destacam pela inteligência e, por isso, jamais aconselham, apenas louvam, e encontram justificativas para todos os erros, como se retórica fizesse história. À semelhança da fábula de La Fontaine, quando o líder não alcança os cachos, eles se apressam em alertar que as uvas estão verdes... * Frei Betto é autor de "Uala, o amor"
https://www.alainet.org/es/node/105900
Suscribirse a America Latina en Movimiento - RSS