Ilhéus abrigará, em julho, o 10º encontro das Comunidades Eclesiais de Base

A igreja dos pobres

31/10/2000
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Na roça ou na periferia das cidades, à sombra de uma árvore ou numa garagem, um grupo lê e medita sobre a Bíblia, associa os fatos da fé aos fatos da vida, canta salmos, recebe o Senhor vivo na eucaristia e compromete-se a lutar por justiça. São todos leigos cristãos. Em todo o Brasil, esses grupos, conhecidos como Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), existem desde o início dos anos 60 e são, hoje, cerca de 80 mil, segundo o Centro de Estatísticas Religiosas e Investigações Sociais (CERIS). Estufas de formação de lideranças populares, as CEBs nos deram Vicentinho e João Pedro Stédile, Luiza Erundina e José Rainha, Marina da Silva e Chico Mendes. Há quem diga que as CEBs já não têm a mesma importância demonstrada nos anos 70/80. Ora, sob o regime militar, eram praticamente o único movimento social de contestação a atuar na legalidade. Com a redemocratização do país, passaram a integrar o amplo leque de movimentos populares que, em abril, resgataram o significado histórico dos 500 anos de Brasil. De 11 a 15 de julho, cerca de 3.000 representantes das CEBs, acompanhados de uma centena de bispos, estarão reunidos em Ilhéus, para o 10º encontro nacional. O tema será: "CEBs: Povo de Deus, 2000 anos de caminhada". Além do jubileu cristão, as CEBs farão memória dos 500 anos de Brasil e dos 25 anos de seus encontros nacionais, chamados "intereclesiais". As CEBs são um novo modo de ser Igreja e um novo modo de a Igreja ser, a partir dos pobres. Nem todos os participantes vivem em condições de pobreza, mas o direito dos pobres centraliza a sua espiritualidade. Não se restringem à animação da fé. Na linha do amor ao próximo, criam projetos alternativos para minorar o sofrimento do povo: cooperativas de trabalhadores (RS); associações de quebradeiras de coco babaçu (MA); casas de farinha e de moinhos comunitários (CE); associações de vendedores ambulantes (BA); pré-vestibular para negros e carentes, e clubes de mães (RJ); cooperativas de costureiras (PB); construção de casas em mutirão (SP); fundos de apoio ao artesanato popular (SC); organização dos seringueiros (AC); farmácia comunitária e formação de agentes populares de saúde (vários estados) etc. Em centenas de municípios, os militantes das CEBs fazem sair do papel os conselhos da criança e do adolescente; de saúde; de educação; e o orçamento participativo. Na Igreja, reativam a presença dos leigos nos ministérios do batismo e da eucaristia, da catequese e do matrimônio, na animação do culto e das pastorais sociais. Sem eles, as Campanhas da Fraternidade, na Quaresma, não teriam o mesmo impacto, nem o Grito dos Excluídos teria eclipsado o caráter castrense do 7 de setembro. Desde que surgiram, há 40 anos, as CEBs criaram uma sólida estrutura de sustentação: o CEBI (Centro de Estudos Bíblicos) que, por efeito multiplicador, oferece cursos de capacitação bíblica a leigos; o CESEP (Centro Ecumênico de Evangelização e Serviço à Educação Popular) que, em São Paulo, ministra cursos a militantes do Brasil, da América Latina e da África; os Cursos de Verão, realizados em várias capitais e que promovem atualização teológica. Em São Paulo, por exemplo, ocorrem no mês de janeiro e são freqüentados por mais de 1.000 militantes, vindos de todo o país; quem mora na cidade hospeda aqueles que vêm de fora. As CEBs são auto-sustentáveis. Os participantes do encontro serão hospedados por famílias de 14 bairros de Ilhéus e dois de Itabuna. As comunidades do Mato Grosso do Sul doarão os lençóis; os talheres serão oferta de Tocantins, Goiás e Distrito Federal; copos descartáveis e sacos de lixo virão de Santa Catarina; pastas e canetas, do Rio Grande do Sul; cartazes, faixas e painéis, de São Paulo, Paraná e Ceará; as velas litúrgicas chegarão do Piauí; cancioneiros e toalhas de banho, da Bahia e de Sergipe; sacolas para carregar o material e livretos, do Maranhão; coletes de identificação das equipes de serviço, de Minas; material de secretaria, de Rio Grande do Norte, Pernambuco, Paraíba, Alagoas, Rio Grande do Sul e Espírito Santo. Artistas de Maragogipinho (BA) modelam em argila 1.500 peças litúrgicas (cálices, patenas, talhas etc.) a serem usadas nas celebrações. A Missa da Terra Sem Males, preparada pelas CEBs indígenas de Minas, terá lugar dia 14. Na celebração final, no dia seguinte, cerca de 20 mil pessoas, romeiros das CEBs da Bahia, receberão envelopes com sementes de flores, preparados por crianças e jovens das CEBs daquele estado. Cerca de 1.300 pessoas, organizadas em dez equipes de serviço, já trabalham para o êxito do encontro. Batas litúrgicas, saias de retalhos e flores de papéis estão sendo confeccionadas por mulheres de Ilhéus e Valença. Delegações dos estados levarão alimentos não-perecíveis, além de recursos financeiros obtidos, em suas regiões, com quermesses, espetáculos culturais e até venda de cartões telefônicos com a logomarca do evento. Uma campanha financeira nacional ­ "10 (reais) para o 10º" ­ recolhe donativos para pagar as despesas. Estarão presentes convidados das Américas Latina e do Norte, África e Europa, delegações evangélicas e indígenas, e representantes das religiões afrobrasileiras. Participarão sessenta assessores (teólogos, liturgistas, pastoralistas, indianistas e cientistas sociais). Nos dias que antecedem o encontro, Ilhéus abrigará quatro eventos nacionais, reunindo bispos e pastoralistas; nações indígenas; convidados da América Latina; e do MARCA (Movimentos dos Artistas da Caminhada), que reúne militantes vocacionados à arte litúrgica e popular. Os interessados podem entrar em contato com o 10º encontro das CEBs pela homepage www.cebs.com.br e pelo e-mail cebs@cebs.com.br
https://www.alainet.org/es/node/105173
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